O REENCONTRO
O REENCONTRO
Viram-se pela última vez há trinta e quatro anos. Eram primos. De vez em quando, um se lembrava do outro, sem, no entanto, se comunicarem. Moravam no mesmo estado, mas em cidades diferentes.
Ele era dez anos mais velho que ela. A última vez que se viram, ele estava noivo, ia casar. Ela, no início da adolescência, um tanto imatura, revelando timidez, olhou-o com admiração, guardando em seu interior, aquele profundo sentimento amoroso que parecia sentir por ele.
Ele também a olhou, contemplando a sua jovem beleza, e lhe pareceu também sentir o mesmo afeto, mas não podia desistir do compromisso assumido. Algo lhe dizia que ainda não era o momento deles assumirem aquele amor, por enquanto, recolhido dentro deles.
O tempo passou. Cada um vivenciou a sua experiência de vida. As agruras existenciais. Cada um, a seu tempo, se casou, tiveram filhos, e passaram pela dor da viuvez. Puderam também experimentar outras convivências. Só que, intimamente, jamais haviam se esquecido. Como se costuma dizer, nada ocorre por acaso. Tudo tem uma razão de ser. E há tempo para todas as coisas.
Ele havia entrado num site de relacionamentos. Entrou, saiu, depois de algum tempo, entrou de novo. A internet é o mundo bem pertinho de você. Ao seu alcance, numa conexão permanente, e mesmo sendo de forma virtual, aproxima as pessoas, as coisas umas das outras.
De súbito, uma mulher lhe aborda. Achou-o parecido com o pai. Realmente, ele era a cara do pai. Que memória boa! Lhe confirmei dizendo que sim. Que era o primogênito, o filho mais velho dele. Disse-lhe que era uma de suas primas. Ele ficou encantado com aquela agradável surpresa. Foi no seu perfil e se deparou com uma mulher madura, mas de semblante jovial e corpo sedutor. E logo veio-lhe à memória, aquela adolescente graciosa, que o fez sorrir de contente, como se tivesse lhe despertado um remoto sentimento, até aquele instante oculto, esquecido em seu coração.
Após os primeiros diálogos, logo ficaram amigos no face. Sem se excluírem do site de relacionamentos, mas foram, aos poucos, se desinteressando dele. No face, a interação de amizade parentesca foi cada vez mais se estreitando. Se cada um queria abordar o amor que um sentia pelo outro, se continham, receiosos de ferirem os laços de parentesco que os uniam.
Depois de alguns meses, a amizade fraterna virtual entre eles continuava. Foi quando, em dado momento, ele quis saber se ela tinha alguém na vida dela. Ela lhe disse que não. E foi com alegria, que ele lhe disse que também não tinha ninguém. A partir daí, foi ele quem tomou a iniciativa de namorá-la. No início, ela resistiu, porque eram primos, mas aos poucos, foi aceitando a nova situação. Outro incômodo, parecia perturbá-la: ela era evangélica e ele espírita. Contudo, por tratar-se de pessoas maduras e compreensivas, através do diálogo franco e tolerante, foi possível a superação vinculada ao embate de ideias divergentes.
Com o compromisso de namoro estabelecido, decidiram sair do site de relacionamentos, pois não tinha mais sentido de ficar nele. E passaram a namorar pelo celular. Segundo ambos, jamais havia ocorrido aquela situação de namoro pelo celular tão intensa. Se falavam todos os dias, tanto de dia como de noite, em diálogos sinceros e agradáveis acerca dos mais variados assuntos. E foram descobrindo que tinham muitas afinidades, fazendo-os crer, cada vez mais, que não podiam desistir daquele compromisso afetivo tão salutar para os dois.
Todo o amor contido de um para o outro, toda afinidade mútua reclusa, toda maturidade espiritual desenvolvida por aquelas almas amantes, naquela fase de suas vidas, resolveram despertar, numa explosão dos bons sentimentos que os uniam, tão suficientes para entenderem que se amavam loucamente.
Passados mais alguns meses, exatamente no final de ano, combinaram de se verem pessoalmente. Mesmo pelo face ou pelo celular, se achavam bem íntimos, ambos se sentiam um do outro, pois tamanho era o amor fortalecido entre eles.
O tão esperado reencontro estava prestes a acontecer. E de fato, ocorreu. Primeiro, ele foi vê-la, e decidiram ficar noivos. Segundo, ela foi vê-lo. E quando se encontraram pela terceira vez, foi pra casar. Atualmente, estão bem casados, desfrutando de uma união feliz, permitida por Deus e por suas boas vontades em continuarem unidos pela força inefável do amor.
Escritor Adilson Fontoura
e-mail: aafontoura@hotmail.com.br
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