PÔR DO SOL EM HUMAITÁ

Era verão novamente. Um ano já se passou, desde o único beijo. Sempre o mesmo desejo. Sentir outra vez a mesma emoção. Por que o amor veio visitá-lo e não ficou? Qual o sentido daquela saudade? Qual a essência daquela força tão atrativa?

Francisco tinha vivido algo diferente. Aos trinta anos, o que agora ele sentia era estranho. Único, jamais tivera tantas lembranças e necessidade de alguém. Desde o início das suas primeiras férias em Salvador, tudo acontecia de maneira mágica, inebriante. O primeiro pôr do sol vivido na Bahia, foi no forte do Humaitá. Naquela tarde o mar e o sol seriam cúmplices. A vida trazia pela oportunidade um encontro imprevisto.

Maria precisava registrar o belo daquele instante. Como se fosse possível capturar o significado do entardecer. Os olhares se prenderam pelos raios do sol da Baía de Todos os Santos. Francisco sentiu um frenesi, algo paralisante quando olhou para aquele rosto. Olhos grandes, fortes, esverdeados, que se confundia com o próprio mar. O contorno perfeito dos lábios o fez sentir o sabor do beijo mesmo antes de experimentá-lo.

- Oi! Você pode tirar uma foto minha? Aqui é tudo muito lindo. Preciso registrar. Falou Maria, já oferecendo o celular, na certeza do sim.
- Claro, venha pra cá. Aqui vai ficar melhor. Recoste na mureta e fique de lado. Francisco começou a explicar, como um pintor diante da musa que precisava gravar na sua tela. Maria obedecia a cada solicitação, deixando o sorriso revelar a sua entrega.

Maria era uma mineira. Bela e simples. Sem esforço para o encantamento. Seu olhar atento, espontâneo e o sorriso discreto trazia mais magia para aquela alma feminina. Ela já estava indo embora. Aquela era sua última tarde em Salvador. À noite estaria retornando para Belo Horizonte. Além dos presentes da terra, levaria algo mais inquietante. O desejo de conhecer um pouco mais Francisco. Percebia que de alguma forma algo estaria  ligando-os a partir daquele momento. Ela não poderia chamar de amor. Talvez puro desejo. Mas, o encanto nasce dessa vontade.

Francisco, desde então, jamais esqueceria a expressão daquela mulher. Mesmo sem ter a certeza que pudesse encontrá-la novamente. A delícia do beijo ao pôr do sol. A presença marcante dos seus olhos e o sorriso leve e meigo ficariam tão presentes na sua vida que agora seriam chamados de saudade. A partir daquele encontro fortuito, nenhum pôr do sol seria mais em vão.