Oceano

Certa vez, numa intensa cena de amor, fui chamado de "Oceano". E apesar de tão simples o termo, se pensarmos bem, o significado é exponencial, complexo e variável.

Por que justo um Oceano?

Seria por conta de altura? Talvez força ou inteligência? Falando de amor, talvez fosse por conta da energia? Nem uma coisa nem outra? Com quais palavras deveria descrever tal definição? "Oceano".

Pudemos relaxar então. Sua cabeça deitara sobre meu peito e seu corpo sobre o meu.

Lembrei-me da infância, da primeira vez que vi o oceano de verdade. Nem me lembro que idade eu tinha, mas foi quando estava de férias. Era um mar bravo, completamente em bandeira vermelha. Nesse mesmo dia, meu tio que era surfista morrera afogado. Daquele dia em diante, fiquei com medo do mar, sequer aprendi a nadar, e meus amigos zombavam de mim. O oceano era perigoso, eu dissera sempre a todos e ganhara risadas em troca. Por que eu era um "Oceano"? Não poderia afogar alguém, nem se tentasse. Eu não era esse perigo.

Num beijo ardente, pude me lembrar do meu primeiro namorinho. Já pré-adolescente, irresponsável e cheio de energia. Não tinha medo de mais nada, já sabia nadar, e o mundo era o meu oceano e eu era o cara que queria nadá-lo. Tive minha primeira namorada num país desconhecido, lindíssimo, de paisagens e sabores exóticos. Como era atraente e complicada, uma ampla visão de mistério e realização; pintava como ninguém e como gostava de azul; falava de qualquer assunto, tinha planos para o futuro e também era mais velha do que eu. Logo, tive muito a aprender sobre a vida. Me encantava cada vez mais em sua amplitude de sabores e vontades, até que, enfim, nos perdemos no desejo e nos amamos loucamente na praia sob o luar e sentindo as ondas geladas e a areia de prata. Nada nos apagava em tamanha loucura. Estar dentro dela fora uma vasta experiência, sentir seus horizontes - uma liberdade sem fim na qual eu queria morrer de paixão.

Infelizmente, depois de um tempo, meu tempo no país acabou e para minha surpresa, minha ex estava de barriga. Senti a pressão de uma tempestade abalando minha respiração e tomei meu caminho pelo ar de volta para casa, numa naúsea terrível e um sentimento de culpa que me gelava por dentro, mas o mundo era grande e eu ainda tinha muito o que viver.

Ainda me questionava... Por que "Oceano"? Palavra de origem grega, dono do planeta azul. Onde eu me encaixava nessa descrição? Não representava perigo, mas era conhecedor de muitas coisas - algumas pelo menos.

Por entre as carícias, lembrei-me de quando comecei a faculdade, já não mais perdido na imensidão, mas sim com já a sentindo nas pontas dos dedos. Finalmente bebi feito homem e experimentei um ou dois maços para nunca mais. Tive meus deslizes e caí na farra sem pensar umas duas vezes (eu acho) mas ainda assim persisti. Tive minha primeira experiência com caras e optei pelos dois lados. E toda santa vez que a vontade me dominava, eu queria me afogar. E como eu quis ser sua vítima, sempre provando de sua maresia.

Enfim, me reencontrei aqui, de volta ao ato de prazer, cheio de vontade. Por que um oceano? - me perguntei mais uma vez e caí no desinteresse. Se eu era mesmo, nada iria me parar.

Leonardo Ribeiro
Enviado por Leonardo Ribeiro em 07/11/2016
Código do texto: T5816044
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