Entre dois amores - Final
Os disparos atingiram Zélia. No hospital recebia os cuidados necessários.
A chuva acalmou-se do lado de fora. A luz voltou. Era possível notar com facilidade os estragos deixados pela chuva.
Dolores estava se sentindo culpada por tudo o que aconteceu. A desunião da família, a partida do filho e agora o acidente com a amiga.
Um mês depois nada havia mudado ainda. Atacílio continuava de bar em bar. As vezes aparecia em casa e no dia seguinte sumia novamente.
Heitor seguia sua vida no Rio de Janeiro.
E Dolores vivia na incerteza de dias obscuros e cinzentos.
Certo dia o telefone da casa de Dolores tocou. Foram exatamente três toques até que ela pudesse atender. Uma alegria tomou conta dela naquele momento. Pensava que poderia ser o filho. Mas não.
- Alô?
- Senhora...Dolores? – uma voz masculina perguntou do outro lado da linha.
- Sou eu.
- Aqui é do hospital central e... estamos ligando porque o senhor Atacílio foi vítima de um atropelamento e acabou de dar entrada aqui. E foi encontrado seu telefone em meio as coisas dele. A senhora é algum parente próximo?
Dolores ficou alguns segundos paralisada.
- Senhora?
- Eu sou esposa dele. Esposa – ela não queria dizer aquilo. Seu coração não queria dizer aquilo. Mas no momento era a única resposta que era possível.
- Muito bem. Eu preciso que a senhora venha até aqui pra assinar alguns papéis.
Começava ali mais um capítulo turbulento da vida da pobre Dolores.
Ao chegar no hospital soube que o marido iria precisar passar por uma cirurgia arriscada.
E assim foi feito. Foram horas na sala de cirurgia. Do lado de fora, na capela do hospital, Dolores rezava. Era mulher de muita fé. Embora o marido lhe tivesse causado tantas dores, ela ainda o amava.
- Oh meu Deus. Eu sei que ultimamente o Atacílio não tem sido nada bom. Eu também não. Até tentei matá-lo. Mas o senhor sabe. No momento de desespero a gente não pensa. Que o senhor me perdoe. Eu... venho pedir pra salvar meu marido. Não deixe ele morrer. Eu não iria agüentar mais essa dor. Apesar de tudo, eu ainda amo esse homem – ajoelhada Dolores fazia suas preces.
- Vai dar certo mãe! – uma voz disse na porta da capela.
Ao virar-se de costas Dolores não pôde ter momento melhor que aquele. Em meio ao caos ainda conseguiu sorrir. Um sorriso fechado entre os dentes, mas sorriu.
- Filho!!!
- Sou eu mãe.
Eitor estava de volta. Ao chegar em casa soube por Zélia que a mãe estava no hospital acompanhando o pai.
O destino tratou de unir novamente a família. Não no momento em que gostariam estar. Mas estavam ali.
Já na recepção do hospital aguardavam ansiosos por uma notícia. As horas pareciam não se passar. Era como se o tempo pudesse estar parado. Nada acontecia. Nenhum sinal do médico.
Algumas horas seguintes veio a notícia.
Atacílio havia falecido.
Um choque para a família. Principalmente para Dolores que amava o marido apesar de tudo.
Eitor se sentia culpado por ter dado as costas para a família. Por ter deixado o pai de lado enquanto erguia sua vida no Rio de Janeiro.
Nada mais podia ser feito.
Meses depois Dolores seguia ainda com dificuldade sua vida. Tentava recolher os cacos que restaram de sua vida e reconstruir tudo.
Eitor voltou para o Rio de Janeiro.
Sentada no sofá olhando algumas fotos antigas da família, Dolores chorava. Tudo poderia ter sido diferente.
Dolores continuou sua vida. Ia de casa para o trabalho e vice-versa. Nunca mais se viu um sorriso em seu rosto. Nunca mais foi feliz. Quando estava em casa fechava as portas e janelas. Cobria seu sofrimento eterno com as cortinas das janelas que tornavam o ambiente ainda mais escuro. Uma mulher dividida entre dois amores.
Fim!