Um fiapo de gente, sempre fora sua descrição, nada sobre a inteligência que tanto se orgulhava ou sua delicadeza natural. Na infância recebeu um apelido que odiava, era um tal pinguinho pra cá e pra lá que até os vinte e tal pouca gente sabia seu nome. Isto começou a incomodar quando todas as outras moças já namoravam e ela parecia invisível, não a tiravam para dançar nas festas, não a convidavam pras baladas, era como se parecesse  ainda menor que seus quase 1, 45 cm.  Explodiu com os pais de estatura normal, um casal de meia idade que ainda viviam como adolescentes: - Porque nunca haviam reparado que ela não crescia?-  Não a levaram a um especialista, não fizeram nada,  era como seu corpo tivesse  parado aos 12  anos de idade.  

Os pais não entendiam ou fingiam muito bem, davam desculpas e elogiavam a filha como se não houvesse nada de errado. Eles a tratavam como se ela inda fosse um menina, mas aos trinta e sete anos Carol  sentia-se vazia, triste e solitária demais. A maioria das amigas estavam casadas, com filhos, namorando ou saindo com alguém. A única coisa que ela fazia era dar aulas nos cursinhos de idiomas e  ficar em casa assistindo canal a cabo enquanto os pais jogavam cartas.  

Um dia viu um anúncio na tv chamando as pessoas para trabalhar como voluntárias nas olimpíadas, pensou, fantasiou um pouquinho, fez as contas das oportunidades de conhecer muita gente bacana  e correu para o computador. Fez inscrição, entrevista e pela primeira vez sentiu-se importante, a moça do comitê  sacudiu sua ficha e alardeou sua condição de poliglota.  
Falando fluentemente inglês, francês, chinês e espanhol, Carol foi logo alçada a uma ótima posição junto aos atletas, a alegria só não era maior porque os pais não compartilhavam sua felicidade. Desta vez ela não se importou, tirou férias e foi viver as olimpíadas, antes mergulhou no salão do bairro e fez uma mudança radical. Louríssima a nova Carolina  pegou o BRT e nem olhou pra trás, ficou direto na vila olímpica como intérprete e assistente de coordenador, conheceu comissões, traduziu muitas conversas, se divertiu com as fofocas típicas do local e quando se deu conta faltavam apenas dois dias para a festa terminar. 

Neste meio tempo fez muitas amizades, no meio das pequeninas atletas sentia-se muito à vontade, todas tinham a mesma estatura diminuta e se orgulhavam do porte que as fazia voar nas barras, solo e toda sorte de aparelhos. Eram tão jovens e tinham sonhos incríveis, competições pela frente, viagens, treinos, medalhas, prêmios... Carol queria ter algo assim, achava sua vida tão chata e sem graça.  

Então aconteceu um olhar mais demorado, um sorriso diferente, e mais  outro,  e outro até que finalmente o  inglês  simpático a convidou para passear no Rio.  E  daí pra frente foram as 24 horas mais incríveis e bem vividas que ela um dia ousou sonhar. Peter não era atleta e sim técnico da seleção inglesa, um dos técnicos,  um pouco mais velho que Carol, apaixonado pelo Brasil e encantado com o calor das brasileiras.  

Seis meses mais tarde mudaram-se para Angra dos Reis, casados e donos de um futuro restaurante  bem pertinho do mar. As pessoas de lá achavam graça no casal tão diferente, mas disfarçavam diante de tanta cuidado  e carinho com que se tratavam. Carol no início também estranhou, depois não deu tanta importância. Peter do alto dos seus quase 1,90 cm havia largado tudo, até a seleção de basquete para ficar com sua pequenina. E estava muito feliz, planejavam se especializar em culinária internacional e quem sabe expandir os negócios. Tinham muito planos.
Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 22/03/2017
Reeditado em 26/03/2017
Código do texto: T5949147
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