...e o Amor chegou com a primavera
...E o Amor chegou com a Primavera
O ano é 1996, (Bernadéte Maria de Oliveira), conhecida pela família e pelos amigos, mais precisamente pela única e melhor amiga (Cristiane Silveira) como Déte. Ela mora com seu padrasto (Moacir Souza), sua mãe morrera com problemas cardíacos quando era criança e seu único irmão (Décio Luiz de Oliveira), mora em outra cidade, a qual mudou-se para trabalhar e estudar, sua relação com seu padrasto não é nada fácil uma vez que Moacir é agressivo, consome muita bebida alcoólica e o que é pior nutre um terrível sentimento pela enteada, que é claro jamais correspondeu, levando em consideração o fato de que ele era casado com sua mãe e até certo tempo o tratava como pai. Mesmo com a vida difícil, Déte se permite sonhar, é romântica e usa o fato de trabalhar como atendente do pequeno correio na pacata cidade em que mora, chamada Planalto Verde no interior de MT, para passar o tempo escrevendo cartas anônimas para rapazes os quais ela admira e acha bonitos; certo dia foi ao correio um rapaz chamado (Gilmar Menezes), que trabalhava como gerente em uma madeireira próxima a cidade, Déte ficou completamente encantada por ele á primeira vista, tanto que não pensou duas vezes e decidiu escrever uma carta anônima para ele que dizia:
-Olá! meu nome é Monalisa, tenho 19 anos, quando te vi pela primeira vez fiquei impressionada com você, te achei muito bonito e simpático, você parece ser muito inteligente, sério, enfim o tipo de homem que eu sonho em namorar. Por favor, responda essa carta me dizendo se tens namorada ou se é casado? Aguardo ansiosamente sua resposta.
No momento em que acabará de escrever a carta, Cristiane chega de surpresa no correio:
-Oi amiga, vim a cidade fazer meu exame periódico e resolvi passar aqui conversar um pouco contigo, o que é isto ai que você escreveu?
-Não é nada, só uma bobagem sem importância.
-Hum, deixa eu ler? é um poema?
-Não Cris, é só um pensamento.
Não teve jeito por mais que Cristiane insistisse Déte não deixou a amiga ler sua carta.
-Está bem! então vou voltar para o trabalho, se não meu patrão pega no meu pé, até mais.
(Cristiane também trabalha numa madeireira como secretária.)
No dia seguinte, Gilmar voltou ao correio para pegar suas correspondências e levou junto a carta de Déte, que ao vê-lo novamente ficou nervosa e quase não conseguiu esconder sua aflição.
Anoite, como Moacir trabalha em seu pequeno bar, Cristiane aproveita para visitar Déte, visto que ele não gosta que a enteada receba suas amigas em casa.
Cristiane diz: -Oi amiga!
Déte: -Oi tudo bem?
-E aí que horas que seu padrasto chega?
-Por volta das 23:30, agora é 20:28 dá pra gente conversar bastante.
-E então vamos no baile da escola sábado?
Haveria um baile para arrecadação de verbas para a festa de formatura do segundo grau daquele ano.
Déte respondeu:
-Não Cris, não vou ao baile.
- Más por que Déte? aliás você nunca sai pra lugar nenhum por quê?
- Por que eu não gosto de sair, você sabe disso!
-Não gosta ou seu padrasto não deixa?
-Não começa com essa história Cris, vou passar um café pra nós
Cristiane não desistiu e seguiu Déte até a cozinha dizendo:
-Déte você sabe que eu só quero o seu bem, você nunca sai, é sempre de casa pro correio e do correio pra casa, e quando estudávamos era de casa pro colégio e do colégio pra casa, além disso não se arruma, pelo contrário parece que você se esforça para ficar feia.
-Não. eu só não gosto de maquiagens e roupas degotadas, só isso.
-Sei e você prefere então usar calça Jeans maior que o seu número, o cabelo sempre preso e o que é pior, nem creme pra espinhas você usa.
-Cris você está sendo indelicada!
-Indelicada não, eu só quero que você se dê um pouco de valor. E tem mais, eu sei que você tem medo do Moacir, eu só não sei porque.
-Você não sabe o que está dizendo Cris.
-O que é Déte? que segredo é esse que você esconde? porque esse medo dele?
-Não tem segredo nenhum Para com essa paranoia.
-Eu não sou idiota Déte, me fala a verdade.
-Cris eu acho bom você ir embora, o Moacir já está pra chegar, e eu não quero que ele te veja aqui.
-Tá bom, mas nós ainda não terminamos este assunto. Boa noite!
-Boa noite!
Quando Cristiane estava saindo, Moacir chegou, há viu e foi logo interpelando Bernadéte:
-O que essa menina estava fazendo aqui?
-Nada demais, ela só veio me visitar
-Você sabe que eu não gosto destas visitas, que esta seja a última vez!
Enquanto Moacir foi tomar banho, Deté foi pro seu quarto e trancou a porta com chaves, como faz desde seus 16 anos... Data em que algo terrível aconteceu, mais que ela esconde em segredo até agora.
Os dias foram passando sem novidades, até que numa certa manhã, ao abrir o malote que havia chegado na noite anterior, Déte encontrou uma carta resposta de Gilmar, a qual ele havia postado de outra cidade vizinha que no envelope dizia: Para Sra. Monalisa.
