Os convidados olharam para trás e viram um homem com roupas de dormir, ainda em pé, mas despencou em fração de segundos. Exausto como o soldado de Maratona, Jeremias tombou. Bateu a cabeça no chão, produzindo um som fofo e indescritível, que ecoou em toda nave da igreja. O sangue escorreu no mosaico. Robert   empalideceu.  Acabara de achar o pai e perder a noiva. Então, teve uma ideia, um gesto de carinho que não pudera receber nem dar antes. Retirou o lenço, que enfeitava o fraque, enxugou suavemente o sangue que escorria da sobrancelha de Jeremias e guardou o lenço. Entre uma lágrima solta e um sorriso abafado, pensou: ‘Hoje perdi minha mulher e meu pai, ou não! As duas coisas juntas ou nenhuma delas’.

— Robert   Pastorella, é de livre e espontânea vontade que aceita Talita Ravenala Palmeira, como sua legítima esposa?
— Sim!
O silêncio da noiva misturou-se com o barulho vindo da porta principal. Jeremias gesticulava, pulava e sacudia desesperadamente os braços. Subia e descia balançando as partes vergonhosas, mal guardadas. Estava com uma camisa listrada, provavelmente, de pijama, e na parte de baixo, uma ceroula de braguilha aberta, sem botão ou zíper. Frei Gaspar conjecturava: ‘As mulheres seguram os seios quando pulam. Já os homens não se preocupam com seus penduricalhos. Será por que o pai da noiva veio com aquele traje?’ Alguém entregou as alianças ao celebrante, e uma luz brilhou como lampejo: ‘Se alguém souber de algum impedimento, fale agora, ou se cale para sempre!’ Um grito pula no ar como foguete itabirano: ‘Eles são irmãos! Eles são irmãos!...’

Frei Gaspar saúda os noivos. A assembleia reduzida fica de pé, faz o sinal da cruz e reza o Ato Penitencial. Cumpriu-se o rito até  o momento do “Sim” ou ‘Não!...’

 
 
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Adalberto Lima, trecho de Estrada sem fim....
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