A Gafanhota e o Cubo

– Gafanhota – disse ele, ao mesmo tempo colocando a sua mão sobre a minha e olhando fixamente nos meus olhos, como se estivesse tentando descobrir algum segredo através deles. O vento do ventilador batia em meu rosto e me deixava mais corada ainda, o que começou a me deixar preocupada tanto pelo que o Cubo iria me dizer quanto por como estava a minha aparência –, eu estive pensando muito nesses dias sobre... é...é...você sabe... – desviou o olhar dele do meu e olhou para a minha mão esquerda que, a essa altura, já estava geladíssima.

Não, eu não sei. Pensei na hora. Ou sabia? Bem, a única certeza que eu tinha era que estávamos um de frente para o outro em uma sorveteria lotada de pessoas – um lugar nada romântico. Quando me dei conta desse pensamento, como um impulso tirei a minha mão que estava sobre a dele com receio de encontrar alguém conhecido lá e nos ver daquele jeito.

– O que foi? – o Cubo perguntou, cujo rosto deixava transparecer nitidamente uma certa desconfiança e um pouco de curiosidade.

– Nada – eu disse, olhando para as pessoas – só vamos sair daqui, ok? – peguei a minha bolsa e me levantei, indo em direção à saída da sorveteria.

Olhei para trás e vi o Cubo pagando a conta dos nossos sorvetes, e percebi que duas garotas olhavam para ele de forma maliciosa, uma vez que ele era – e ainda o é – muito atraente. Senti uma ponta de irritação pelo comportamento delas, contudo, o que elas poderiam fazer? Eu que era a acompanhante dele e era para mim que ele há poucos minutos quase ia se declarando.

Peraí, se declarar?!

Como era que eu poderia afirmar uma coisa daquelas se nenhum homem nunca o fez comigo? E ainda mais alguém imprevisível como o Cubo? Só sabia que pensei tanto nisso que quase não percebi que ele estava ao meu lado novamente, e disse bem próximo ao meu ouvido:

– Venha comigo.

E eu fui.

Fui com o coração batendo descompassadamente porque ele pegou na minha mão e entrelaçou os dedos dele nos meus.

Então, fomos de mãos dadas em direção à praça que ficava de frente para a sorveteria.

Assim como dois jovens demasiadamente apaixonados.

Bem, pelo menos eu estava.

Gafanhota Decantus Cabrito
Enviado por Gafanhota Decantus Cabrito em 20/04/2017
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