Meu nome é Felicidade
- Não me conformo com isso! - disse a Tristeza.
- Me encontro, sempre, rodeado de pessoas queridas, pelas quais tenho um imenso carinho, mas nunca estou contente. Há um vazio dentro de mim, parece que me falta algo para, finalmente, ser feliz.
- Ah! Uma hora isso passa! Pior sou eu que, nunca, consigo me dar por satisfeita com nada. Tudo me estressa, me deixa inconformada, não prevejo um basta nisso no futuro. - interrompeu a Senhora Revolta.
Aproveitando o momento em que todos estavam ali presentes e desabafando, a Senhorita Paixão, mesmo sendo impulsiva, é uma grande sábia, quando o assunto é sobre insatisfações da vida e sabia como ajudá-los. Dessa forma, resolveu manisfestar-se.
- Pois, então, vocês não deveriam se sentir mais dessa maneira. Para tentar acabar com isso, podiam tentar se descobrir.
- Se descobrir? Como pode isso? Eu temo a descobertas. Muitas vezes, tentar descobrir quem nós somos e o que nos encarece pode vir como algo ruim, como mudanças. - respondeu, rapidamente, o jovem Medo.
- Nem sempre, Medo! Tentar se descobrir é a melhor solução para saber quem é, o que lhe agrada, o que não suporta, qual é sua percepção do mundo e como acha que deve ser visto. É um modo de aprender a conviver com as demais pessoas, quais qualidades lhe fazem ser o "destaque" na sociedade e quais defeitos podem ser controlados ou evitados, objetivando não causar transtornos nos seus relacionamentos. É aí que eu falo sobre a mudança. - justifica a Paixão.
- Mas, e se você mudar, pensando em resultar em algo melhor e o efeito for contrário? - disse curioso o Medo.
- É preciso que esteja ciente que a vida é movida por mudanças, umas agradáveis e outras nem tanto. Não se pode viver, seguindo um único caminho com um pensamento exclusivo. Um dia, as coisas ao seu redor invertem, querido, e seguir o mesmo roteiro lhe levará ao fim. - falou a Paixão.
- Até que tem uma lógica! - respondeu o Medo.
- Sempre teve! - falou a Senhorita Paixão rindo, ao se deparar com uma coisa que parecia ser tão óbvia para ela.
- E, pelo visto, você daria um grande e belo passo se começasse mudando, encarando essa barreira que é o temor a coisas novas, impedindo-lhe de achar o verdadeiro Medo e, ao mesmo tempo, privando-lhe de positivas mudanças.
- Tem toda a razão, Paixão! Agora mesmo, irei ao mercado e não comprarei carne vermelha somente, vou dar uma variada. Que tal peixe? Até que é mais saudável!
Todos riram, entusiasmados, com a conversa que rendia. Naquele exato momento, perceberam que tinha algo errado. A Tristeza estava tão calada, em um canto isolada, parecia não querer dizer nada a respeito do assunto. Foi, então, que a Paixão a catucou e perguntou bem baixo:
- Algo dito lhe incomodou?
- Não, de maneira alguma. Na verdade, levou-me à reflexão.
- E qual seria? - indagou a Senhorita Paixão interessada.
- Faz tempo que não me apaixono por alguém. Não recebo carinhos, troca de olhares significativa e belas palavras de conforto, vindas de uma pessoa que seja apaixonada por mim também.
- É uma hipótese bem sugestiva. Talvez, seja esse o motivo de sua grande chateação.
- Sim...
- Bom, já está tarde! Preciso voltar à minha casa. Amanhã, tenho um tempo livre à tarde. O que acham de nos reunirmos aqui, novamente, para bater um bom papo, como fizemos hoje?
- Não é uma ideia muito ruim assim, porém não vou poder ficar muito tempo. Já vou logo avisando! - ressaltou a Dona Revolta.
- Por mim, tudo bem! Será mais uma tarde maravilhosa! - enfatizou o Medo.
A Tristeza, a Senhora Revolta, o jovem Medo e a Senhorita Paixão se retiraram do local e voltaram às suas residências. Quando o sol nasceu e o dia clareou, todos eles foram fazer o que era de sua rotina e, quando chegou a tarde, se reencontraram. A Senhorita Paixão teve uma brilhante ideia para ajudar seu amigo: convidou uma linda amiga, que não via fazia tempo, para passar aquela tarde com eles. Seu nome é Felicidade. Uma mulher admirável, que carrega consigo sorrisos sinceros (muito belos por sinal).