-Não sei quem você é, nem se esse é seu verdadeiro nome, más quero que saiba que tenho compromisso, tenho noiva e pretendo me casar em breve, más se você quiser marcar um encontro para nos conhecer eu aceito, afinal fiquei curioso, más de ante mão eu te aviso não existe a menor possibilidade de eu terminar meu compromisso com minha noiva, espero que você entenda.
Assinado: Zé ninguém.
No momento em que Déte estava quase terminando de ler a carta, ela levou um grande susto, Gilmar chega no correio e por pouco não a flagra, por sorte ela consegue disfarçar, o atende e consegue despacha-lo sem grandes estragos, porém fica bastande abalada e profundamente decepcionada com o que acabara de ler e pensando alto...
-Nossa essa foi por pouco! quase que ele me viu lendo a carta, se é que ele que não viu e disfarçou, isto nunca vou ficar sabendo, o fato é que posso perder meu emprego por causa destas cartas anônimas, tenho que tomar cuidado.
Mesmo decepcionada com o teor da carta de Gilmar Déte continuou apaixonada por ele, e sempre que o via ficava ansiosa e com o coração batendo forte, no entanto decidiu parar de se corresponder com ele por um tempo.
Anoite, se sentindo triste e sozinha, Déte decidiu visitar Cris, que mora com sua mãe (Carmem Silveira) e seu irmão mais velho (Geraldo Silveira).
-Oi dona Carmem, a Cris está ai?
-Sim, más ela está meio chateada com você, vocês andaram brigando?
-Não foi nada de mais dona Carmem, hoje mesmo nós faremos as pazes a senhora vai ver
-Eu acho bom mesmo, a amizade de vocês é tão longa, tem que parar com essas briguinhas de crianças
Ao ver Déte Cris diz:
-Oi turrona!
-Turrona nada, você é que vê coisa onde não tem!
-Você sabe que tem algo errado entre você e seu padrasto sim Déte, e se você não me contar não precisa mais nem falar comigo.
Ouvindo a declaração firme da amiga, Déte baixou a cabeça, ficou um tempinho calada e então decidiu enfim desabafar:
-Você está certa, existe sim algo errado entre mim e o Moacir, mais do que isso, é ele que me obriga a me vestir como me visto, me proíbe de sair para me divertir, até mesmo de namorar.
-Mais com que direito ele faz isso? Você é maior de idade e ele nem mesmo é seu pai, além do mais você não vai fazer nada de errado!
-Pois é, mais ele acha que sou muito nova pra namorar.
-Não. tem algo a mais que você não quer me dizer, o que é? Somos amigas a muitos anos Déte eu posso te ajudar, me fala ele te ameaça?
-Sim, ele me ameaça.
-E o que ele usa pra te ameaçar, o que te causa tanto medo que te faz obedece-lo?
-Eu não posso te falar, eu não consigo!
-A não, agora que começou você vai até o fim, me conta tudo
-Não posso, outro dia eu prometo que te conto, não fica brava comigo, você é minha única amiga; tenha paciência.
-Ta bom! vou esperar você se abrir comigo, afinal hoje ja deu o primeiro passo
-Agora eu preciso ir pra casa Cris, antes que o Moacir chega e não me encontre lá, amanhã conversamos mais. Boa noite!
-Boa noite amiga, vá com Deus!
Chegando em casa, Déte se surpreendeu ao ver que Moacir havia Chegado primeiro e irritado com a ausência dela já foi logo atacando:
-Onde você estava sua irresponsável? já são quase meia noite
-Eu fui na casa da Cris Moacir, ela é minha única amiga e eu preciso de alguém pra conversar as vezes
-você devia é se preocupar com a casa que está uma bagunça, isso sim
-Amanhã cedo eu limpo tudo antes de ir para o trabalho
-Que esta seja a última vez que saia a noite, não brinca comigo Bernadete, você sabe do que eu sou capaz.
Ouvindo isto, Déte entrou em seu quarto, trancou a porta, deitou em sua cama e chorou até o amanhecer, no outro dia levantou bem cedo limpou toda a casa e foi para o trabalho e no correio...
-Bom dia!
-Bom dia Cris
-E ai tem alguma correspondência lá pra empresa?
-Tem sim vou pegar
Enquanto pegava as correspondências para Cris, Gilmar chega ao correio e Cris percebe imediatamente a reação apaixonada de Déte, por tanto quando o rapaz vai embora ela logo pergunta:
-O que foi aquilo? não me diga que está apaixonada por esse cara?
-Que ideia Cris, eu nem conheço esse cara
-Não conhece, mais o vê todos dias
-Sim, mais isso não significa que......tá bom eu admito, eu acho ele muito atraente, mais é só isso, até porque ele está de casamento marcado, mesmo que eu não fosse feia e tudo mais não teria a menor chance com ele.
-Hum e como sabe que ele está de casamento marcado? vocês já conversaram, estão íntimo a este ponto? você não me disse nada.
-Que Íntimos o que, conversamos por carta
-Como assim, conversaram por cartas? morando na mesma cidade, isso é novo pra mim
-Sim, por cartas anônimas
-Oi? pera ai, carta anônima, que bagulho é esse amiga?
-A é uma tática que eu uso para conversar com um rapaz, quando acho interessante rrrsss
-Se tá brincando, e eles respondem?
-Sim, respondem.
