Descafeinado

E fomos então à cafeteria nova, que era uma das poucas opções na cidade para quem queria consumir café descafeinado fora de casa. Ao fazer o pedido, perguntei qual era o processo utilizado para descafeinar os grãos servidos ali, e o barista, orgulhosamente, informou-me ser o método suíço.

- É seguro - traduzi para minha acompanhante. - Significa que usaram água para extrair a cafeína dos grãos. Nada de produtos químicos.

Ela não estava convencida, contudo.

- Para mim, vai ser um "espresso" mesmo. Não toquem na minha cafeína!

Com nossas xícaras de café e um prato de croissants, sentamo-nos numa mesinha num canto.

- Café sem cafeína, para mim, é como "Star Trek" sem klingons - justificou-se ela. - Não tem graça!

Respondi que apenas a cafeína era removida, não o sabor, o aroma e outras substâncias. Não era "menos" café.

- E porque você começou a tomar café descafeinado? - Questionou ela.

Desde que haviam começado os problemas de insônia, respondi. Oh, claro, eu também reduzira a quantidade de xícaras consumidas durante o dia. Mesmo descafeinado, o café ainda continha uma pequena porção de cafeína: não existia nenhum método que removesse 100% da substância dos grãos.

- Para alguém que escreve, seria impossível prescindir de café, não é mesmo?

Acho que algumas pessoas ainda têm essa imagem do escritor com um bule de café ao lado. No meu caso, especificamente, o hábito de tomar café estava ligado muito a mais a fazer uma pausa e reorganizar os pensamentos. O café não era meu combustível.

- Ainda bem. Imagine se você tivesse que abrir mão completamente do café, por problemas de saúde...

Provavelmente, eu teria que encontrar uma outra maneira de por os pensamentos em ordem. Talvez, sair para caminhar. Dar uma volta com o cachorro...

- Mas você não tem cachorro - disse ela. E depois, abrindo um sorriso:

- Ah... mas eu tenho!

[09-04-2017]