Simplesmente Emma
Nasci numa belíssima aldeia medieval no norte de Itália, protegida pelo Monte Madonna, e quando completei 10 anos, mudamos para o Brasil, era Janeiro de 1910 e ao desembarcar no porto de Santos, fizemos uma longa jornada até o interior do Estado e fomos viver em uma grande fazenda.
Aos 15 anos, casei me com um belo jovem italiano, que mal acabara de completar 20 anos. Ele era um homem maravilhoso e viril e com 20 anos já tinha quatro filhos e uma vida difícil no sertão.
Numa bela manhã de setembro, ele subiu numa laranjeira cheia de espinhos, para apanhar um grande laranja para mim, mas foi espetado por um espinho, aquilo inflamou e morreu seis meses depois. Ele morreu com apenas 30 anos, e parecia um anjo no caixão. Confesso que chorei alguns dias, mas tive que erguer a cabeça e lutar valentemente para criar quatro filhos.
Naquela época era obrigatório guardar luto por sete anos, em memória do falecido, guardei apenas 7 meses, pois a vida tinha que continuar e tinha os filhos para cuidar.
Num sábado à noite, deixei as crianças na casa de uma “vicina” tirei os trajes de luto, coloquei um lindo vestido de festa e fui para o baile. Chegando lá fui maltratada pelos olhares, palavras e indiferença.
No meio de todo aquele caos, chega um lindo português montado em seu cavalo alazão, nossos olhares se cruzaram e em pouco tempo estávamos dançando alegremente. Bebemos, fumamos e rimos a noite inteira, e no final de poucos meses estávamos casados, pois precisava de um homem para fazer as colheitas e cuidar de mim e dos meus filhos.
Minha história se espalhou por todos os cantos e recantos, becos e vielas, mas sempre vivi a frente do meu tempo não me importava com nada e nem com ninguém, apenas queria se feliz e fazia tudo que me apetecia andava de bicicleta, fumava, bebia e adorava tomar banho nas cachoeiras.
Para alguns eu era louca, para outros uma mulherzinha vulgar, para o meu esposo uma deusa que caiu do céu, enfim escandalizei uma época, e até fui excomungada da santa igreja católica.
Com meu rico português, tive mais três filhos, logo tinha a casa cheia de rebentos, e esses filhos só me deram alegria e um monte de netos. O tempo passou e minha história de perdeu nas areias do tempo.
Hoje, estou com 75 anos, velha, sábia e madura. Não gosto de dar conselho a ninguém, “pois se fosse bom ninguém dava, vendia”. Mas sempre tive um lema, “quanto menos pessoas interferir na minha vida particular será melhor”. E foi assim que vivi cada momento de minha “dolce vita”, pois creio que talvez não haverá amanhã.
E naquela tarde de setembro, Emma Magnani tomou sua última taça de vinho com uma porção de queijo provolone e como era habitual ligou o rádio para ouvir notícias de Itália e adormeceu serenamente nos braços da eternidade. E já se passaram muitos anos, mas ainda tenho na memória “mia bela nonna italiana”