PÁSSAROS TAMBÉM AMAM

     O dia começou nublado. De sua cama, Raquel, observava a luz fraca entrar em seu quarto através de sua janela, ao seu lado, sobre um criado mudo, se encontrava o livro 21 DIAS PARA UM MILAGRE de autoria de sua chará Raquel Lakshimi. Em seu DVD Player ainda rodava o filme A ESPERA DE UM MILAGRE, baseado no livro de  Stephen King. Ela caminhou até a cozinha com um frasco de Diazepam na mão, na noite anterior enfrentara tremores, agitação, insônia, ansiedade, cefaleia e dificuldade de se concentrar, sintomas claros de abstinência que se juntava com sudorese, espasmos muscular. Sua mente perdera o controle com a falta de medicação.
     Nada seria fácil no seu dia. Preparou um Capuchino e separou algumas cápsulas de seu remédio para acompanhar em seu café, sem saber se escolhera uma dose grande demais. Olhou atentamente para mesa, ansiosa para voltar ao remédio que tentara se afastar na noite anterior. Comprimidos em uma mão, xícara em outra e um olhar assustado para todo o quadro antecipou o que poderia ser uma overdose.
      Um ruído que chegava da janela de sua cozinha interrompeu o processo. Raquel olhou em sua direção, mas não pôde ver o que o provocara o ruído. Deixou os comprimidos, colocou a xícara sobre a mesa, caminhou em passos desequilibrados até chegar na janela. Abriu a janela, pôde contemplar um dia nebuloso chegando. Nada a chamava a atenção até que um olhar descomprometido para a sacada da janela revelar o que ocorrera.
     Um pássaro de cabeça castanho-escuro, olhos envolvidos por um círculo branco sobressaindo da cabeça, peito amarelo vivo, resto do corpo verde com penas sobre-caudais azuis, batera em sua janela e ficara desacordado. Raquel pegou o pássaro e o colocou sobre a mesa. O olhava curiosa enquanto tomava seu Capuchino, deixará as pílulas de lado, não podia perder a atenção para o ocorrido.
     Colocou o pássaro em uma bolsa, saiu pela porta e desceu as escadas de seu apartamento. Sua mente apenas se concentrara em cuidar daquele pássaro. Sabendo que morava próxima a uma Clinica veterinária especializada em pássaros, deixou seus afazeres e correu para ajudar está vida.
     Ao chegar ao rol de seu apartamento falou com o porteiro sobre o que ocorrera. Foi informada que antes dela, em seu apartamento, morara uma senhora que cuidava de pássaros, que se mudara para o térreo, mas que não se encontrava no momento.
     Raquel entrou em um táxi e a poucos quilômetros desceu olhando para os lados procurando a clinica. Sua angustia logo passou ao encontra-la:
     - Bom dia, necessito muito de um Médico para cuidar de meu pássaro. - Falava Raquel visivelmente  transtornada.
     Um jovem Veterinário se aproximou. Rogério segurou a ave enquanto Raquel explicava o ocorrido. Os olhos de Raquel marejavam. Como se cuidasse do pássaro a anos. Rogério olhava aquele belo rosto, choroso. Orientou Raquel a deixar o pássaro e no fim de seu turno de trabalho voltasse para ver o estado de seu pequeno animal.
     Foi um início de dia tumultuado, Raquel pegou um táxi e enquanto chegava em seu trabalho colocou o seu jaleco. O hospital estava lotado, antes mesmo de se acomodar fora-lhe designado um paciente. Mal almoçara e o dia chegava ao seu fim. Não tinha plantão para aquela noite e antes que a colocassem em outro acompanhamento correu para fora do hospital. Técnica em enfermagem, tomou cuidado olhando a escala de plantão, para ver se não estava escalada para aquela noite.
     Respirou fundo, no ar de fim de dia. Apontou seu dedo esperando chamar a atenção de um táxi. Entrou no táxi e lembrou do pássaro em sua janela e indicou o caminho para o taxista.
     A Clinica Veterinária estava com as portas fechadas. Ao soltar do táxi, Raquel ficou desapontada, mas uma mão tocou seu ombro a levando ao estado de calmaria:
     - Senhora Raquel, seu pássaro recobrou a consciência. Mas sinto te informar que eu reconheço este pássaro e devo levar para a sua dona. - Raquel abriu um largo sorriso, ela não sabia o que deveria fazer com o pássaro depois de sua recuperação.
     Rogério perguntou a Raquel se ela gostaria de o acompanhar até a casa da dona da ave. Raquel ficou constrangida, mas aceitou e ambos entraram em um táxi.
     Raquel ficou curiosa ao ver que o táxi parara em frente ao seu condomínio. Ambos entraram e o porteiro tratou de cumprimentar Raquel e logo após Rogério, deixando-a mais curiosa ainda. Logo no térreo chegaram a frente de um apartamento e após um leve toque na campainha uma senhora atendeu a porta:
     - Meu neto!
     - Bênção avó - Falava Rogério gentilmente.
   Ao entrar no apartamento da Senhora, Raquel, pôde ver vários pássaros, alguns em gaiola e outros voando pela casa. Rogério mostrou o pássaro que carregava em uma pequena gaiola e a Senhora em lágrimas relatou uma pequena história a Raquel:
     - A seis meses eu morava no apartamento 302 e devido a minha saúde procurei um apartamento no térreo para me mudar. Na mudança o companheiro de um pássaro meu saiu pela janela. Eu não queria mais me mudar, pois eu sabia que ele voltaria para sua companheira, mas meu neto não deixou e mudei. Toda manhã colocava a sua companheira, numa gaiola, na janela, mas ele não voltava - Raquel a interrompeu - :
     - Mas voltou, para o mesmo apartamento e por este motivo estou aqui.
     O pássaro foi colocado ao lado de sua companheira. Raquel começou a falar de seu trabalho cansativo na clinica que trabalhava e Rogério ofereceu um trabalho a ela, cuidar de sua avó.  
     Raquel aceitou o trabalho, afinal ficava a poucos metros de sua casa e a deixaria com tempo para se exercitar e ,quem sabe, se afastar de uma vez de seu apego por remédios. Um belo canto tomou conta da casa:
     - Eles estão felizes, são periquito-namorado, tem apenas um companheiro para a vida toda - Falava a Senhora.
     A Senhora Rute pegou na mão do jovem casal as juntando enquanto falava: - Vocês sabiam? Pássaros também amam e Pássaros perdidos quando se encontram, não deixam de aproveitar um verdadeiro amor.

Fim ...

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