Guardou Para Si
No sótão, onde arrulham as pragas de penas e piolhos, meditava todo dia a série interminável de afazeres do cotidiano.
Sem janelas para enquadrar o sol, pedia aos tijolos manchados de tinta que lhe emparedassem uma lágrima ou um sorriso, vindos das conclusões a que chegava sem esforço.
Era figura solene nas entranhas daquele calabouço.
De quando em quando, a brisa rara pelas frestas, lembrava os perfumes de vinhos que sangrariam dali, por intermédio do trabalho concluído, muitas vezes, às pressas de corredor.
Mas, a musa, longe da torre do calor abafado, conquistava seus momentos de glória e de dor, na mesma saudade que arfava o desejo, quase mostrado nas horas de calma e amor.
Guardou para si o som dos motores ao longe da estrada.
Guardou para si as lembranças passadas nos caminhos do passado.
Guardou para si a fórmula secreta . Daquilo que poesiam na tentativa de conceituar o imponderável. Esse magnífico sentimento... O amor.