-Gente! eu estou passada, e como vocês fazem?
-A Cris, é simples, eu escrevo a carta com um pseudônimo, escrevo o nome dele no destinatário e quando ele vem buscar suas correspondências, leva a carta anônima junto.
-rsrsrsr e com o Gilmar como foi?
-Da mesma forma, lembra aquele dia que você me viu escrevendo algo e pediu pra ler e eu não deixei
-Sim!
-Pois então, era a carta pra ele, más já te digo logo ele respondeu com muita frieza sabe, dizendo que era noivo e que não pretendia romper seu noivado por nada e nem ninguém!
-Cruzes! que idiota.
-E mais, insinuou que mesmo assim, poderíamos nos conhecer sem compromisso, pois havia ficado curioso.
-Más que cafajeste, desencana deste cara amiga, eu conheço ele, vai sempre la no escritório, tem negócios com meu patrão, é antipático, soberbo e ignorante.
-Pois é, o pior é que eu acho que estou apaixonada por ele!
-Paixão platônica você quer dizer, sem o menor futuro.
-Será que não vale a pena eu tentar mais um pouco Cris?
-Claro que não. Se você quer continuar essa fantasia de conversar com garotos interessantes ao seu ver, vá em frente, más vá por mim espera o cara certo, uma hora ele aparece.
-Tá bom vou seguir seu conselho.
-Bem, agora tenho que voltar pro escritório, mais tenha certeza, esse Gilmar é fria esquece ele tchau.
-Tchau vai com Deus!
O tempo foi passando e Déte foi aos poucos esquecendo sua paixão por Gilmar, afinal ela já havia tido outras paixonites que a exemplo desta, também não deram em nada, mais numa certa manhã, Déte estava sentada frente sua mesa no correio lendo um livro, quando de repente ouviu uma voz:
-Bom dia!
Ela estava muito concentrada no romance que estava lendo, por isso não viu quando Julio Cesar entrou
-Oi bom dia! em que posso ajudá-lo?
-Eu quero postar esta carta pra minha mãe que mora no MS, você tem ideia de quanto tempo demora para chegar lá?
-Bem, amanhã de manhã já fecho o malote e despacho, ai depende do serviço de despache das outras cidades, más não deve demorar muito não.
-Está bem, obrigado! você é muito simpática
Ao dizer isso Julio saiu, e Déte pensou alto:
-Simpática, mais feia!
Déte não pode negar que Julio era um rapaz muito bonito, bem diferente de Gilmar, mais jovem; do tipo que gosta de festas, farras e namorador, ou seja em sua percepcão, seria o tipo de rapaz menos indicado para ela. Algum tempo depois Julio voltou ao correio para saber se havia alguma correspondência pra ele, e mais uma vez, Déte sentiu seu coração bater mais forte e constatou que sua presença há deixava muito mexida.
Dias depois na casa de Cris, Déte desabafou:
-Amiga nem te conto
-Hum conta sim, conte-me tudo, não me esconda nada rrss
-Acho que estou apaixonada novamente!
-Jura! por quem?
-Por um garoto que trabalha no mercado São Miguel, o nome dele é Julio Cezar.
-Hum e ele é bonito?
-Lindo, moreno claro alto e malhado
-Hum se é assim, ja deve estar cheio de pretendentes, se você quiser eu tento descobrir algo sobre ele
-Quero sim
-Tá bom, assim que eu saber eu te passo o relatório.
E como prometido, Cris pesquisou a vida de Julio e concluiu o que ja suspeitavam, ele era muito paquerador e festeiro, e o que era pior era novo e novidade na cidade, de modo que muitas garotas disputavam para ficar com ele.
Ao ter estas informações, Cris tratou logo de avisar Déte
-Pois é amiga você estava certa, o Julio Cezar não é pra você.
-Mesmo assim eu vou escrever uma carta pra ele Cris, nem que seja por brincadeira, e ver como ele reage
-Ta bom vai em frente, quem sabe rola alguma coisa, ele é bonito em! vale a pena
Na mesma hora, Déte escreveu uma carta para Julio com o pseudônimo de Marcela, e deixou junto com as correspondências do mercado São Miguel, a cada dia ia um funcionário para pega-las e neste não foi diferente, uma garota chamada Ritinha é quem foi ao correio, curiosa, Ritinha examinou as correspondências ele logo perguntou:
-Quem é essa Marcela que mandou esta carta para o Julio Cezar?
-Eu não sei, foi colocada por debaixo da porta já com o selo, assim como muitas outras pessoas fazem
-Hum! tem certeza que você não sabe quem foi que postou esta carta?
-Eu ja disse que não, e mesmo se soubesse não diria, pois ao que me parece, se a pessoa não quis ser vista, é porque este assunto é de caráter confidencial.
Ouvindo isto, Ritinha saiu sem insistir mais, porém menos de 30 minutos depois, Julio apareceu no correio muito ansioso e foi logo questionando Déte em relação a carta
-Moça, eu preciso saber quem postou esta carta, você pode me dizer por favor!
-Não. Eu não sei. Como já disse para a menina que veio buscar as correspondências do mercado, quem postou esta carta, já trouxe selada e colocou por debaixo da porta, este é um procedimento normal, já que não temos a caixa de correio.
-Tudo bem! obrigado e desculpa qualquer coisa!
