[ESTUDO DE ESCRITA]
Na tela o protagonista do filme trocava tiros com um grupo infindável de vilões em uma cena de perseguição eletrizante. Ao redor os espectadores olhavam vidrados para a cena na tela. E ele não conseguia desviar os olhos daqueles lábios que ela mordia levemente de tensão. Sua mente estava tão paralisada com seu desejo de beija-lá que ele nem mesmo conseguia imaginar a cena, e simplesmente ficara contemplando-a.
- O que foi? A Coca cola derreteu a ervilha que te servia como cérebro? - ela brincou, abrindo seu sorriso.
- Eu vou fazer uma coisa, por favor não me bata. - disse ele ignorando a piada.
- Porqu...
Ele avançou e a beijou antes que ela pudesse terminar a frase.
Como toda boa cena de romance, está também foi clichê. Por um momento que nem um dos dois saberia dizer quanto durou, não havia nada além deles dois e do desejo voraz. Os lábios se procurando e se preenchendo. Suas línguas travando uma batalha na qual não havia perdedor. Eles se afastaram ofegantes, com o coração tropeçando acelerado. Quando suas mãos tinham chego no cabelo um do outro?
- Porque fez isso? - ela perguntou, sua voz tremia.
- Porque eu desejava isso há muito tempo. - foi a resposta dele. Havia tristeza em sua voz e seus olhos.
- E porque fez agora? - questionou ela.
"Porque de todos os meu erros monumentais, o pior deles foi admitir que havia me apaixonado por você quando já era tarde de mais." Mas essas palavras jamais saíram de sua boca, elas levariam a outras perguntas e ela saberia que tinha algo errado e ele teria de dizer a verdade, e isso não podia acontecer, era melhor que ela o visse apenas como o tolo idiota de sempre e guardasse aquela lembrança dele.
- Pela mesma razão que não fiz antes, por que sou um idiota. - ele disse olhando para além dela. - Me perdoa.
Ela ficou em silêncio por um tempo, encarando-o com uma confusão estampada em seu rosto enquanto ele tentava fugir de seu olhar.
- Você é mesmo um idiota. - disse ela por fim. - Mais que isso, você está sendo babaca.
- Eu sei. - ele concordou sem olhar para ela. - Me perdoa.
- Não faça mais isso, eu vou me casar, e nós.... - ela não disse, mas ele ouviu as palavras "Nós poderíamos ter ficado juntos, mas você não quis, você realmente foi um idiota". - Não faça isso nunca mais.
- Nunca mais vai acontecer, eu prometo. - ele disse encarando-a tentando forçar um sorriso.
O filme terminou, mas nem um dos dois realmente vou o final. Ela ficou retraída e pensativo, distante não só fisicamente, mas seus pensamentos também estavam longe de seu melhor amigo. Assim como os deles estavam muitos anos no passado quando eles se conheceram e a vida parecia uma grande piada para ambos.
Um beijo rápido no rosto, um tchau inaudível e ela se foi.
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O apartamento estava desarrumado como sempre quando ela entrou, e o quarto tão bagunçado quanto qualquer outro dia, mas era uma bagunça antiga, ele não dormira em casa. "Aquele idiota ainda está se sentindo mau" pensou ela com um leve riso. - Bem feito.
Com um pouco de culpa pela satisfação que sentira, ela se dirigiu a cozinha para comer alguma coisa enquanto ligava para ele.
Diante da geladeira ela parou. Aos poucos o celular em sua mão escorregou e caiu no chão.
Pregados à porta da geladeira estavam um raio x e um bilhete escrito a mão. O raio x era de um crânio com um ponto negro do tamanho de uma bola de gude no lado esquerdo, mesmo sem estudar medicina ela sabia o que era; um tumor maligno.
O bilhete continha apenas três palavras, escritas com a caligrafia que era tão familiar como a sua própria. "APENAS ME PERDOE".