Havaianas na prisão
Por Gabriella Gilmore
Havaianas na prisão
Roberta trabalha em um local onde as mulheres se vestem muito elegantemente, sem contar que elas são fabulosas, cada uma com sua beleza. Em particular, tem a morena dos cabelos lisos, da fala agitada e que revela um impossível sorriso largo cheio de covinhas.
Falante que só, Vanessa consegue deixar o ambiente de trabalho mais divertido com suas infinitas histórias.
Fazendo pouco menos de um mês de trabalho, Roberta quase não falava, apenas ouvia com atenção as coisas que eram relacionadas ao trabalho ou algo diretamente a ela. Uma vez não pode deixar de escutar um comentário entre algumas amigas, sobre a relação da Vanessa com os chinelos Havaianas. Curiosa, ela se juntou a rodinha para escutar.
_ Jura que ela chega de Carmen Steffens e os tira quando senta em sua mesa?
_ Juro. Ela adora aquelas Havaianas. Ela sempre troca quando está à vontade em sua sala. Respondeu uma das garotas.
Muita gente ainda olha os confortáveis chinelos Havaianas com desdém, preferindo assim sandálias de marcas caras e afins. Pelo visto, Vanessa era uma bela menina simples.
Nem Roberta soube dizer o porquê da vontade imensa de abordar a própria para fazer algumas perguntas, mesmo que fossem tolas. Houve um momento do intervalo para o lanche, ela logo parou a mocinha da voz de menina.
_ Vem cá. Me conta essa história das Havaianas. Eu achei muito fofo.
Roberta ficou meio sem graça por conta da falta de intimidade que elas tinham, mas resolveu encarar.
Muito simpática, Vanessa disparou a contar.
_ Uma vez, namorei um rapaz que estava preso. Quando eu ia lá visitá-lo, a gente só podia entrar de blusão, calça jeans e chinelos. Nem rasteirinha eles nos permitiam.
Eu olhei para cara dela pensando: “Essa guria está de gozação”.
_ Você está de brincadeira. Afirmei.
Ela começou a rir.
_ Não moça, é serio. Lá na cadeia era até divertido, mas pena que a gente nunca podia ir arrumada. A única forma de eu me sentir menos desajeitada, era comprando uma Havaiana nova a cada visita. Pensa. Foram oito meses de visitas! Exclamou ela.
Meu cérebro tentava processar aquilo, porque ela era muito bonitinha, certinha, para ter vivido uma situação daquelas, então eu ria, ria muito dentro de mim, ainda acreditando que aquilo fosse mais uma de suas histórias.
_ Sabe Roberta, eu me sentia bem fazendo aquelas visitas. Lá dentro tem muita gente ruim, claro que tem, mas tem muita gente boa e simples também. Algumas pagando pelos erros dos outros, e outros pagando pelos próprios e ainda adorando aquela situação. Vai entender?!
Depois daquela enorme explicação filosófica, eu comecei leva-la a sério.
_ Minha irmã ainda tira sarro da minha cara falando dos meus chinelos, mas eles me lembram a prisão...
_ ... e você gosta deles. Completei.
_ É. Me trazem lembranças...
Se a maluquinha da Vanessa ainda está com o jovem preso, não sabemos, mas que esse caso é uma graça, isso não podemos discordar.