A SUBSTITUTA DA EMPREGADA

A vida para Euber estava acabada, pois o mesmo enfrentava uma crise a qual ele tinha certeza de que não suportaria. Num curto espaço de tempo perdera emprego, sua mulher o tinha abandonado levando seu único filho de 6 anos e ainda que havia sido corneado durante a metade do seu casamento. Thaissa, a esposa, se foi sem deixar uma carta ou bilhete e ainda levara todo dinheiro da poupança, reserva feita por ele para alguma eventualidade.
Agora o que fazer? A pergunta ficava no ar sem resposta alguma. Com seus últimos trocados ele tinha comprado uma caixa de uísque escocês, sua bebida favorita. Já em casa sentado na mesa e com uma das garrafas na mão quase seca Euber tomava coragem para o suicídio e ao mesmo tempo pensava na esposa, o único amor de sua mísera vida. Nisso entra na sala uma jovem sem muitos atrativos físicos e exclama:
– Eu sou Djane, a irmã de Joelza! Fala a moça com simpatia.
– O que houve com ela? Inquire ele curioso.
– Está doente e eu vim ficar no lugar dela uns dias.
– Pois está despedida, eu estou desempregado e não tenho condições para manter uma empregada a essa altura do campeonato.
– Então faça as contas de Joelza e eu levarei o dinheiro,
senhor.
– Como é mesmo o seu nome?
– Djane... porque? Indaga ela arregalando os olhos.
– Venha cá Djanete e beba um pouco comigo! Convida Euber amistosamente.
– Eu não posso seu Euber, eu nunca tomei bebida
alcoólica na minha vida, sou evangélica, responde ela recuando
timidamente.
– Então não precisa beber, basta me escutar Djanira. Sabe eu perdi o emprego, a mulher, o filho, o amigo e a razão de viver de uma só vez. A vida é muito engraçada Djaldina nos dá a felicidade e de repente nos tira tudo de supetão. A Thaissa, aquela cachorra, vadia, prostituta, piranha
me traiu com o crápula do Edno, o meu melhor amigo, era como um irmão pra mim, vivia aqui em casa. Eles eram amantes, safados e eu o cornão aqui era feito de idiota, me matava de trabalhar.
– Lamento, isso acontece, entregue-se para Jesus e tudo mudará...
– Por isso Djalmira eu resolvi que vou me matar aqui e agora e você minha cara substituta da empregada vai presenciar os fatos e depois contar as pessoas os meus últimos momentos.
Num acesso de bebedeira Euber vai até a porta e tranca a mesma dando três voltas na chave e depois retorna e senta ao lado de Djane que estava super assustada.
– Abra essa porta senhor, eu quero ir embora.
– Diga Djalmada quantos anos você tem?
– Vinte e seis... por quê? Não pareço... fala ela trêmula.
– Parece sim, mas diz aí já foi pra cama com algum homem? Quer saber ele colocando a mão na perna de Djane.
– Não, digo não é da sua conta e eu já vou embora, depois Joelza vem pegar o dinheiro.
Djane levanta-se e passa roçando na cadeira de Euber. Nisso ele pega a perna dela, ela puxa duma vez e ele segura seu vestido e solta uma ecoante gargalhada.
– O senhor ficou louco, está possuído esbraveja ela indo até Euber, esmurrando-o por diversas vezes.
– Sim, possuído de tesão e louco por você minha santinha recatada. A sua fisionomia muda e Djane fica apavorada.
Euber começa a olhar estranhamente para Djane que percebendo tudo começa a recuar para longe do alcoolizado tarado e esse por sua vez corre atrás de Djane e consegue  agarrá-la. Ela luta, todavia não consegue livrar-se das mãos grandes de Euber.
Dominada ela não consegue desvencilhar-se do beijo e após uns minutos ela se dar por vencida e libera seus desejos mais profundos e seus instintos mais primitivos e retribui as caricias do seu algoz. No minuto seguinte cai em si e Euber recebe uma sequencia de pontapés. Livre ela corre pro quarto que esta com a porta aberta e se tranca. E procura no guarda-roupa algo para vestir e encontra apenas uma camiseta velha e rasgada. Sem alternativa ela veste e senta na cama tentando se acalmar e pensar como sairia daquela casa agora.
Do lado de fora Euber batia na porta violentamente falando impropérios e implorando a Djane que abrisse, alegando que não ia tentar mais agarrá-la.
– Eu não acredito seu Euber, o senhor é um desequilibrado, um tarado, um pervertido, um servo de satã. Grita ela demonstrando raiva, nervosismo e descontrole.
– Então eu vou me jogar pela janela da sala e ai você será culpada, pois teve a chance de salvar uma vida, de levar uma alma para o rebanho do senhor e quem sabe depois de convertido eu não refizesse minha vida, casasse de novo.
– O senhor fala sério...?
Nisso a campainha toca e Euber cambaleando vai atender. Ele antes procura a chave no bolso e passa a mão no cabelo e ajeita-se tentando parecer o mais pacato dos homens.
– Vamos abra. Grita uma voz grave raivosamente.
