Petit gâteau

Será que essa camisa ta boa? Quer dizer, só tenho dois tipos de cores no meu armário de estilo minimalista. Preto e branco. Acho que vou pôr uma preta lisa sem estampa nenhuma, porque se ele não gostar de guns como eu e tiver estampando na minha camisa? Melhor preta lisa mesmo por via das duvidas. Mas será que ele não vai me achar simples demais assim? Melhor colocar a branca com estampas de rosas. Mas eu uso essa blusa quase todo dia. Melhor não. Apesar de que ele nunca me viu. Já sei, vou ir com a camisa listrada preta e branca. Decidido. E quando chegar lá, será que eu abraço ele ou só aperto a mão e sorrio? Se eu abraçar pode ser que ele pense que estou dando moral demais, e se só apertar a mão vou ser fria. Ai meu deus, lá vem ele. Haja naturalmente...

- Oi ! Luiz né? - digo sorrindo e imóvel na frente dele q também está sorrindo e com cara de que abraça quando vai cumprimentar.

- Sim, sou eu.- diz ele antes de me dar um abraço curto em que pude sentir o cheiro do seu perfume masculino.

- Vamo entrar ou você quer dar uma volta antes? - ele pergunta apontando na direção do restaurante em que marcamos de nos encontrar.

- Ah vamos entrar logo né.

Entramos e ele reservou uma mesa pra nós no lugar mais reservado onde da pra ouvir a banda tocando e a luz é fraca deixando o ambiente aconchegante e mais romântico do que eu esperava. Agora estamos sozinhos, eu ele e os dois cardápios a nossa frente.

- quer comer o que? - ele pergunta olhando pra mim por cima do cardápio.

Fico parada por alguns segundos observando seu rosto, seus olhos ansiosos mas cheios de bondade, seu sorriso nervoso e ao mesmo tempo acolhedor.

- Vamos pedir um petit gâteau ! - digo sem tirar os olhos dele.

- Mas isso é uma sobremesa? - diz ele dando uma risada gostosa e meio que perguntando e afirmando.

- Eu sei. Gosto de comer as melhores coisas primeiro, nunca se sabe quando vai acontecer um terremoto ou um tiroteio. Já pensou? Aí vamos estar no prato principal e morrer sem ter comido a melhor parte q é a sobremesa. - digo num tom sério e levantando uma sobrancelha. O que faz ele rir .

- Tudo bem, você tem razão. Petit gâteau. - ele fecha o cardápio e chama o garçom. Comemos nossa sobremesa, conversando sobre coisas banais. O que faz da vida. Estuda, trabalha. Quantos irmãos tem. Prefere gato ou cachorro... E por aí vai. Será que ele vai me achar uma louca se eu disser que sou viciada em biscoito recheado? Louca e compulsiva. Quer dizer, todo mundo tem um vício. Mas assim como eu? Acho melhor eu não falar disso. Será que ele vai reparar que eu fico viajando na maionese quando ele ta falando alguma coisa? Provavelmente sim. Será que ele vai se irritar com isso? Ou pensar que eu não tô nem aí pro que ele fala? Quer dizer , eu sempre fui uma criança com deficit de atenção, quando cresci fiz tratamento e ACHO que melhorei, mas volta e meia me perco em pensamentos e esqueço que tem alguém do meu lado falando comigo. Tomara que ele não leve a mal. Será que ele vai querer sair comigo de novo? Quer dizer, eu sou legal as vezes...

- Júlia ? - diz ele olhando pra mim fixamente.

- Sim? Desculpa eu tava distraída - digo voltando a prestar atenção em seus olhos .

- Eu tava dizendo que a gente já pode ir, eu já paguei a conta. - diz ele sorrindo pra mim e tocando minha mão por cima da mesa.

- Ah claro, não. Desculpa. Vamos sim. - é nesses momentos que eu me sinto patética. Agora ele com certeza não vai querer sair comigo mais.

- Então, ainda temos um tempinho, quer dar uma volta? - pergunta ele segurando minha mão e com a outra afastando uma mecha de cabelo meu do rosto. O toque dele é tão suave que mal da pra sentir , mas mesmo assim me arrepia.

- claro, vamos dar uma volta... A sua casa é aqui perto né? - pergunto sem pensar enquanto já estamos andando.

- Sim, pertinho.

Andamos cerca de 10 minutos quando ele parou em frente a uma casa com cerca viva, daquelas feitas de arbustos bem podados, e um portãozinho de ferro. Ele abriu o portão e eu entrei, passamos por um jardim cheio de anões em miniatura e algumas flores rosas, acho que conheço elas como maria-sem-vergonha, pelo fato dela dar em todo lugar. E me pergunto se seria estranho demais se eu falasse todas essas coisas. Quer dizer, ele passou a tarde comigo e já deu pra perceber que eu tenho alguns parafusos faltando, ou talvez ele também tenha e não esta querendo falar...

- Ele gostou de você. - diz Luiz de repente se abaixando e fazendo carinho na criatura mais fofa do universo.

- Oh, você tem um cachorro! - um labrador enorme está parado aos meus pés balançando o rabo e botando a língua pra fora.

- É ela na verdade. Sufi o nome dela. Boa menina. - diz ele ainda abaixado brincando com ela. - Vamos entrar ou não?

