Entre Idas e Vindas - Final.

Um mês depois...

Minha mesa estava uma bagunça, e eu estava cheio de trabalho. Sentia minha cabeça doer de tanta coisa para fazer, e o telefone não parava de tocar. Era quarta-feira e parecia que todos os clientes da agência estavam passando por algum tipo de problema. E ainda não era nem duas da tarde. Comecei a trabalhar em um novo slide, quando a Jennifer entrou.

- Pedro, o Lucas está te chamando na sala dele.

- O que ele quer agora? Já disse que vou fazer o relatório mais tarde.

- Algo sobre o cliente de São Paulo que vai mudar para o Rio de Janeiro.

- Eu já vou.

- E o Richard como está?

- Me pediu em namoro semana passada. Estamos bem. Ele vai dormir em casa hoje.

- Olha, parece que está sério mesmo.

- Sim, estamos. Ele me faz muito feliz. E é assumido. Não preciso esconder nada.

- Isso foi uma indireta?

- Mais ou menos.

- Mas você esqueceu ele?

- Claro que não, mas o que eu posso fazer se ele não me quer. Toda vez que eu estou perto dele fico sem reação. E ele fica me provocando. Acredita que ele me pegou por trás esses dias no banheiro? Foi tão difícil resistir.

- No banheiro da empresa? Ele e louco?

- Pra você ver. Acho que está perdendo o medo de ser pego ou desconfiarem de algo.

- Entendi.

Meu telefone tocou, era o ramal do Lucas, levantei rápido.

- Deixa eu ir antes que ele venha me buscar.

Corri para a sala dele que fica no fim do corredor, quando entrei percebi que as janelas estavam fechadas, ele estava sentado na mesa lendo algum papel.

- Me chamou Lucas?

- Sim Pedro, sente-se.

Desde o nosso termino, ele falava em um tom meio frio comigo, pelo menos quando o assunto era trabalho. Me sentei em frente a ele e esperei.

- O cliente de São Paulo precisa do relatório para hoje.

- Eu sei disso, já tinha começado a fazer ele quando você me chamou.

- Preciso que ele seja feito o quanto antes.

- Sim, antes das três da tarde eu te mando por e-mail.

Ele levantou o olhar para mim, então tirou o óculos de descanso que fazia ele parecer o Clark Kent e me encarou, pensei que ele ia dizer alguma coisa. Mas ficou em silêncio, então eu me levantei e fui até a porta, mas antes que eu abrisse, ouvi ele dizer.

- Eu terminei com a Larissa.

Me virei calmo. Ele estava sorrindo, como se tivesse feito algo para compensar as merdas que tinha feito nos últimos dias. Então se levantou e se aproximou de mim.

- Agora você pode terminar com o Richard, e voltamos a ser como era antes.

- Como era antes... você me deixando a dois metros da minha casa, se recusando a conversar comigo em locais públicos. Me tratando apenas como um amante.

- Podemos ir em outra cidade então. Ai poderíamos conversar.

- Você e tão idiota que me da náuseas.

- Eu terminei um namoro por causa de você e você me chama de idiota?

- Não fale como se eu tivesse te obrigado a isso.

- Eu quero você Pedro, quando você vai entender isso?

Agora eu quem estava ficando nervoso, porque aquela conversa já tinha acontecido antes.

- Eu não quero você Lucas, não dessa forma. Eu quero você como namorado, eu quero sair daqui de mãos dadas com você, eu quero ir pro cinema juntos, passear de mãos dadas, eu quero te beijar sem medo da reação das pessoas, eu quero que você converse comigo sem medo das pessoas ao redor, e não como se eu fosse um estranho.

- Mas porque não podemos continuar como era antes?

- Porque eu te amo.

Eu nunca tinha dito aquilo para ele, e o deixei surpreso. Alguns segundos de silêncio e ele ainda não conseguia falar.

- Eu te amo Lucas, e quem ama não aceita migalhas. Quem ama não esconde. Apenas sente. Mas você faz parecer que o que sinto e errado, nojento, algo irrelevante. E eu não quero isso para mim.

- Eu...

- Você continua tentando fazer com que eu aceite o que eu não quero. Por favor, me esquece.

Abri a porta e sai em disparada pelo corredor, já estava chorando. Como se toda dor que eu havia ocultado naquele último mês tivessem arrombado as portas do meu coração. Encontrei a Jennifer no corredor, mas não parei para conversar, fui pro estacionamento da empresa. Precisava sair daquele lugar.