– Calma, responde lutando pra colocar a chave no buraco da fechadura.
Finalmente ele abre e ver um rapaz com cara de bravo e com um físico avantajado tipo rato de academia. Este o examina de cima a baixo com um ar de censura e deboche.
– Quem é você? Indaga Euber com a voz titubeante.
– Luis Mário, o noivo de Djane, ela está aí?
– Quem é Djerusa meu amigo? Pergunta Euber evidenciando sua bebedeira.
– A irmã de Joelza, a sua empregada ou também não conhece seu pinguço.
Djane escuta as vozes do quarto e sai rapidamente gritando o nome de Luis Mário.
– Djane esse sujeito disse que você não estava aqui e o que você faz com esse trapo no corpo? A voz de Luis Mário se altera.
– Não vai me dizer que você esta desconfiando de mim, eu é que devia ficar chateada com você, já que estamos noivos há 10 anos e você sempre me enrolando, fora isso tem a sonsa da Rosângela que não sai do seu pé.
– Ora você está é tentando desviar o assunto pra não dizer o motivo de você está assim.
– Quer saber mesmo intromete-se Euber, a gente tava transando quando você chegou, grudados feitos cão e cadela no cio, seu rei das bombas, depósito de anabolizante.
Luís Mário perde o controle e esmurra Euber que cai e perde os sentidos aos pés de Djane, deixando a desestabilizada emocionalmente.
– Por que você fez isso? Não percebe que ele está mentindo... o que houve aqui é que essa pobre alma perdeu a mulher, o filho, o amigo e o emprego e por isso resolveu se matar coitado. Bebeu demais e num acesso de loucura tentou me agarrar e na minha luta pra me ver livre de suas garras perdi meu vestido. Quando consegui me desvencilhar corri
para o quarto mais próximo e me tranquei daí achei essa camiseta velha e vesti, foi isso seu maldoso.
– Eu não acredito, essa história parece por demais fantasiosa, por acaso está escrito aqui idiota na minha testa.
– Você é um cretino e covarde, não devia ter batido assim com tanta força nessa alma atormentada, desviado do caminho do senhor, pobre homem, afinal ele estava bêbado, abandonado, amargurado, sozinho, desiludido, infeliz, que só precisa de luz e orações.
–Sabe do que mais eu estou de saco cheio disso tudo,
na verdade vim aqui terminar esse noivado ridículo. Quer saber mais você não passa de uma chata, baranga, rata de templo, baba ovo de pastor, frígida, nem pra transar você presta. Sabe por que até hoje não casei contigo? Porque se fizesse isso minha vida se transformaria num inferno.
– Seu filho duma puta... viado... desgraçado...
– Sabe de outra eu estou mesmo com a Rosangela sim, aquela gostosa, boa de cama, faz boquete gostoso e transa feito uma prostituta, isso que é mulher.
– Eu vou te matar, com essas palavras Djane quebra a garrafa que está no chão e aponta para o noivo.
– Você não mata ninguém, tem até medo de barata, quer um conselho fique com esse alambique ambulante, esse pé de cana, pinguço duma figa. Eu vou é embora, tchau. Com essas palavras Luís Mário sai batendo a porta com força.
Djane fica zonza de ódio e descontrolada e feito um zumbi pega uma garrafa que estava sobre a mesa cheia e vira na boca de uma vez, ela engole a metade e a outra cai em cima de Euber que continua no chão. Ela pega outra e entorna de novo, nisso Euber desperta atordoado.
– Djanilza, você não foi com seu noivo? Pergunta ele ainda meio desligado pelo efeito do álcool.
– Não, mas tenho uma proposta pro senhor que tal nos suicidarmos juntos... eu sou uma desgraçada, uma infeliz, a mulher mais idiota e burra do mundo, e ainda por cima virgem também.
– Tenho outra ideia melhor, em vez de nos matarmos por que não vivemos... vivemos juntos quero dizer. Senti algo por você forte e acho que podemos nos ajudar mutuamente.
– Você fala sério? Tipo viver juntos pode ser também casar?
– É lógico assim que resolver minha situação com a safada da minha ex.
– Eu topo... e que tal comemorarmos nosso encontro?
– Boa ideia, disse ele agarrando e beijando Djane que esquece seus pudores e se entrega num gostoso beijo de língua.
Meios alterados pelas situações adversas e pelo efeito do álcool Euber e Djane iniciam uma busca pela felicidade a partir de uma tragédia e de um inusitado encontro e quem sabe essa misturada toda não acabasse se revelando numa futura promessa de algo consistente e que de fato fizesse a diferença em suas vidas e se não fizesse pelo menos já os teria salvo, de imediato, de uma morte trágica e sem sentido.

FIM

ZARONDY, Zaymond. Encontro com o conto. CBJE: Rio de Janeiro, 2016.

ISBN 978-85-413-0750-5
 
Zaymond Zarondy
Enviado por Zaymond Zarondy em 04/03/2017
Reeditado em 15/04/2017
Código do texto: T5930485
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