- Nossa, quem é aquela? - perguntou a Tristeza.
- É uma velha amiga da Paixão! - informou a Revolta.
- E como devo chamá-la? - insistiu a Tristeza.
- Felicidade! - respondeu a Senhora Revolta.
Avistando de longe, admirou seu corpo se movimentar pela calçada, o modo em como seu cabelo dançava sobre o vento, seu incomparável sorriso e a tamanha alegria que pertencia a ela. Como é linda! Viajou nos traços da moça até que...
- Tristeza? Ei, Tristeza? Você está bem? - gritava a Senhorita Paixão.
- Oi? O quê? Hã? - envergonhado, respondeu-a.
- Estou bem sim! Quer dizer, melhor com a presença da Felicidade aqui!
- Então, vocês já se conhecem? - perguntou a Paixão meio confusa.
- Não! - respondeu toda risonha a moça, a Felicidade.
- Mas, tenho uma breve impressão que fez algumas perguntas básicas sobre mim para todos aqui, me enganei?
- Não, está certíssima. - respondeu a Tristeza, rindo, também, e sem graça totalmente.
- Bom, como todos já sabem, esta é a Felicidade, uma grande amiga minha de infância que estava sumida faz anos. Poderia me dar alguma explicação, não acha? - indagou a Paixão descontraída.
- Passei todo esse tempo fazendo coisas incríveis. Viajei para Paris, Londres, Dubai, dentre muitos outros lugares. Estive fora o tempo todo, não me sobrou tempo, nem para informar aos meus familiares sobre esse meu plano. Precisava me distrair e posso garantir que foi uma das melhores coisas que pude fazer! - argumentou a Felicidade.
- Nossa, que aventura! - acrescentou a Paixão.
Papo vai, papo vem. A Felicidade contou toda sua trajetória por diversos lugares do mundo, despertando curiosidade em todos e vontade de fazer o mesmo. Durante a conversa, uma notável observação feita pela Senhorita Paixão foi fundamental, para compreender o que estava acontecendo. Várias trocas de olhares entre a Tristeza e a Felicidade e eram aqueles olhares de chegar ao ponto de olharem, fixamente, um para o outro e os olhos começarem a brilhar.
O final de tarde tinha chegado e todos se despediram, agradeceram a vinda da Felicidade ao encontro e esta afirmou que tinha sido um dia bastante divertido, como nunca. A Tristeza sentiu algo estranho. Aquilo lhe tocou, fortemente, de forma avassaladora, foi profundo. O que restou naqueles minutos foram suspiros. De nervosismo por falta de palavras? Talvez. Por estar tão impressionada que o que lhe sobra é olhar em seus olhos e imaginar o seu caloroso beijo de tirar o fôlego? Talvez, seja a mistura dos dois.
- ... - saía da boca da linda Felicidade.
- ... - era o que a Tristeza tinha como resposta para aquele silêncio que inquietava as mentes dos dois.
- Talvez, eu te ame. Talvez, eu esteja apaixonado por você! - soltou a Tristeza no ar da sala de estar.
- Talvez, esse sentimento seja recíproco, talvez, o nosso "talvez" seja a improbabilidade que faz de mim e de você um casal perfeito.
- Talvez, você esteja certa.
Os dois começaram a rir das próprias loucuras que estavam dizendo, mas que, de certa forma, faziam sentido para eles. A Tristeza, de maneira mansa, pegou em seus cabelos e colocaram-nos para atrás. Botou suas mãos sobre o rosto sensível da moça e, devagar, encaixou os seus lábios nos dela. O romance acabava de nascer, ou já havia nascido no primeiro momento, no qual a Tristeza avistou a Felicidade.
- Sobre a minha insatisfação, sobre o vazio e o espaço de sobra que tanto me incomodava, só tenho algo a esclarecer: foi preenchido por você e me sinto conquistado. O destino já tinha escrito nossa história, nosso encontro e nosso amor. Todo esse tempo, eu só precisava saber que era você o que me faltava, para eu ser, finalmente, feliz e só fui lhe descobrir agora! - contou à Felicidade.
E esta reforçou sua grandiosa paixão com uma frase:
- Não me conformo com isso!