A coisa mais linda do parque

Você costumava andar olhando para os lados, parecia ter medo de estar sendo seguido.

Mexia no cabelo quando estava envergonhado, apertava um dos braços quando estava irritado e sorria quando estava triste.

Você morava na Zona Sul, a duas quadras daquele parque onde eu sempre estive.

Não sei ao certo o que fazia ali. Isso eu nunca descobri.

Talvez gostava de ir ali para refletir, chorar, gritar... ficar só por um momento mesmo sendo impossível.

Ah, como era lindo! A coisa mais linda que já esteve naquele parque. Pouco notada já que não se encaixava em nenhum padrão de beleza, mas, era tão lindo. Na verdade, ser diferente era o que te tornava tão belo.

Não tinha um corpo atlético, um rosto fino e liso, a pele não parecia ser tão macia. Seus olhos tristes sempre me intrigaram, seu sorriso sempre me encantou.

Certa vez me arrisquei ouvir sua voz. Era doce, suave... passava uma certa insegurança em relação ao assunto ali tratado. Você mexeu no cabelo e sorriu por não saber o que dizer.

Outro dia me arrisquei novamente. Agora sua voz soava alta, grave e passava segurança no que estava dizendo. Você apertou um dos braços e sorriu quando seus olhos se encheram d'água.

Você se pôs a chorar como um bebê, ignorando a multidão que ali passava questionando sua masculinidade. Eu te observava admirando aquele ato humano que há muito não via nos homens.

Aquela foi a última vez que te vi. Perguntei por você por onde quer que eu ia, mas ninguém além de mim te conhecia, e olha que eu nem sabia seu nome.

Só sei que você foi a coisa mais linda que apareceu naquele parque, que meus olhos viram durante um mês e que agora se foi.

Só sei que eu fui alguém que te conheceu mesmo sem saber ao certo quem você era. Só sei que fui a única a sentir sua falta quando partiu.

maria paula da silva lima
Enviado por maria paula da silva lima em 05/02/2017
Código do texto: T5903053
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