ANTÍTESE, UMA HISTÓRIA DE AMOR

Ele: quieto. Mais de três pessoas para ele era multidão. O melhor lugar do mundo era sua casa, o refúgio de sua biblioteca, livros espalhados pelo chão numa desordem que ele amava. Se era obrigado a comparecer numa festa, ficava pelos cantos, respondendo por monossílabos a quem lhe dirigisse a palavra, olhando para a porta da saída como quem observa os portões do paraíso. Vivia com a cara enfiada em um livro ou carregando toneladas deles e sem um exemplar na mão, sentia-se como se estivesse nu. Nos sebos, era praticamente recebido com tapete vermelho.

Ela: irrequieta. Multidão era sua praia. O melhor lugar do mundo não era a sua casa, mas a porta da rua, as festas badaladas, os shows lotados, a azaração nos bares da moda. Bocejava só de ler o título de um livro e suas parcas leituras resumiam-se às revistas de fofocas sobre celebridades, com muitas fotos e quase nenhum texto. Capaz de varar a noite numa balada e ainda encontrar fôlego para uma praia na manhã seguinte.

Conheceram-se na festa de lançamento do livro de um amigo em comum.

Ele pretendia pegar seu exemplar autografado e dar o fora.

Ela só entrou na fila de autógrafos por que todo mundo fazia isso. Seu verdadeiro interesse era a festa que haveria em seguida.

Foram apresentados pelo amigo escritor.

Ele, que pretendia sair logo, acabou ficando a noite toda, encantado por aquela moça tão bonita e tão expansiva.

Ela, que viera ali por todos os motivos menos pelo livro, descobriu-se enlevada pelas palavras daquele rapaz tão culto. Prometeu a si mesma que dali em diante ia ler mais livros. Pelo menos as primeiras vinte e as dez últimas páginas, para poder comentar depois com ele.

Ele – quem diria – sabia conversar!

Ela – como sempre – falando pelos cotovelos. Mas agora com conteúdo.

Trocaram telefones. Adicionaram-se no Facebook. Começaram a sair e menos de um mês depois estavam morando juntos.

Não foram felizes para sempre: a vida não é um conto de fadas, pois estes não mencionam as dificuldades financeiras. O ciúme patético. O mau humor masculino. Os três dias de megera que toda mulher tem a cada mês.

Mas provaram que às vezes os opostos se atraem.

*Este texto foi escrito pela primeira vez para um exercício criativo de Literatura no segundo grau (faz tempo!). Só corrigi alguns erros.