-Por nada
Déte ficou nervosa e constrangida com aquela situação, pois ela teve impressão, de que Julio sabia que ela era a autora da carta, com tudo, ele nunca respondeu, deixando tal dúvida pairada no ar.
Anoite, contrariando a ordem de Moacir, Déte foi a casa de Cris para colocar os assuntos em dia e Cris claro, quis saber como tinha sido o contato com Julio
-Então amiga, escreveu para o garoto do mercado?
-Sim escrevi.
-E como foi?
-Ha! primeiro foi a antipática da Ritinha pegar as correspondências e já quis saber quem havia levado a carta destinada ao Julio, é claro que eu não disse, depois foi o próprio fazendo a mesma pergunta
-E ai?
-Aí que eu dei a mesma resposta aos dois né? que a pessoa que postou a carta colocou por debaixo da porta, certamente porque não quer ser identificada
-Bem, então ele deve ter se convencido que tem uma admiradora secreta rrss
- Talvez, más eu acho que ele desconfiou que foi eu
-E por que você acha isso?
-Porque as vezes que ele foi no correio, eu fiquei perturbada e ansiosa, deve ter notado minha atração por ele
-Será? bem, pelo sim e pelo não, você só saberá com o tempo.
-Verdade, até porque não vou desistir, se ele não responder logo, escrevo outra carta rrss
Déte e Cris conversaram tanto, que nem viram o passar das horas, com isto, Déte chegou novamente tarde em casa, ja passava da meia noite, seu padrasto a esperava muito irritado e bêbado, esta por tanto, foi uma das piores noites de sua vida, ao entrar em casa, Moacir veio em sua direção dizendo:
-Eu já não falei, que não quero ver você andando por ai anoite, sua sem vergonha!
Dizendo palavras grosseiras e raivosas para a enteada, Moacir agrediu Déte, com tapas, derrubou-a no chão e a chutou várias vezes, deixando a menina muito machucada
-Agora vê se aprende a me obedecer.
Minutos depois, sentindo muita dor física e psicológica, Déte levantou-se, entrou em seu quarto e trancou a porta como de costume, no dia seguinte, não foi trabalhar por causa das marcas deixadas pela violência de Moacir, más sim pra casa de sua amiga, a qual poderia contar, quando chegou Cris percebeu de cara, o que havia acontecido
-Meu Deus! o que o crápula do Moacir fez com você minha amiga?
Chorando muito, Déte abraçou Cris e desabafou:
-Ontem, quando cheguei de sua casa, ele estava bêbado e furioso com minha ausência e me agrediu com tapas e ponta pés, me falou horrores e me ofendeu muito
-Déte, este cara é um mostro, você tem que denunciá-lo imediatamente.
-Eu tenho medo Cris!
-Medo de que? o pior já aconteceu, ou ele fez mais alguma outra coisa contra você
-Lembra quando eu te contei que ele não me deixava sair de casa, fazer amizades, me obrigava usar roupas feias e me proibia de usar maquiagens?
-Sim claro que lembro, afinal o que aconteceu? o que ele usa pra fazer com que você o obedeça?
-Quando eu tinha 16 anos, ele tentou me violentar, eu ja temia que ele pudesse fazer isso, porque a tempos vinha me assediando, me fazia declarações de amor, dizia que queria se casar comigo!
-Que horror!
-Sim é realmente um horror, pois ele se casou com a minha mãe quando eu era bebe, me criou como filha, foi muito difícil para mim aceitar que o carinho que eu tinha por ele havia se tornado Repulsa.
-E por que você não o denunciou?
-Porque na noite em que isso aconteceu, ele estava muito bêbado e com medo do que ele podia fazer, eu escondi uma faca debaixo do colchão, então quando acordei com ele me agarrando e tentando me despir, eu o empurrei e no desespero nem tentei fugir, peguei a faca e desferi contra sua barriga
-Más e ai? ninguém ficou sabendo disso, nem seu irmão?
-Não, o Décio já havia ido embora pra capital
-Ele não se preocupou em deixar você sozinha com seu padrasto? não quis leva-la com ele?
-Não. Nós confiávamos muito no Moacir Cris, ele sempre foi carinhoso e dedicado, fazia todas as vontades do Décio
-Mesmo assim, ele nuca veio te visitar?
-Só uma vez, mais a gente se comunica por carta
-Mais então, o que aconteceu depois que você feriu o Moacir?
-Eu fiquei muito assustada e me tranquei no banheiro, porque ele não chegou ficar inconsciente, tanto que escondeu a faca e ainda aguentou até o dia seguinte, para ir ao ps pra dar pontos no ferimento e receber medicação
-E o que ele contou para justificar o acontecido?
-Ele inventou que tinha sofrido um assalto no bar e ficou por isso mesmo
-Nossa, que história horrível!
-Pois é, a partir daí, eu mandei trocar a fechadura e passei a dormir sempre com uma faca debaixo do colchão e ele nunca mais entrou no meu quarto, porém me ameaçou, dizendo que se eu não obedecesse suas ordens ou o-denunciasse, entregaria a faca para a polícia que com minhas digitais, certamente eu seria presa
-Agora entendo tudo, mais você não pode mais se calar, tem que acabar com esse sofrimento e denunciar esse bandido.
