Conto lúgubre

Vivia em um campo, repleto de árvores secas e retorcidas com borboletas e lindas florzinhas, uma jovem chamada Luna que resplandecia tal radiante alegria, esta orgulhava-se de seu sorriso e do auxilio que prestava aos amigos sempre que precisavam. Ser meiga com todos e tantas vezes, fazia com que muitos pisassem em seu pobre e frágil coração, e o que poucos sabiam era que a sua alma estava se tornando cada vez mais gélida e vazia, não por ser má, porém nada mais a preenchia. Às vezes ao andar pela noite ao som das corujas e do bater das asas de morceguinhos ou em meio ao campo sozinha, passava a se sentir um pouco mais aquecida. Talvez por se sentir tempo demais sozinha, passou a ter um feliz passatempo, tentar decifrar a alma das pessoas.

Em meio a inúmeras pessoas, ou seres como ela gostava de denominar devido a distância que sentia dos mesmos, ela conhece um rapaz. Sua índole sombria, que anos mais tarde ela veio a perceber que era devido ao mesmo sentimento de deslocamento do mundo, em conjunto com uma possível timidez, a impediram de analisar sua alma. Seu nome era Solem, ele possuía uma índole forte e intensa, bem oposta a natureza frágil e muitas vezes ingênua de Luna. Ela se encantou por ele e o sentimento era mútuo, porém teve muito medo de machucá-lo como faziam com ela, para tanto se afastou. Anos se passaram, ela cresceu, amadureceu e seu coração foi ainda mais ferido e torturado, ela nunca se sentiu tão triste e solitária. Pelo menos até reencontrar Solem.

Ele estava lá! Tão visivelmente frágil, como sempre foi aos olhos dela, e com a alma tão quente como só ela era capaz de sentir. Despreocupada e brincalhona por toda eternidade, correu eloquentemente ao seu encontro, estranhamente Luna sentia que aquilo não era apenas uma película sentimental, seu coração frágil como uma pedra de gelo começou a se aquecer. O sorriso em retribuição ao seu a fez se sentir única e protegida, ele nunca deixou de amá-la. Naquele momento o inevitável foi percebido, seus corações não conseguiriam ser completos sozinhos. A vida de ambos era linda e perfeita, tudo era tão mágico e único que ambos se viam como deuses. Apesar das adversidades entre eles, não conseguiam se ver mais distantes um do outro e foi ao decidirem morar juntos que o castelo de cartas tão cuidadosamente criado ruiu no mundo das fantasias.

A personalidade quente e forte de Solem começa a derreter o frágil cristal de gelo formado no coração de Luna. O amor que ambos sentiam não era mais suficiente para suprir a falta dos amigos que ela abandonou para ficar com ele. As mentiras cuidadosamente arquitetadas para esconder seres atrás do véu, fruto de um ciúmes quase tão doentio quanto o dele, começaram rapidamente a serem desvendadas. O calor que aquecia seu coração frio assassinou-a lentamente e a fina capa que envolvia seu coração passou a ser apenas um envoltório para evitar que sua alma escorresse e evaporasse diante de seus olhos.

Entretanto, não somente Luna estava desgastada e machucada, seus temores foram consagrados, ela o magoara. A grande chama de Solem estava se apagando devido ao frio coração desesperançado dela. Ela o cercara e sufocara de tal forma que conseguira torná-lo quase tão ferido e amargurado quanto ela. A escolha foi tomada durante uma briga estupidamente grosseira, enquanto seus piores lados foram revelados um ao outro. Separação, a melhor solução para os dois corações. O mal que ambos causavam ao relacionamento era uma doença, as feridas no outro estavam infeccionando, tudo o que diziam ou faziam servia apenas para cutucar os machucados alheios. Como não percebera isso antes? Como deixara chegar a este ponto?

Os campos e a noite que antes tanto acalentavam seu martírio eram então vazios e mórbidos, e sua natureza, que havia alcançado um âmbito menos frágil, voltara a ser inépcia, abruptamente. A medida que se afastavam, os corações de ambos eram rasgados, estraçalhados. "Por que dói tanto estar perto e tanto ao afastar-se?" Luna questionava-se. Foi então que voltaram e quase que imediatamente terminaram, as dúvidas foram então sanadas, o romance não mais poderia ser cultivado. Encontrara o seu fim.

Enfrentaram então um novo impasse. Individualmente a lua perde sua luz e brilho, quanto ao sol encará-lo diretamente causa dor e sombra a outrem, consequentemente o mesmo encontra-se sempre sozinho. Por outro lado, a união dos dois resulta em um eclipse, esta decorrência acaba por esconder ao menos um dentre os envolvidos. "Como estar junto e não machucá-lo?", foi ele quem encontrou a resposta. O amor de ambos, intenso e eterno, busca sua proteção na relação mais pura. Os perpétuos enamorados, encontram-se enclausurados nas prisões de seus sentimentos e ainda hoje é possível vê-los juntos, entretanto, não mais como amantes, mas certamente como os amigos assíduos que esconderão para sempre seus verdadeiros sentimentos.