A BELA E A FERA

A Bela e a Fera é um tradicional conto francês de nome "La Belle et la Bête". Escrito por Gabrielle-Suzanne Barbot, em 1740, apresenta uma história de amor entre uma bela mocinha e um monstro, uma aberração da natureza. Há diversas versões para a história, mas basicamente, é isso o que acontece. É o encontro do belo e o grotesco. A menina é bela, não exclusivamente pela aparência, mas pela beleza que carrega dentro de si, pelo universo interno povoado por sonhos e desejos inocentes e autênticos; como viver uma vida de aventuras, conhecer o mundo e dedicar-se à intelectualidade. É. O verdadeiro amor dessa menina está guardado nos livros, o conhecimento. Ou seja, esse perfil feminino descrito no conto se parece muito com perfis de tantas mulheres que almejaram ao longo da história a equidade entre os gêneros. Aparece-nos aqui uma figura de mulher que expõe outra faceta para a tal imanência feminina. Bela é um arquétipo de mulher; de tantas que, por séculos e ainda hoje, alijadas do direito à educação, herança e autoria, guardam a única distinção que lhes cabe, a “dádiva” de ser bela. Talvez por isso, o nome próprio escolhido para a co-protagonista não seja verdadeiramente uma identidade em si, mas simplesmente um adjetivo comum ao gênero. Bela não é alguém em especial e pode ser qualquer uma desde que seja como ela; bela. Daí, quando nos lembramos de que a origem dos contos de fadas é a contação de histórias, ou seja, ele nasce na oralidade e serve basicamente para “educar” mentes pueris sobre os desafios de crescer. E, por que não, ensinar a assumir os tais papeis destinados aos sexos; começamos a desconfiar que essa proximidade entre a menina inocente e a tal fera seja uma espécie de alegoria que esconde em suas entrelinhas os arranjos muito convenientes às famílias, que utilizavam como mercadoria a juventude e virgindade de suas filhas mais jovens em casamentos com homens muito mais velhos e ricos. Lembre-se que nas diversas versões do conto, é Bela quem salva o pai. Ela vem em seu socorro saudar-lhe uma dívida e paga com sua juventude e pureza. Note que o tempo todo a alegoria da flor, que nada mais é que o órgão reprodutor da rosa, está presente na história. Por outro lado, a Fera, no desenrolar do conto, ganha contornos elegantes, afáveis e dóceis. No intuito de se livrar de uma possível maldição, ele seduz coercitivamente a sua pequena presa. Literalmente, refém de seu castelo, Bela é convencida de que existe uma beleza subjacente à aparência de seu carrasco. O desfecho do conto, como em todo conto é o final feliz. O amor vence no final e ambos entregam-se a paixão avassaladora. Mas, quando pensamos o conto como uma alegoria, a coisa muda de figura. Um desconforto nos envolve, pois sabemos que a nossa Bela não ficou com o belo príncipe que surge após desfeito o feitiço. Na verdade, Bela termina sua história de vida com o seu opressor; aquele que lhe tomou a liberdade, os sonhos e a beleza. É um feitiço às avessas, como acontece na síndrome de Estocolmo - um estado psicológico particular- em que uma pessoa, submetida durante um longo tempo à intimidação passa a nutrir simpatia ou até sentimentos como amizade e amor por seu agressor. Ou seja, a semelhança entre fato e ficção não é conto, nem mera coincidência.

Adelaide de Paula Santos em 29/03/2017, às 01:49.

P.S.: Por isso amo tanto Contos de Fadas; há tanta história por trás dessas histórias...e o filme é um meio musical, muito lindo!

Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 28/03/2017
Reeditado em 29/03/2017
Código do texto: T5954869
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