Sábados
23 Out. 2016. 00:30hs
A conheci num sábado à noite,
Lembro como se fosse hoje.
Eu estava em grupo com amigos, ela estava em outro grupo e por sorte, havia amigos em comum.
Nos esbarramos brevemente, trocamos poucas palavras e algumas risadas Como é comum em qualquer nova relação.
Eu considero esses encontros uma dádiva.
De longe eu a observava dançando com outras pessoas.
Muitas vezes percebia que ela não queria estar com alguém, ela simplesmente queria estar ali.
Dançar, se soltar. Não havia necessidade de estar com alguém ou carência de aparecer pra que todos a percebessem. Ela simplesmente estava ali, tão bonita, tão segura de si.. tenho quase certeza de que foi essa segurança que me chamou a atenção nela.
Horas se passaram e eu continuei a observá-la de longe. com uma simplicidade no olhar ela não parecia me perceber. Eu era apenas mais um andando naquela boate, enquanto ela, na sua segurança, era uma mulher tendo um dia de adolescente.
Vi muitos tentando se entrosar, mas nenhum interesse ela aparentava ter.
Chegava a ser até estranho tamanha independência e confiança em um lugar onde geralmente todos buscam por atenção para curar suas feridas mal resolvidas e suas carências infindáveis.
Já se aproximava do amanhecer e eu percebi que ela estava cansada. Passaram-se horas em que ela estava na pista de dança. Parecia que ela estava presa à muito tempo , e estava agradável vê-la se libertar. no final da noite trocamos mais algumas palavras..
Fui embora me perguntando por quê eu não tive coragem de ir ao seu encontro, e como diriam os nilistas: "algumas oportunidades a gente só tem uma vez na vida".
Exatamente como me diriam, cheguei em casa refletindo sobre isso, mas para minha surpresa havia uma solicitação de amizade.
Não precisei abrir a foto na hora para reconhecer. Abri em seguida simplesmente para admirar, como ainda faço às vezes para me recordar de seus traços finos.
Após aquela noite, acabei me entregando para outra pessoa. Não de coração, não em espírito, apenas em carne. Conexões são mais raras, e até hoje ela foi uma das poucas pessoas que eu sinto que existiria essa conexão se houvesse outra oportunidade. Até então eu Jamais havia puxado assunto com ela. Apenas observava seus posts, seu jeito infantil de não levar nada muito a sério e ao mesmo tempo o seu jeito carinhoso de tratar a todos.
Mas como sempre, a vida é uma caixinha de surpresas (como diria Joseph Climber) e ela me chamou pra conversar.
Claramente fiquei sem ação.. já era tarde da noite e eu me via travado entre seguir a conversa ou ir descansar, sabendo que eu trabalharia no dia seguinte.
(Ainda me lembro o sono terrível que senti durante todo aquele dia..)
Mas aquela madrugada inteira de conversas valeu a pena.
Foi reconfortante saber que ela ia além de um rosto bonito. Êxtase é a palavra que define as conversas que tivemos.
Conversamos por mais uns dias, e logo em seguida senti que havia uma decepção nas suas frases.
Não sabia se era algo que eu tinha dito ou se foi apenas o desinteresse dela ressurgindo..
mas insisti em continuar.
Entre conversas e brincadeiras, sempre evitei convidá-la pra sair, porque eu senti que mais uma vez eu não estava pronto pra encarar alguém como ela gostaria de encarar.. Eu não quis me responsabilizar por mais um coração partido.
Busquei manter apenas a amizade.
Semanas depois decidi ir ao shopping comprar um livro que eu estava procrastinando comprá-lo há algum tempo. Entrando lá não demorou muito pra que eu reconhecesse aqueles cabelos macios.. meus pés tremeram.