-Mais ele ameaçou entregar a faca pra polícia e inventar outra história, que eu queria ir para uma festa e que ele não deixou por eu ser menor de idade e que eu fiquei descontrolada, que era muito rebelde etc. por isso o ataquei
-Será sua palavra contra a dele, você teve medo porque não conseguiu ver os fatos com clareza durante todo este tempo, mais é simples, você foi a vítima ele o agressor, o atacou em legítima defesa
-Você tem razão!
-Vamos fazer a denúncia, eu acompanho você até o posto policiál
...E assim aconteceu, Déte foi junto a amiga fiel e corajosa, relatar a polícia tudo o que sofrerá nas mãos do padrasto, alcoólatra e perverso.
-Pronto amiga, agora é só esperar a atuação da polícia
No mesmo dia, Moacir foi detido pela recente agressão e tentativa de estupro, contra Bernadéte
(Na época estupro sem o ato sexual consumado, não era caracterizado como tal.)
A vida seguiu para Déte, no entanto é óbvio, ela não conseguiu esquecer tudo o que havia passado, não mudou seu estilo de viver e se vestir, pelo contrário, ficou ainda mais apagada e solitária, entre tanto sua amiga, não desistiu de traze-la de volta a vida:
-Bom dia amiga!
-Bom dia Cris! não foi trabalhar hoje?
-Não, o Ibama está fazendo fiscalização e meu patrão viajou, deixando ordens para dizerem que está sem secretária, pra tentar protelar a regularização da empresa.
(Na época, esta prática era comum entre os madeireiros da região, para tentar burlar a lei e impedir a atuação do Ibama, evitando pagar multas.)
-E aí vamos sair sexta-feira, abriu uma choperia nova lá na avenida, dizem que é ótima e vai muitos gatinhos
-Acho melhor não, não tenho vontade de sair ainda
-Poxa Déte, você precisa se divertir, arrumar um namorado, não pode continuar assim, além do mais sinto falta de uma companhia para sair, sabe que só tenho você de amiga, pelo menos a única em que confio.
-tá bom, você me convenceu, vamos sair sexta feira
-Combinado, hoje é segunda, você tem tempo suficiente para se cuidar e ficar linda e como sexta- feira é pagamento a choperia vai estar cheia rrss
Então, na sexta anoite, Cris passou na casa de Déte para irem a tal choperia, e quando viu a amiga, não a reconheceu, quão grande era a transformação a qual ela havia se submetido
-Gente cadê minha amiga?
-Então como estou?
Perguntou Déte, dando um giro típico de quem está se sentindo o máximo
-Linda, nossa! me amarrota porque eu to passada.
De fato, Déte que era morena clara, olhos verdes, 1.68m e corpo definido, estava muito diferente de outros dias, vestia uma calça santropê, que havia voltado a moda na década de 90, uma blusa preta de alças finas e justinha, um tamanco alto, os cabelos soltos e ondeados, a pele limpa, pois a dias vinha fazendo tratamento com cremes, e estava suavemente maquiada
-Você não disse pra eu ficar linda? pois então, comprei estas roupas e fui ao salão de beleza
-Amiga você vai arrasar!
Então, as duas foram para a lanchonete no centro da cidade, ao chegar escolheram uma mesa na calçada, havia um jovem cantor animando o ambiente com músicas românticas.
O garçom, veio logo atender as garotas, que pediram dois chopes e uma porção de queijo e azeitonas, de repente o jovem músico começou a cantar (Pobre Menina), no mesmo instante, Déte ficou calada e triste, pois havia se identificado com a canção. Cris, sempre bem humorada, tratou logo de animar a amiga:
-Ei que carinha é esta? sorria você esta sendo filmada kkkk
Déte sorriu, olhou para o lado e se surpreendeu:
-Olha quem está chegando Cris
Era Julio Cezar, o qual Déte não o via há algum tempo, pois ele tinha se ausentado da cidade por vários meses, mais por motivos financeiros, acabou voltando á trabalhar no mercado São Miguél.
Então Cris falou:
-Poxa! ele está ainda mais bonito!
-Está mesmo!
Julio, olhou curioso para Déte, como se há conhecesse, mais sem lembrar de onde, deu um sorriso para ela e em seguida foi sentar-se com seus amigos que já o esperavam.
E assim ficaram, Déte e Julio trocando olhares por algum tempo, Cris tentou encorajar a amiga a conversar com o jovem, visto que ele estava sem companhia feminina, o que sugeria que estava sem namorada
-Amiga faz sinal pra ele vir aqui
-Não Cris! se ele não veio até agora, é porque não está interessado, eu quero é ir pra casa.
-Ah já? não. está muito cedo!
-Bom se você quiser pode ficar, eu já vou
-Tá bom! hoje já foi um bom começo, outra noite a gente vem de novo rrss
-Com certeza, eu gostei muito daqui
Então, sem que Julio percebesse, pois havia ido ao banheiro, as amigas pagaram a conta e foram embora, e quando voltou a mesa ficou triste ao notar a ausência delas.
Passado o final de semana, Déte voltou ao trabalho, vestida como de costume, a experiência de se produzir e ficar mais bonita foi boa, porém no trabalho, ela preferia o estilo de sempre.
Então, naquela manhã de segunda-feira, Julio foi ao correio, cumprimentou Déte, olhou firme em seus olhos e disse:
-Intrigante!
Déte perguntou:
-O que disse?
