Ciranda cirandinha
Ciranda cirandinha
Abriram-se os portões da escola e eles entraram correndo para o pátio como sempre faziam. Ele correu e sentou no muro, logo ela veio correndo e colocou a mochila ao lado dele, depois correu ao encontro das meninas para dançar e como sempre fazia ele ficou o tempo todo com os olhos brilhando olhando ela dançar.
Ciranda era pequenininha, a menor da sala, da escola e da roda dançando. Ele também era o menor da sala e da escola, mas já apreciava o talento dela de dançar entre as meninas.
Ciranda fazia questão de se aproximar do Gato para ficar pertinho dele, mesmo que fosse para escutá-lo criticando o seu jeito de dançar.
- Ciranda! Você precisa aprender a dançar!
- Você está com dor de cotovelo Gato. Você não sabe dançar!
- Eu danço melhor do que você, mas não quero dançar.
- Duvido! Isso eu quero ver. Vai! Dança!
- Quando eu quiser. Eu danço!
Ciranda correu para o meio das meninas e foi dançar, sempre prestando atenção se o Gato estava olhando para ela. Se ele estivesse olhando, ela abusava de uma habilidade de dançarina cheia de poses só para ele.
O tempo passou e Ciranda cresceu, já era a maior da roda. Ela dançava brincando e brincava dançando. O tempo passando e a menininha crescendo e girando entre as amigas na ciranda da escola. Agora é a maior da roda e dança feliz girando com os braços abertos enquanto os olhos do Gato a acompanham no giro, encantados com os movimentos do seu corpo iluminado pelo sol e molhado pela chuva, às vezes até na rua e hoje continuam felizes a vendo dançar na memória.
O Gato cresceu e continuou sentado no mesmo muro ao lado da mochila da ciranda, que se tornou uma garota linda dançando para ele, que nunca tirava os olhos dela. Ela parava na frente do Gato e sorria feliz o ouvindo falar:
- Você não sabe dançar!
- Sabe Gato! Você é um bobo. Não percebe que eu danço a vida inteira para você. Ela virou e saiu dançando para ele reparar na sua beleza atraente. Foi dançando e levando o tempo com ela na ciranda da vida que um dia os separou, definindo caminhos e realidades diferentes para eles, mas Ciranda nunca saia da cabeça do Gato, que passou a sofrer sentindo a falta dela, linda e dançando para ele.
Muitos anos depois o Gato voltou à escola, sentou no mesmo muro, no mesmo lugar onde sempre sentava e olhou o pátio meditando e transportado no tempo. Novamente viu Ciranda dançando como uma bailarina, numa dança perfeita e sincronizada. Sabia que era impossível, mas sentiu uma vontade louca de levantar daquele muro e dançar com ela.
No mesmo instante, numa conexão quase que inacreditável muito distante daquele lugar Ciranda lembrou-se do seu mundo de criança, dançando e girando com os braços abertos. Navegou no tempo da memória até aqueles momentos especiais que estão gravados num espaço do inconsciente, porém consciente de que foi uma infância feliz. O tempo passou e ela depois de tantos anos continua dançando no seu mundo de criança.
Ciranda parou por uns momentos e sentiu uma sincronia, parecia estar no meio do pátio e via o gato sentado no muro esperando para vê-la dançar. Pensou:
Tantos anos passaram e ela nunca namorou ninguém esperando pelo amor do gato, por outro lado, ela também nunca viu o gato com uma namorada, ele estava sempre com os olhos direcionados para ela.
Percebendo a atenção dele, num mundo distante, ela começou a dançar para ele e quando terminou. O gato deu um sorriso de felicidade, olhou ao lado para certificar se a mochila dela estava lá. Não encontrou e naquele momento teve a certeza de que nunca mais a veria dançar. Ele levantou e saiu da escola feliz como um garotinho que acabou de ver a sua menininha dançar ciranda cirandinha para ele pela última vez.
Gato saiu da escola levando sua grande dançarina na lembrança e no coração.
Ele sorriu e seus olhos brilharam, de alguma maneira percebeu que ela também estava pensando nele. Finalmente pensou:
“Eu sou eternamente apaixonado por ela” E foi embora feliz.
Paulo Ribeiro de Alvarenga
Criador de Vaga-Lumes
Iluminando Pensamentos