A paixão ofegante é a coisa mais gostosa e dolorosa que alguém pode sentir. Ela te faz ter animo pra seguir a vida, e ao mesmo tempo o desânimo de desejar aquela boca, aquele perfume e saber que dificilmente irá ter..
segui as escadas na esperança de que ela não me reconhecesse e eu pudesse apenas comprar o meu livro e voltar para o trabalho, mas já próximo a livraria aquela voz hipnotizante me segurou. Não havia o que fazer..
me virei, e com toda a energia que havia em mim eu a abracei. Estar naqueles braços naquele momento foi como sair da gravidade entrando em um lugar completamente lindo e harmonizado. Naquele dia eu esqueci o livro e perdi até a hora do trabalho.. não havia outro pensamento além de chamá-la pra tomar algo. Passamos um bom tempo tomando um café e conversando sobre os mais diversos assuntos. A maciez da sua voz e o conteúdo de suas palavras me faziam não perder o foco em seu rosto, mas ao mesmo tempo, a beleza de seus traços me fizeram não prestar muita atenção no que ela dizia. Era como as poesias do Chico Buarque. Não tente entender, apenas sinta. Depois de muito atraso, cheguei ao trabalho completamente desnorteado. Não havia espaço pra outro pensamento além dela, e o perfume em minha camisa ajudava ainda mais a falta de concentração nas tarefas.
Semanas se passaram e o ano estava acabando. Havia passado o natal e em menos de um dia estaríamos em 2017. Confesso que eu me recusava a viver essa paixão por dois motivos: a incerteza da reciprocidade e os meus planos de ir embora da cidade.
Seria muita covardia de minha parte despertar o interesse daquela mulher sabendo que em breve eu iria partir.. Acho que essa é a pior parte da inconstância. Sempre observei que muitas pessoas agiam de forma emotiva, apenas "de momento" e geralmente alguém saia magoado. Sempre evitei agir por impulso. -Talvez seja esse o motivo que eu nunca me senti confortável pra ter um relacionamento com alguém.-
na noite de réveillon nós conversamos como nunca. Assuntos brotavam no chat e os áudios com a sua voz me prenderam por horas no quarto, à distancia apenas de um telefone.
Tento me lembrar até hoje o seu perfume, mas eu prefiro saber que não vou senti-lo mais.
Paixão é como uma lembrança ruim, quando você menos espera, ela retorna pra você.. E eu gosto de evitar paixões porque sei que são curtas.. não duram mais que uma noite, e não resistem mais do que uma discussão de casal.
Rompemos o ano, e trocamos Nossa ultima mensagem ainda em 2016. Assim como aquele ano, eu a deixei pra trás.
Talvez isso me sirva de lição..
se eu tivesse tido atitude de conhecê-la naquela boate talvez a história fosse outra.
Se eu tivesse tido coragem de chamá-la pra sair mais cedo, talvez isso se tornasse algo maior que apenas uma desejo. Algo que me fizesse desistir dos meus planos de sair da cidade. Mas não fez.
Ela não morreu, nada aconteceu. Essa história simplesmente está esquecida.
Dela, ficou a lição de que a paixão é mais do que o fogo que arde sem se ver (Luiz Camões) paixão é também a inspiração pra se criar fantasias e desejos.
Após muito refletir sobre essa curta história, eu fiz um poema também curto.
"Paixão
Encontrei no teu abraço
Um espaço pra descansar
Descansei nos teus cabelos
O desejo de tocar
Toquei em tua pele com carinho e desejo
Encerrei aquela noite
Sem carinho e sem teu beijo.
Entre duvidas e incertezas
O medo foi mais forte
Me vi mais uma vez
Entre o aprendizado e a sorte
Dentre todas que toquei
Tu ainda me deixaste na vontade
Mesmo que eu não vá me saciar
Deixarei este poema
Pra eternizar.
caso um dia eu parta
Quem ler isso saberá
Que perigosa você é
Mas eu recomendo arriscar.
Não, eu não me arrependo de não ter tentado, mas também não minto que por muito eu a desejei.
Ambos seguimos em frente. Talvez um dia eu pergunte como ela está.. talvez ela me responda. Mas enquanto isso eu deixo a mensagem:
Não destrua seus planos por paixões passageiras.
A racionalidade deve estar acima de qualquer emoção.
Talvez eu a reencontre em breve, mas primeiro eu preciso me encontrar. Enquanto eu não estiver completo, não deixarei essa paixão se tornar um (a)mar.