INOCENTE CORAÇÃO - FINAL

Enquanto isso, na praça da cidade...

- O que tá acontecendo aqui? – perguntou um morador para uma pequena multidão que estava ali.

- Ouvi dizer que vão acender a fogueira – respondeu alguém.

- Minha nossa senhora! Essa fogueira não é acesa há anos. E da última vez que resolveram colocar fogo ai foi uma tragédia – disse outra moradora em tom de desespero.

A fogueira era um símbolo muito forte na cidade. Foi instalada no centro da cidade há muitos anos por um coronel que jogou sua própria esposa no fogo após descobrir uma suposta traição. Desde então, a prática foi sendo repassada por todos os coronéis que assumiam a cidade. A labareda era um castigo para todos aqueles considerados traidores ou aqueles que não seguissem as leis impostas.

- Povo de Ribeirão. Hoje, reunidos novamente nessa praça trago a vocês um novo exemplo de alguém que resolveu desafiar a mim. Este homem, José Florêncio, um caipira, se engraçou com a minha filha e depois desapareceu com ela. E agora ele pagará por tudo isso, queimando no fogo ardente desta fogueira.

O povo assistia aquela cena de olhos arregalados e coração na mão.

- Pelo amor de Deus, tenha piedade desse pobre homem inocente – suplicou Dalva ao ver seu amado naquela situação.

- Ora dona Dalva, eu sinto muito pela vossa pessoa. Eu tenho pena de você ter se apaixonado por esse desgraçado. Mas um dia você ainda vai me agradecer por tirar esse caipira da sua vida e te livrar do mesmo fim que teve a minha querida filha – disse o coronel.

Dalva chorava de joelhos próximo a fogueira. O padre Mundinho acalentava a pobre mulher.

- Soltem esse homem! – ecoou uma voz do fundo da multidão.

Aquela voz fez com que todos se virassem para trás.

- Não estão ouvindo? Desamarrem este homem e o tirem daí logo – insistiu a voz.

- Mas que arruaça é essa ai atrás? Quem se atreve a pronunciar essas malditas palavras de afronta contra a minha autoridade? – indagou o coronel com um tom ríspido na voz.

Todos estavam curiosos para saber de quem se tratava.

- Sou eu meu pai – respondeu a pessoa.

- Lindinda? Será que eu to enxergando direito, é você mesmo? – disse o coronel.

- Surpresa em me ver meu pai? Achou que eu nunca mais iria voltar? – respondeu Lindinha.

- De fato estou surpreso em ver você. Você sumiu, não deu notícias, agora retorna repentinamente. Eu quase morri sem você aqui por perto minha filha – disse o coronel.

- É... Eu voltei sim. Mas agora mande seus capangas soltarem o Zé Florêncio ou eu mesma subo ai e o tiro dessas cordas.

- Filha, mas ele... – insistiu o coronel.

- Creio que não será preciso falar novamente – disse Lindinha.

O coronel ordenou a retirada de Zé Florêncio que sorriu ao livrar-se daquela situação.

- Ô Lindinha, obrigado viu. Sem ocê eu nem sei o que ia acontecer – disse Zé.

- Eu só fiz o certo – respondeu Lindinha.

A população aclamou com saudosas palmas a atitude da filha do coronel.

Aos poucos o povo foi se dispersando.

Mais tarde no casarão do coronel...

- Você me desafiou na frente de toda aquela gente filha, tirou minha autoridade.

- Que autoridade pai? De matar as pessoas inocentes? Ninguém mais na cidade te respeita. Suas leis malucas, sem sentido, não fazem diferença pra mais ninguém aqui – disse Lindinha.

- Eu fiquei sofrendo esse tempo todo pela sua ausência. Essa casa vazia, sem você nunca mais foi a mesma. Todos os dias eu ia até o seu quarto e ficava olhando pras suas fotos, lembrando de tudo, lembrando de você. Eu rezei todos os dias e pedi a Deus que onde quer que você estivesse, que Ele trouxesse você de volta pra casa – disse o coronel.

- Sofrendo? O senhor bem sabe o motivo do meu “sumiço”. Eu não aguentava mais a sua amargura, o seu rancor, o seu ódio, a sua falta de compaixão com as pessoas. Eu sabia que jamais a minha história com o Zé fosse agradar o senhor.

- Não filha, eu não esse monstro que você pensa. Com tanto partido bom aqui em Ribeirão você foi logo escolher um caipira tosco que mal sabe falar, não tem educação, não tem onde cair morto. Eu só quero o melhor pra você filha – disse o coronel com uma lágrima escorrendo pelos olhos pretos.

- Não pai. O senhor não sabe o que é melhor pra mim. E eu só voltei porque eu soube o que estava prestes a acontecer com o Zé e eu me senti na obrigação de salvar ele. Sem querer eu acabei colocando ele nessa situação – disse Lindinha.

- Eu posso ter os meus defeitos, os meus erros, mas... Se tem um sentimento verdadeiro, uma coisa boa em mim, é o meu amor por você filha. Somos só eu e você na nossa família pai.

- Eu confesso que as vezes eu não consigo enxergar esse amor paterno que o senhor diz ter. Suas atitudes dizem totalmente o contrário. Mas eu vou te dar uma nova chance, a última. Portanto, eu quero que o senhor deixe o Zé Florêncio viver em paz com a Dalva. Ele não tem culpa de nada, ninguém manda no coração, e além do mais a nossa história já acabou – disse Lindinha.

Enquanto isso no sítio do Zé Florêncio...

Uma festa foi feita para comemorar a soltura do caipira. Ao som de muita sanfona e um forró do bom o povo dançava e festejava aquela alegria toda. Não podiam comemorar de outra forma senão daquele jeito. Muita comida, muita bebida, música boa, e o melhor... o amor completavam a festa.

- Eu amo ocê por demais Dalva. Quando eu tava lá pronto pra ser jogado na fogueira eu só pensava no nosso amor – disse Zé abraçado em Dalva.

- Eu quase morri Zé. Não ia viver sem você não – disse Dalva.

- Ocê é melhor pessoa desse mundo Dalva. Sempre cuida de mim, preocupa comigo, me ama e ainda me ensina a ler e escrever, eu ainda escrevo umas palavra errada mas to caminhando.

- Fico feliz Zé. Aos poucos você vai melhorando e antes mesmo que você imagina já vai ta lendo e escrevendo certinho por ai – disse Dalva.

- Deixe de conversa Dalva e me da um beijo logo que eu já tava com saudade da doçura da sua boca – disse Zé.

O casal se beijava a luz da lua e ao brilho das estrelas. Os convidados aplaudiam aquele amor bonito, forte e verdadeiro.

FIM!

Luccas Nascimentto
Enviado por Luccas Nascimentto em 22/02/2017
Código do texto: T5920615
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.