Julio respondeu:
-Tenho impressão de conhece-la
-Sim daqui mesmo, você vinha sempre, depois ficou um tempo sem vir
-É, deve ser
Depois do breve diálogo com Déte, Julio deixou uma carta destinada a (Marcela), nome que ela usou para manter-se incógnita, quando mandou-lhe uma carta, expressando sua admiração e interesse em conhece-lo melhor, e antes de sair pediu:
-Posso te pedir um favor?
-Sim claro!
-Se por acaso a dona desta carta vir busca-la pessoalmente, diz para ela não ter medo de me conhecer, eu não mordo!
Disse Julio com um sorriso nos lábios
-Pode deixar, eu falo sim
Respondeu Déte, ainda mais balançada por ele.
(Para melhor entender, a comunicação que Déte havia estabelecido com Julio, pode-se dizer que é como a prática usada por meio de sites de relacionamento que existe hoje, Julio recebeu uma carta de uma admiradora, usando um nome falso, na internet denominado perfil. A diferença é que ele não respondeu na hora e sim meses depois, é como quando uma pessoa é adicionada e recebe um email ou sms e demora para responder.).
Depois que Julio saiu, Déte imediatamente leu sua carta que Dizia:
(Olá minha admiradora secreta, demorei para responder, porque quando você me escreveu, eu estava compromissado e talvez, pode não parecer mais eu levo a sério meus relacionamentos, agora porém, estou solteiro e gostaria muito de conhece-la, ainda continuo muito curioso para saber tudo sobre você, então se ainda estiver interessada, por gentileza responda-me marcando um encontro, pra vermos no que dá, um beijo com sabor de morango e até mais, aguardo ansioso sua resposta).
Os dias foram passando, Déte, cada vez mais cultivava a intenção de se revelar para Julio Cezar, na certeza, de que algo especial poderia acontecer entre os dois, no entanto algo desagradável estava para acontecer, era a decisão do Juiz em relação a tentativa de estupro de Moacir contra Déte e do ferimento que a mesma fez ao agressor, que poderia ter lhe causado a morte. A pena foi branda para ambas as partes, Déte, foi condenada há alguns meses de prisão em regime aberto e Moacir, em regime fechado por tempo determinado pela lei da época que regulamentava o tipo de crime mencionado.
Então, numa manhã, quando chegou no correio, Déte encontrou uma carta destinada a ela, mais sem remetente, ficou apreensiva, pois o nome do Destinatário era o seu verdadeiro, por isso quando leu a carta ficou muito assustada, era uma ameaça de Moacir que dizia:
(Toma muito cuidado e pensa bem se você quer continuar vivendo a vida assim, saindo com sua amiga vadia e se mostrando por aí como uma vagabunda qualquer, você pode se arrepender amargamente, sofrendo um acidente fatal, ou um assalto seguido de morte, você sabe nossa cidade apesar de pequena, está ficando cada vez mais perigosa. Pensa e decida, depois não diga que não foi avisada.)
Déte foi imediatamente mostrar a carta para Cris, que sem pensar duas vezes disse:
-Vamos agora mesmo na delegacia.
E assim o fizeram, levaram a carta a polícia que disse que iria tomar as providências cabíveis.
Depois disso, Déte recebeu mais duas cartas de ameaça de Moacir com o mesmo teor, e a exemplo da primeira as levou para a polícia, que lhe deu a mesma resposta, iria tomar as providências cabíveis.
Então, numa conversa tensa com Cris, Déte desabafou:
-Estou com muito medo!
-Procura ficar calma amiga, o que você precisa fazer, é continuar soltando seu cachorro anoite, trancar bem as portas e janelas e andar sempre atenta nas ruas, afinal você já foi a polícia.
-Você tem razão, além do mais tenho fé em Deus, e nada de ruim vai me acontecer.
-É assim que se fala.
“O amor está no ar”
Assim, os dias foram passando, até que Déte resolveu criar coragem e marcar seu primeiro encontro com Julio; e escreveu sua última carta anônima. No mesmo dia, como de costume, veio um dos funcionários do mercado São Miguel e levou junto a carta para Julio, que respondeu rapidamente aceitando o encontro e ja sugerindo o dia, hora e local. Mais uma vez, Déte consultou sua melhor amiga.
-Então Cris, o que você acha?
-Amiga, faz o que o seu coração está dizendo.
-Estou muito ansiosa!
-Não fique, afinal de contas, este é um passo que você precisa dar, ja está na hora, com tudo eu não quero influenciar você, por isto repito, consulte o seu coração
E depois de mais alguns minutos conversando sobre outros assuntos, Déte falou:
-Já decidi, vou marcar o encontro com o Julio, eu não vivo dizendo pra mim mesma que eu preciso conhecer alguém? pois então vou começar por ele.
-E eu te Desejo toda felicidade e sorte do mundo.
E assim Déte o fez, respondeu confirmando a data do encontro. Quando chegou o dia estava mais nervosa do que nunca, pois este seria o momento mais importante de sua vida em muitos anos.
-Então como estou?
Perguntou Déte para a amiga fiel e inseparável.
-Está ótima, o Julio vai ter uma surpresa, sim porque eu acho que ele não imagina que você é a mesma garota que ele ficou paquerando aquela noite na choperia
-Hum será? bem se ele imagina que seja, ja é um ponto a meu favor
-Um ponto não. Vários
E como na noite da choperia, Déte estava igualmente bela, desta vez, usando um vestido preto, justo, muito bonito e com decote, o que deixava seu colo sutilmente visível, os cabelos longos, negros e caracolados soltos. E uma maquiagem bem suave destacando sua tez.
