Consternação inexistente por ti
Ontem à noite, eu liguei pra ele. Eu não sabia como ele estava até porque faziam mais de três meses que eu não tinha notícias dele. A última vez que eu o vi, ele me fez chorar mares de lágrimas. Mas isso não alterou nada do que eu sentia por ele no dia seguinte. Por mais que tenha me magoado e eu tenha ficado com o coração na mão, eu o amei e foi a melhor coisa do mundo. Pela primeira vez, eu tinha sentido o amor. Talvez estejam se perguntando como eu sei que senti. Ora, se você amou, você sabe como é sentir o arrepio, não na pele, mas na alma. Só de ouvir a voz, sentir o toque, provar do beijo... E eu senti tudo isso quando eu estava com ele. Fora a confiança que ele me passava, as palavras motivacionais que ele sempre dizia quando eu me sentia mal e achava que não conseguiria concluir meus objetivos, a maneira como ele falava tudo sem ao menos dizer uma palavra sequer, o jeito que suas mãos encaixavam na minha cintura enquanto dançávamos nas festas dos familiares, tudo era perfeito com ele. Aos mínimos detalhes, tudo se tornava perfeito. Mas ele não era, e, por isso, eu sei que o amei. Eu respeitei cada limite que ele tinha, entendi todos os seus defeitos e os fiz parecerem perfeitos, acolhi-o sempre que se sentia perdido, ouvia cada sussurro dele ao telefone quando passávamos a madrugada nos falando porque a saudade não podia esperar pelo dia seguinte, as noites que pude dormir abraçada com ele e os dias que orávamos juntos - fosse na igreja ou antes de dormir. Assim como amava os defeitos, eu amava as perfeições. Amava como o cabelo dele ficava quando ele colocava para o lado, aquele sorriso retinho que aparecia sempre que eu fazia alguma palhaçada, a maneira como os olhos dele ficavam quando ele estava concentrado, as definições artificiais que seu corpo tinha, e que eu adorava apertar e sentir. Tudo nele fazia com que fosse impossível não amá-lo. Mas, como sempre, a vida nos surpreende. As brigas começaram a surgir com o passar dos meses e, aos poucos, destruindo o que tínhamos. As discussões ficaram cada vez mais sérias e duradouras. E para piorar, os motivos tornavam-se cada vez mais banais. No final das contas, ele achou melhor terminar, disse que isso não estava mais dando certo e que acabaria me machucando cada vez mais. Eu não digo que ele foi covarde por ter desistido da gente, até porque, eu sei que ele fez isso por amor. Com o passar dos dias, acabamos tomando novos rumos mesmo nos amando. Era necessário, e lá no fundo, eu sabia disso, por mais difícil que fosse aceitar. Tempos juntos nos fizeram ser quase que obrigado a tomar essa decisão. Tudo isso talvez não tenha alterado nada do que eu sentia por ele. Mesmo que eu tenha falado sempre no passado, talvez eu ainda o amasse. Independente de tudo, eu acho que ainda o amo. E o principal sinal disso foi quando, após três meses, eu liguei para ele. As minhas palavras na ligação expressavam bem o que eu sentia, mesmo depois de meses:
- Alô? B-em... Liguei só p-para saber como v-você estava.