De volta para você

Numa noite fria, daquelas em que pedimos para que o outro esteja por perto, ela usa o seu melhor vestido. Não o mais caro, mas aquele que a deixa ainda mais leve, linda e feliz.

Em seguida escolhe seu perfume favorito. Basta apenas uma gota para que ela saiba que aquele é mesmo um grande momento.

Pega a sua bolsa, pendura a tiracolo o que faz com que pareça ter menos idade do que realmente tem. Mas no fundo não é a bolsa a tiracolo que a faz parecer mais jovem: mas o sentimento que carrega dentro de si.

Sai de casa.

Dentro do táxi confere se a chave do apartamento esta lá. Sim.

Ela tem um endereço e uma chave. Um caminho e um destino.

Ao chegar no endereço, agradece ao motorista. E ao descer já percebe a luz pela janela aberta.

Seu coração dispara como se tivesse quinze anos e esperasse seu colega de colégio.

Toma o elevador. Chega ao andar e lê 501 na porta à sua frente.

Restam apenas mais alguns passos para que aquela linda mulher possa ter uma nova oportunidade de ser feliz.

Toma a chave em suas mãos, mas percebe que a porta já estava aberta, esperando por ela.

Ela entra, respira fundo e sente o perfume que ainda está no ar.

Anda um pouco mais e vê sobre a mesa, um par de óculos, uma caneta e um pedaço de papel.

No canto, a cadeira de couro marrom guarda a marca de um corpo como se fizesse questão de mostrar a quem pertence.

Tudo mostra que alguém esteve ali, bem naquele lugar.

Ela anda suavemente e toca aquela caneta dourada com um nome gravado em letras manuscritas como há muito tempo não fazem. Admira os quadros expostos na parede branca, alva. E mais uma vez tem a certeza de que tudo dele é especial: o perfume, o papel, a caneta, a parede.

Da sala é possível sentir o perfume que vem do banheiro. O barulho do chuveiro indica que tem alguém se preparando para ela.

Ela ousa encostar-se na porta para ouvir o barulho da água que cai sobre o corpo forte daquele homem fazendo com que ela se lembre do quanto é bom estar com ele.

A porta se abre e ele surge, lindo, másculo, barbeado. Os cabelos molhados deixam perceber que ficaram mais grisalhos nesse tempo em que estiveram separados. Nesse instante os dedos dele empurram as mexas que insistem em cair sobre os seus olhos.

Seus olhos verdes, castanhos, azulados. São tantas cores que ela nem sabe definir.

Mas o que importa mesmo é o seu olhar, principalmente quando se cruza com o dela.

Dos seus olhares sempre sobram certezas, como a de que foram feitos um para o outro. Não como metade da laranja. Mas como dois amantes que são ao mesmo tempo dois e um só. Com sonhos em comum. Com vida em comum. E muitos caminhos que começarão a trilhar a partir daquele momento e de onde nunca mais irão se separar.

Irene Chaves
Enviado por Irene Chaves em 01/05/2017
Reeditado em 01/05/2017
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