A freira sorriu docemente.
— Meu nome é Paola Rhoden Napoleone — quero dizer: irmã Paola— e fechou o livro que lia.
Américo passou as vistas, ligeiramente na capa do livro.
— Essa foto...
Não concluiu a frase e Paola completou:
— Foi a última vez que estive com meu pai. Eu tinha dezessete anos. Pouco tempo depois, ele morreu.
— Linda, muito linda!
— A música é linda. Aprendi a gostar de Pink Floyd com meu pai.
— Não falo da música — disse receoso de ser castigado pelo Céu, pois sabia que as consagradas são servas e esposas de Deus. ‘ Pode um homem disputar com Deus, e não ser condenado?’
Sentiu a cor do beijo de Morgana tocado pelos ventos Maristas dos tempos do campeonato intercolegial. ‘Não, não pode ser! A Morgana, uma freira? Não era ela!’
Aqueles olhos em tom esverdeado trouxeram-lhe boas recordações da infância. ‘Como se parece com a Morga!... Até o modo de sorrir lembra a ex-colega de escola!...’
Paola pareceu exalar a mesma ingênua e doce pureza de Morgana. Sim, doce e pura como a Morga, quando dissera a ele: ‘Parabéns, campeão!... ‘E pregou no rosto dele um beijou docemente infantil.
— A madre vai a Paris?
— Desço em Dakar!
— Sou José Américo Sivory. Estudei em colégio de padres.
— Argentino jogando futebol no Brasil?
— Sou brasileiro, descendente de libanês. Meu pai tomou por empréstimo o nome do jogador da Argentina, e me pôs sobre os ombros uma grande responsabilidade. Não posso decepcioná-lo, nem denegrir a imagem de seu ídolo.
— A pessoa faz o nome. Podes ser você mesmo, embora arraste sobre si o pesado fardo de carregar nos ombros o nome de uma pessoa famosa.
Paola não diria a mesma coisa sobre nomes estrambóticos que pais dão aos filhos... Durante muitos anos a Igreja recomendou que se batizassem crianças com o nome de santos do dia. Ela conheceu testemunhos de muitos livramentos de pessoas que tomaram para si o nome de santos, como o caso daqueles pescadores João, Tiago e Jesus que à deriva, durante quarenta dias, foram resgatados com vida. Anacleto também acreditava que dando ao filho o nome de um jogador famoso, seu filho Sivory poderia conhecer o sucesso jogando futebol. Inicialmente, o jovem investiu seu talento na música, e deixou uma herança para os colegas de pensão: formou um conjunto musical que poderia ter sido seu grito de independência financeira, mas o turco não tinha dom para a música, e não passou de um tocador de reco-reco. A banda não fez sucesso. Suas poucas apresentações em bares, não foram suficientes para recuperar o capital investido. Contudo, para não desfaz o laço de amizade que se formou durante os ensaios e shows, os integrantes resolveram direcionar seus talentos ao futebol. Compraram chuteiras, bola, uniformes e organizaram dois times: Agogô e Reco-Reco. Foi assim, em campo improvisado num terreno de periferia, que nasceu, profissionalmente, o astro José Américo Sivory Anacleto, o jogador brasileiro, que antes de descobrir sua vocação para o futebol, experimentou a aventura de ganhar dinheiro como taxista no reino de Tio Sam.
***
Adalberto Lima, trecho de Estrada sem fim...
— Meu nome é Paola Rhoden Napoleone — quero dizer: irmã Paola— e fechou o livro que lia.
Américo passou as vistas, ligeiramente na capa do livro.
— Essa foto...
Não concluiu a frase e Paola completou:
— Foi a última vez que estive com meu pai. Eu tinha dezessete anos. Pouco tempo depois, ele morreu.
— Linda, muito linda!
— A música é linda. Aprendi a gostar de Pink Floyd com meu pai.
— Não falo da música — disse receoso de ser castigado pelo Céu, pois sabia que as consagradas são servas e esposas de Deus. ‘ Pode um homem disputar com Deus, e não ser condenado?’
Sentiu a cor do beijo de Morgana tocado pelos ventos Maristas dos tempos do campeonato intercolegial. ‘Não, não pode ser! A Morgana, uma freira? Não era ela!’
Aqueles olhos em tom esverdeado trouxeram-lhe boas recordações da infância. ‘Como se parece com a Morga!... Até o modo de sorrir lembra a ex-colega de escola!...’
Paola pareceu exalar a mesma ingênua e doce pureza de Morgana. Sim, doce e pura como a Morga, quando dissera a ele: ‘Parabéns, campeão!... ‘E pregou no rosto dele um beijou docemente infantil.
— A madre vai a Paris?
— Desço em Dakar!
— Sou José Américo Sivory. Estudei em colégio de padres.
— Argentino jogando futebol no Brasil?
— Sou brasileiro, descendente de libanês. Meu pai tomou por empréstimo o nome do jogador da Argentina, e me pôs sobre os ombros uma grande responsabilidade. Não posso decepcioná-lo, nem denegrir a imagem de seu ídolo.
— A pessoa faz o nome. Podes ser você mesmo, embora arraste sobre si o pesado fardo de carregar nos ombros o nome de uma pessoa famosa.
Paola não diria a mesma coisa sobre nomes estrambóticos que pais dão aos filhos... Durante muitos anos a Igreja recomendou que se batizassem crianças com o nome de santos do dia. Ela conheceu testemunhos de muitos livramentos de pessoas que tomaram para si o nome de santos, como o caso daqueles pescadores João, Tiago e Jesus que à deriva, durante quarenta dias, foram resgatados com vida. Anacleto também acreditava que dando ao filho o nome de um jogador famoso, seu filho Sivory poderia conhecer o sucesso jogando futebol. Inicialmente, o jovem investiu seu talento na música, e deixou uma herança para os colegas de pensão: formou um conjunto musical que poderia ter sido seu grito de independência financeira, mas o turco não tinha dom para a música, e não passou de um tocador de reco-reco. A banda não fez sucesso. Suas poucas apresentações em bares, não foram suficientes para recuperar o capital investido. Contudo, para não desfaz o laço de amizade que se formou durante os ensaios e shows, os integrantes resolveram direcionar seus talentos ao futebol. Compraram chuteiras, bola, uniformes e organizaram dois times: Agogô e Reco-Reco. Foi assim, em campo improvisado num terreno de periferia, que nasceu, profissionalmente, o astro José Américo Sivory Anacleto, o jogador brasileiro, que antes de descobrir sua vocação para o futebol, experimentou a aventura de ganhar dinheiro como taxista no reino de Tio Sam.
***
Adalberto Lima, trecho de Estrada sem fim...