Ao chegar no local do encontro, uma pizzaria no centro da cidade, Déte sentiu seu coração pulsar muito forte, ao ver Julio Cezar esperando, muito bem vestido, barbeado e com um corte de cabelo social baixo, porém com expressão de ansiedade, o que nesta altura do campeonato, não era mais problema para ambos. Déte se aproximou e disse:
-Boa noite!
Julio respondeu:
-Boa noite! muito prazer em conhece-la!
-O prazer é meu, mas nós já nos conhecemos
Neste momento, o rapaz, num gesto de gentileza raríssimo hoje em dia, levantou-se, puxou a cadeira para a moça, em seguida respondeu:
-Sério? e de onde nos conhecemos?
Perguntou Julio, fingindo não saber
-Nos vimos uma noite na Choperia Avenida.
-A sim. eu lembro, a gente só se olhou e não conversou.
Julio e Déte, conversaram por algum tempo, até que ele disse:
-Gostei muito de você, quero te conhecer melhor.
Déte respondeu sorrindo.
-Já estamos nos conhecendo.
-O que você faz anoite, estuda?
-Não. Terminei o segundo grau e parei.
-E pretende fazer faculdade?
-Sim, pretendo me mudar para a capital e fazer lá.
-Então você pensa em ir embora daqui?
-Sim, mais ainda não tenho previsão de quando.
-Bem, então enquanto isso, podemos nos ver ás noites. O que acha?
-Podemos sim.
Respondeu Déte, bastante empolgada com o rumo em que as coisas estavam tomando. Depois de muita conversa, Julio a levou em casa, conversaram um pouco mais em frente sua casa, até que se despediram com um leve beijo. Neste momento, Déte sentiu que estavam sendo observados e falou:
-Que sensação estranha, parece que tem alguém nos olhando.
Julio olhou para os lados e disse:
-É, parece que tinha um homem olhando pra nós, ele virou a esquina e sumiu, quer que eu vá atrás dele?
-Não. deixa pra lá, deve ser algum curioso.
Então, Julio foi embora. Déte entrou em casa, trancou bem a porta. Seu cachorro já estava solto no quintal.
Nesta noite, Déte não conseguiu dormir tão cedo, afinal o amor havia chegado para ela, acompanhado pela primavera que também iniciou-se naquele dia.
Passaram-se os dias. Déte e Julio começaram a namorar firme, estavam felizes e apaixonados, ela, sempre compartilhando suas alegrias com Cris. Até que numa noite, após ter participado de um curso de educação financeira, Déte voltava sozinha para casa, pois Julio havia ido fazer uma entrega em uma fazenda distante da cidade. Quando estava descadeando o portão, Déte foi surpreendida, desmaiando rapidamente após ser sufocada com um pano ensopado por uma substância forte. Algum tempo depois, Déte acordou amarrada a uma cadeira, numa espécie de cabana, chamado de barroco, feito por trabalhadores que cortavam árvores para as madeireiras da região, muito assustada ela gritou:
-Socorro! alguém me tira daqui pelo amor de Deus.
-Não adianta gritar. Ninguém vai ouvir você, estamos no meio do mato.
Sob a luz avermelhada de uma vela, Déte olhou horrorizada para o homem que havia dito essas palavras. Era Moacir, que havia fugido da prisão e sequestrado a enteada com o firme propósito de se vingar da moça. No mesmo instante o inescrupuloso padrasto começou a torturar Déte com insultos e agressões físicas, dizendo:
-Agora você vai pagar por ter me mandado pro inferno sua safada!
E a cada ofensa verbal, desferia um tapa na face de Déte.
Entre uma agressão e outra, Moacir enchia um copo de cachaça, e bebia de um só vez, mal sabia ele que essa seria sua perdição. Então, quando ele tentou abusar sexualmente de Déte, a desamarrou e tomada por uma agilidade e força descomunal que aquele terrível momento lhe proporcionara, ela o empurrou derrubando-o violentamente, pegou o litro de cachaça e rapidamente lançou na parte de traz de sua cabeça antes que ele se levantasse, pois como estava bêbado seus movimentos estavam lentos. Assim Déte conseguiu sair do barraco e seguiu correndo muito pela estradinha no meio da mata que levava a rodovia, por sorte o dia ja estava claro, no entanto Moacir conseguiu levantar e mesmo com a cabeça ferida, entrou no carro velho que havia conseguido com a ajuda de um comparsa e seguiu dirigindo com grande velocidade fazendo zig zag, assim no momento em que passou por um trecho que tinha barrancos altos dos lados, não conseguiu controlar a direção do veículo e caiu.
Enquanto isso na cidade, um policial, foi ao correio, para avisar Déte sobre a fuga de Moacir e não há encontrou, conseguiu seu endereço com a atendente de uma farmácia que havia ao lado, foi a sua casa e como também não há encontrou, voltou a farmácia, conseguiu o endereço de Cris e foi avisa-la, ao chegar deixou o recado com sua mãe, dona Carmem. Ao chegar do trabalho Cris foi surpreendida pela notícia dada por sua mãe que falou:
-Filha, um policial veio avisar, que o padrasto da Déte fugiu da prisão, e parece que ela está desaparecida.
