Momentos

Estávamos os dois deitados com as costas no chão, completamente nus.

Ela fumava um cigarro mentolado, e eu observava as voltas que a fumaça formava antes de se dissipar. O verão estava quase em seu auge o que fazia com que, mesmo de noite, tudo que tocássemos estivesse quente, exceto o chão. Quebrando o silêncio, ela me perguntou.

- Quantas mulheres você já amou?

A pergunta súbita me retirou dos meus pensamentos e me trouxe de volta a realidade, de forma que demorei a processar a pergunta.

Ela então me cutucou bem nas costelas até que eu respondi.

- Qual o motivo da pergunta?

- Eu gostaria de saber. Acho que é motivo suficiente.

- Amar em que sentido? Carnal ou romântico.

- Romântico.

Passei um tempo pensando e contando nos dedos. Cheguei a conclusão de que aquela era uma pergunta dificílima de se responder, mas a seriedade dela exigia alguma resposta. Elaborei rapidamente um critério para que eu pudesse classificar todas as mulheres que passaram em minha vida e se por acaso eu havia as amado. Por fim dei-lhe meu resultado.

- Seis... Ou sete, se eu puder incluir você.

- Quer dizer que você me ama?

- Amo.

- O que eu e as outras seis temos em comum?

- Vocês ocupam espaço.

- Como assim?

- Vocês ocupam espaço dentro de mim. Cada qual da sua maneira.

Ela ponderou a resposta, deu um trago profundo no cigarro e soltou.

- E se eu quisesse você só para mim?

- Você já tem.

- Mas e as outras seis?

- Elas são elas. É algo passado.

- Não é passado se elas ocupam espaço ainda.

- Cada um vê as coisas de um jeito. – Falei, um pouco irritado – Não pense besteira, por favor.

- Não estou pensado. – Ela disse, virando seu corpo sobre o meu – Gosto de como você reage quando te boto contra a parede.

- Você pode ser indecente de vez em quando... principalmente quando faz essas coisas.

- Acho engraçada a sua cara.

- Não vejo muita graça...

Ela me calou com um beijo com gosto de cigarro e menta.

Segurei suas mãos com força e a pus novamente de costas para o chão, ficando por cima e encarando o seu rosto levemente surpreso.

Ela parecia catalogar minhas reações. Observava cada detalhe da minha personalidade e se deliciava com minhas inquietudes periódicas. Aquilo tudo me incomodava de certa forma, mas a todo mundo se é permitido ter uma loucura. A dela era pequena diante das loucuras das outras seis.

Desci minha cabeça em direção aos seus seios. Passei meus lábios lentamente pela pele até que os mamilos estivessem rígidos. Nesse momento, ela enlaçou suas pernas em minha cintura e me puxou para junto de si.

Deixei os seios de lado e fixei meu olhar em seu rosto.

Seus olhos ardiam de desejo e de uma certa indignação.

Eu sabia que no fundo ela não admitia a presença das outras seis em algum lugar de minha mente. Ela não era de acreditar em conceitos como almas gêmeas ou felizes para sempre, e sequer acreditava em monogamia.

Ela acreditava apenas em momentos. Mas nesses momentos ela queria tudo para si.

Uma tremenda ególatra, possessiva e centralizadora.

Eu a amava por isso. Pela intensidade que ela trazia para nossos encontros, e ainda mais pela liberdade que ela me dava quando não estávamos juntos.

Mantive nossos olhares fixos durante alguns instantes e então afrouxei o aperto em seus pulsos, afastando meu rosto.

Ela tentou me puxar mais para perto de si, mas eu me desvencilhei e me pus de pé.

Seus olhos agora transpareciam perplexidade e contrariedade.

Pôs-se de pé também e me encarou, do alto de seus 1.60m.

- Não me deseja mais?

- Pelo contrário.

- E então?

- Então o que?

- Porque você não está dentro de mim agora?

- Porque gosto do seu olhar de contrariada.

- Você é um idiota às vezes.

- Aprendi com a melhor. – Disse sorrindo – E a empurrei contra a parede.

Dessa vez ela tentou se desvencilhar, mas a mantive presa.

Seus olhos faiscavam de raiva. Mas por trás da raiva eu via desejo.

- Me solte, seu filho da puta – Disse-me irritada.

- Minha mãe não tem nada a ver com isso.

- Você é um idiota mesmo.

- Você é perfeita.

Ela enrubesceu e parou de se debater.

Aproximei meu rosto do seu e libertei seus braços.

Suas unhas se cravaram nas minhas costas e eu me contorci pela dor, mas também com algum prazer.

Nossos lábios se encontraram, entre beijos e mordidas.

Éramos únicos, um na vida do outro. Senão para sempre,

pelo menos por aquele momento.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 06/12/2016
Reeditado em 06/12/2016
Código do texto: T5845196
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