Assim que entramos na casa dele sou invadida por vários cheiros. Obviamente cada casa tem um cheiro que só quem é de fora percebe, as pessoas que ali habitam já se acostumaram e nem sentem mais. O cheiro era de pet shop misturado com perfume caro de homem. Um cheiro agradável até, de roupa lavada e sofá novo.

- Quer beber alguma coisa? - ele pergunta tocando meu braço de leve só pra chamar minha atenção. O lugar onde sua mão repousou parece queimar a minha pele e fico ciente de seu toque mais do que tudo.

- An... Quero sim. - digo me afastando e indo sentar no sofá.

- Aqui está, você gosta de suco de maracujá né? Aqui tem vinho e cerveja também, mas não sei se vc bebe... Enfim ta aí se não... - diz ele parecendo super nervoso agora.

- Ei ta tudo bem, eu bebo suco. - o que me faz rir e ele automaticamente relaxa e ri também. - Então, você mora sozinho né?

- É, tem pouco tempo que me mudei pra cá, pra capital. To comprando as coisas aos poucos ainda. - diz ele agora se sentando em cima da mesinha de centro, de frente pra mim. Terminei de beber o suco e estou com o copo na mão encarando ele. Os olhos castanhos, agora mais de perto posso reparar em suas olheiras, algumas cicatrizes de espinha, e outra ainda mais chamativa na testa.

- O que foi? - ele pergunta com a voz um pouco mais baixa e suave.

- Ah nada, eu tava pensando num negoço aqui... - digo sem desviar o olhar dele.

- O que você estava pensando? - diz ele se aproximando ainda mais, de forma que nossos joelhos se tocam e ele põe as mãos nas minhas coxas, uma em cada lado.

- Eu tava só... Pensando na vida...- digo seguindo o movimento de suas mãos que agora estão paradas. Quente, macio e sutilmente sensual é o seu toque. Agora ele está olhando pra minha boca fixamente. Quando de repente, deixo cair o copo no chão e lá se vai o clima perfeito.

- ah me desculpe, deixa que eu limpo.- digo já me levantando e catando os cacos de vidro com a mão.

- Julia.

- Eu limpo, ta tudo bem.

- Julia.

- Sério, de boa, eu limpo. - digo andando a procura de uma lixeira. Ele segura meu braço e me faz parar, sinto minhas bochechas corarem.

- Julia. - O modo como ele diz meu nome, num sussurro, calmo e autoritário me faz parar e quando meus olhos encontram o seus parece que nada mais importa. Ele pega minhas mãos ainda com os cacos de vidro e deixa cair no chão. Sem falar uma palavra ainda segurando minha mão, me leva pro seu quarto e fecha a porta. Me prensa contra a parede mas não me beija. Fica só ali, seu corpo encostado no meu, nossa respiração ritmada. Suas mãos vão subindo pelos meus braços, ombros, cintura... Até que eu não aguento mais e o beijo. Um beijo carinhoso e cheio de promessas não ditas. Ele toma as rédeas da situação, pega minha perna e a levanta me empurrando mais ainda na parede. O beijo agora se tornou furioso e cheio de urgência. Entre beijos e volumes por baixo da calça ele me guia até sua cama e eu caio de costas, sem tirar os lábios dos dele. Tiro sua camisa e ele tira a minha. Roupas voam pelo quarto e estamos nus.

- Julia? Você quer? - diz ele beijando meu pescoço com a respiração ofegante.

- Quero - digo de olhos fechados sentindo sua maciez de sua boca na minha nuca. Ele então volta pros meus lábios e me penetra, profundamente e de uma vez só, toda sua extensão dentro de mim. Dou um gemido de prazer e ele começa a entrar e sair cada vez mais rápido.

- Vai forte - peço pra ele.

E assim fizemos amor a noite toda. Ele me virava de quatro e puxava meu cabelo, segurava meu quadril e ia enfiando em mim rápido e com força. Sua boca também me explorou em lugares inesperados e cheguei ao ápice do prazer. Depois de horas assim, deitamos abraçados, os dois exaustos.

- Sobremesa antes do prato principal hein? - diz ele fazendo referência ao meu comentário no restaurante.

- Ah voce não presta Luiz. - digo rindo e socando de leve seu peito.

- Eu adorei te conhecer sabia? Óbvio que você tem um corpo maravilhoso. É gostosa pra caralho. Mas é a menina mais legal, engraçada e espontânea que eu já conheci. Você não finge nada. É 100% você. - diz ele acariciando meus cabelos.

- Sabe. Eu quero que a gente continue se vendo, e se falando e se pegando. Quero você na minha vida.

- Uau, você não sabe onde está se metendo viu senhor Luiz. - digo fazendo graça , porque é a forma que eu tenho pra lidar com situações como essas.

- Julia, eu quero me meter em todo quanto é lugar com você. E em você também.- diz ele também fazendo graça e me beijando. No fim das contas, não importou a roupa que eu vesti, as coisas que eu falei e deixei de falar. Ele gostou de mim, mesmo eu sendo assim toda maluquinha. O meu jeito estranho encantou ele. Assim como a estranheza dele me fascina. Petit gâteau.

emillybuscaroli
Enviado por emillybuscaroli em 28/11/2016
Código do texto: T5837824
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