Cris, sentou-se assustada e muito intuitiva respondeu:
-Tenho certeza que ele á sequestrou, meu Deus! proteja a minha amiga!
Ao saber do acontecido, Cris foi correndo a delegacia para registrar formalmente o desaparecimento de Déte, assim a polícia começou imediatamente a busca por ela.
Depois de andar vários quilômetros, Déte finalmente conseguiu chegar a rodovia, agora, suas chances de obter ajuda havia aumentado, no entanto, ainda teve que andar muito até conseguir uma carona e quando chegou a cidade, foi direto registrar Boletim de Ocorrência do horror que havia sofrido.
Mais tarde, Cris estava em casa, aflita por não ter notícias da amiga, quando de repente ouviu sua mãe dizer:
-Cris, olha quem está chegando.
E sentindo um grande alívio ela falou:
-Deus é maior!
Neste instante, as duas amigas se abraçaram e Deté desabafou:
-Minha irmã, pensei que nunca mais ia te ver!
Minutos depois, mais calma e após contar para Cris tudo o que havia acontecido, Déte perguntou:
-E o Julio, será que ele sabe o que aconteceu comigo?
Cris respondeu:
-Vou avisa-lo e dizer pra ele ir a sua casa pra vocês conversarem.
E assim aconteceu, ao saber o que havia acontecido com a namorada, Julio foi imediatamente em sua casa e no momento em que á viu, sentiu uma grande emoção e a abraçando muito forte falou:
-Meu amor! que bom que você está aqui.
Então, naquela mesma noite, Julio Cezar e Bernadéte se amaram pela primeira vez, os dois tiveram o momento mais sublime de suas vidas.
Alguns dias depois, Déte estava em seu trabalho, quando um policial chegou e lhe disse:
- Srta. Bernadéte, vim comunicar que foi encontrado o corpo do seu padrasto, o Sr. Moacir Souza, num pedaço de mata fechada, ja em estado de decomposição.
Numa mistura de alívio e piedade, Déte ficou por alguns segundos calada, tanto que o policial perguntou:
-Você está bem?
Ela respondeu:
-Sim, só fiquei um pouco chocada, apesar de tudo, nunca dezejei a morte de ninguém, nem mesmo a do Moacir, mais Deus sabe o que faz.
E assim terminou o calvário de Déte. Embóra todo o sofrimento, conseguiu com o tempo superar e agora só pensava em ser feliz, sem cansar jamais de agredecer a Deus por sua vida.
No final do ano de 1996, Cris, decidiu fazer uma viagem com sua mãe, que a tempos não via os irmãos que moravam no sul do país.
Déte, só pegaria férias em Fevereiro do ano seguinte e Julio, ainda não havia completado um ano de trabalho no Mercado São Miguel.
Na noite anterior á viagem de Cris, Deté, Julio e amiga decídiram voltar á choperia avenida, quando ja estavam se preparando para sair, ouviram uma voz dizendo:
-O de casa!
-Quando saiu para ver quem estava chamando, Déte teve uma alegre surpresa, era seu irmão, Décio, que finalmente resolvera voltar á cidade para revê-la.
-Meu irmão! que alegria, até que enfim você veio me ver, estava com muita saudade.
-Eu também minha querida, mais só agora pude voltar.
-Eu entendo, deixa eu te apresentar: meu namorado, Julio Cezar e minha melhor amiga Cristiane.
Após ás devidas apresentações, embóra cançado da viagem, Décio aceitou o convite para acompanha-los á choperia avenida e lá os quatros se divertiram muito.
-Eu proponho um brinde a felicidade da minha irmãzinha querida e seu namorado.
Disse Décio, olhando firme nos olhos de Cris.
-E eu proponho um blinde á felicidade de todos nós, respondeu Déte.
No dia seguinte, Cris partiu em viagem com a mãe, mais antes de sair despediu-se da grande amiga na rodoviária dizendo:
-Seja feliz com o Julio Cezar, ele é um bom rapaz e vocês tem tudo para viver esta felicidade por muito tempo.
-Eu serei minha querida, mais e você, pretende dar uma chance ao Décio? Ele me confessou que ficou entusiasmado com você.
-Vamos dar tempo ao tempo, quando eu voltar de viagem eu converso com ele sobre isso.
No dia 03 de Janeiro de 1997, Décio voltou para cidade em que morava, anoite Julio preparou um jantar romântico para sua amada, que quando viu a surpresa que o namorado havia feito falou:
-Que lindo meu amor!
-Você merece muito mais minha princesa!
E assim, os dois se beijaram apaixonadamente, trocando várias declarações e juras de amor.
Na manhã seguinte, em seu trabalho no correio, Depois de um tempo olhando fixamente para a rua molhada, pois caía uma chuva fina e fria, Déte pegou uma caneta, abaixou a cabeça e escreveu num pedaço de papel a seguinte mensagem:
-Certa vez, quando eu ainda vivia sob as ameaças de Moacir eu pensei, Senhor! será que algum dia serei feliz?
-Hoje eu sei, que Deus nunca nos abandona, nos ama, nos proteje e reserva para cada um de nós, a felicidade na exata medida que merecemos.
Esta é uma obra fictícia, qualquer semelhança com nomes, personagens e a história em geral, é mera coincidência.
Autor: Jesus Carlos Rocha.