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Quando ele saiu senti que o tinha perdido para sempre. E aquilo me causou a dor mais forte que eu já tinha sentido em toda minha vida. Mas então eu percebi, eu amava ele. Sempre tinha amado. Desde quando vi ele sorrindo para mim a primeira vez, desde quando ele deitou no meu peito e eu fiz carinho em seu cabelo. Desde quando eu machuquei os joelhos e ele passou um remédio ardente em mim. Eu amava ele porque ele sempre esteve ali comigo, mesmo quando eu o ignorava, mesmo quando eu era frio com ele.. ou até mesmo quando eu ficava sem falar com ele porque tinha alguém por perto. Ou quando o deixava tão longe de casa, só para não nos verem juntos. Eu não podia perdê-lo, porque ele era tudo para mim, era para vê-lo que eu levantava todos os dias, e seria por ele que eu iria mudar toda minha vida, e não queria nem saber das consequências.

Corri para a porta e sai em disparada pelos corredores, fui até a sala dele e não o encontrei. A Jennifer estava saindo, quando meu viu disse séria:

- O que você fez agora?

- Como assim?

- O Pedro saiu da sua sala chorando.

- Onde ele está?

- Acho que foi em casa, correu para o estacionamento. Se você correr ainda consegue pega-lo.

Foi o que eu fiz, sai em disparada, todo de social e cheguei no estacionamento rápido. O carro do Pedro estava subindo a rampa de saída, corri como nunca e alcancei o carro de lado. Ele me viu mas me ignorou. Então eu corri mais ainda, e do lado de fora, fiquei no meio do caminho. Ele abriu o vidro e gritou:

- Sai da frente idiota.

- Não vou sair, pelo menos não até você me ouvir.

Ele saiu do carro e bateu a porta com força. Então se aproximou de mim nervoso.

- Dá para você parar com isso. Eu não aguento mais. O que você quer de mim?

- Eu quero você.

- Eu já disse que...

- Você já falou demais. Então deixa que eu falo agora.

Ele ficou em silêncio com os braços cruzados. Estávamos em frente ao prédio da empresa, várias pessoas indo e voltando na rua. Todas olhavam para nós quando nos víamos. Aquele era o Local perfeito.

- Eu amo você.

Ele olhou para mim surpreso, então seu queixo caiu.

- Você o que?

- Você tem razão, eu sou um idiota. O cara mais imbecil do mundo. Fiz coisas com você que não devia ter feito. Mas talvez tenha sido bom, porque se não tivesse feito o que eu fiz, não teria percebido o que sinto. Eu tive que ver você saindo da minha sala chorando, para perceber que eu te amo, como nunca amei ninguém. Eu percebi que minha vida não e nada sem você. Eu preciso do seu sorriso, do seu abraço. Do seu beijo. Eu preciso de você Pedro.

- Lucas, eu não...

Me aproximei e coloquei meu indicador em seus lábios.

- Não precisava falar nada. Eu assumo você. De hoje em diante você e meu, e todo mundo vai saber disso. Não estou nem ai para o que vão pensar, para o que vão dizer. Se vão parar de falar comigo, se vou sofrer preconceito. Nada disso importa. Se eu tiver você ao meu lado. Eu sei que você está namorando, mas você disse que me ama. O Richard pode entender isso. Mas por favor, não me deixe mais. E na próxima confraternização da empresa, vou apresentar você como o meu namorado.

- Namorar? Mais..

- Mais nada. Eu amo você, você me ama. Nos fazemos um sexo como ninguém. E você tem o sorriso mais lindo que eu conheço. Então por favor diga sim antes que eu morra de ansiedade.

Ele olhou para mim calmamente, então alisou o meu rosto, com lágrimas nos olhos.

- Eu esperei tanto tempo para ouvir isso de você.

- Eu sei, e pode deixar, você nunca mais vai precisar esperar nada. Eu vou dizer todos os dias, de manhã de tarde, de noite. Que eu amo você.

Pensei que ele iria me responder, mas ele apenas se aproximou e me beijou. Eu retribui com carinho e tentei colocar naquele beijo todo o meu sentimento. Porque palavras não pareciam ser suficiente. Quando nos soltamos ele começou a rir.

- O que foi?

- E que você me beijou em público, sempre achei que isso nunca iria acontecer.

- Vai se acostumando. Porque eu nunca mais vou esconder nosso relacionamento.Agora vamos voltar ao trabalho, não acredito que você ia embora sem terminar o meu relatório.

- Como você acha que eu conseguiria com a raiva que eu estava de você?

Quando voltamos para empresa deixei ele na porta da sala. Então dei um selinho de leve em sua boca, a Jennifer se aproximou e sorriu para nós.

- Olha, parece que temos um novo casal na empresa.

Comecei a andar em direção a minha sala no momento em que o Pedro se sentou na mesa dele, antes que virasse no corredor ele olhou para mim. Então eu mandei um beijo para ele, que retribuiu com uma piscada bem safada. Por mais novo que aquilo fosse. Eu amava ele, e nada se comparava aquilo. Eu tinha uma vida inteira para viver com o homem que eu amava. E aquilo ninguém iria mudar.

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CleberLestrange
Enviado por CleberLestrange em 09/12/2016
Código do texto: T5848577
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