Acreditar ou não?
Acreditar ou não?
Em uma grande praça próxima ao mar, um menino caminhava brincando com um boneco de marionete acompanhado por uma menina de vestido amarelinho. Para deixá-la brava, o menino agarrava a perna dela com o boneco numa cena de atrito carinhoso que os aproximava cada vez mais, tanto que ela conversava com o boneco como se ele entendesse tudo que ela falava.
O boneco não tinha nome, então tentavam insistentemente encontrar um nome para ele, mas teria que ser um nome que realmente se identificasse com o boneco.
Eles saíram da praça e começaram a caminhar pela areia da praia e quando estavam próximo às pedras, ouviram uma música distante que os deixou encantados, então resolveram conferir de perto para ver o que era.
Eles entraram correndo na praça e de longe já avistaram de onde vinha a música e sem carregar o boneco a menina chegou primeira ao local.
O garoto colocou o boneco no chão manuseando-o automaticamente, enquanto a menina curiosa o abraçava por trás, ambos com os olhos arregalados e impressionados com a figura do realejo, no qual um homem tocava música girando uma manivela e um papagaio tirava a sorte das pessoas em pequenos papéis coloridos.
O garoto admirava a habilidade do homem se comunicando com o pássaro que parecia compreender repetindo tudo que ele falava.
A menina agarradinha ao garoto encostou-se ao ouvido dele e perguntou cochichando bem baixinho. O menino sentiu como se fosse o homem e o papagaio conversando numa compreensão além da amizade, então escutou ela perguntar:
- Você acredita que o papagaio adivinha nossa sorte?
- Eu acredito! Ela falou:
- Eu não acredito!
O menino se aproximou do homem do realejo e perguntou:
- O papagaio pode tirar a minha sorte?
O papagaio repetiu: Sorte!... Sorte!... Sorte!... Sorte!
- Você tem que pagar!
O papagaio repetiu: Pagar!... Pagar!... Pagar!... Pagar!
- Eu não tenho dinheiro!
Parecendo ser tocado por uma varinha mágica de uma fada o menino com um sorriso de felicidade e ao mesmo tempo decepcionado de não ter a oportunidade de prever a sua sorte ficou apreciando a atitude de repetição do papagaio. Então perguntou ao homem do realejo:
- Qual é o nome do seu papagaio?
- Vitor.
- Um nome legal! O nome do meu boneco será Vitor.
A menina surpresa exclamou:
- Vitor!
E o papagaio repetiu: Vitor!... Vitor!... Vitor!... Vitor!
A menina tirou um dinheiro do bolso e falou:
- Eu pago para ver a sorte dele, também pago para ver a minha e se possível a do boneco também!
O papagaio repetiu: Sorte!... Sorte!... Sorte!... Sorte!
O homem perguntou:
- Quem vai ser o primeiro?
A menina falou para o papagaio:
- Vitor! Capricha na minha sorte e ficou pertinho falando com ele:
- Esse bilhete não Vitor! Como se estivesse entendendo o que ela falava, o papagaio trocava de bilhete.
Esse também não Vitor! Ele ia para outro bilhete, então ela falou:
- Isso Vitor! Pega esse bilhete pra mim!
O papagaio deu o bilhete na mão do homem e voltou para a gaiola, então o homem falou para o papagaio:
- Você não tem educação! Vem carimbar o bilhete da mocinha para garantir que a sorte dela acontecerá. O papagaio carimbou furando o papel com o bico. – mais um carimbo! Ele furou de novo e o homem entregou o bilhete para a menina que preferiu ler sozinha. Entre tantas coisas escritas no bilhete, uma chamou a atenção da menina deixando-a furiosa: “Um dia você encontrará um grande amor”. Ela olhou para o garoto e pensou: Eu não acredito no que está escrito nesse bilhete e correu para ver o que sairia escrito no bilhete do garoto.
Ela abraçou o garoto que estava com o boneco nas costas, parecendo que o boneco estava mais ansioso que o próprio garoto, enquanto ele falava com o papagaio:
- Vitor! Vem pegar a minha sorte!
O papagaio repetia: Vitor!... Vitor!... Vitor!... Vitor! E o garoto dava risadas.
O papagaio chegou à porta da gaiola, pegou um bilhete e o menino falou:
- Carimba pra mim Vitor! O papagaio carimbou furando o bilhete com o bico duas vezes e a menina falou:
- Deixe-me ler o seu bilhete! Pegando da mão do menino. Entre tantas coisas escritas uma chamou a curiosidade da menina: “o amor caminha ao seu lado e está ao seu alcance”. O menino falou: - Eu acredito no que está escrito nesse bilhete!
A menina falou para o homem do realejo:
- O senhor não precisa tirar a sorte do boneco. Tira outro para mim que eu quero ter certeza da minha sorte e chamou o papagaio:
- Vitor! Vem pegar a minha sorte!
O papagaio repetiu: - Sorte... Sorte!... Sorte!... Sorte!
Depois saiu da gaiola e pegou outro bilhete para a garota, desta vez sem interferência dela. A menina esperou o Vitor carimbar o bilhete com duas bicadas e saiu para ler sozinha. Entre tantas coisas escritas, havia uma que não a deixou muito satisfeita: “O amor é como o sol, fica escondido atrás das nuvens e quando você menos esperar, ele brilhará aquecendo o seu coração”. Ela ficou com uma sensação distante do amor e pensou: Eu não acredito no que está escrito nesse bilhete. Aquela sensação repentina de solidão percorreu o coração e o corpo dela, então ela correu e abraçou o menino por trás apertando-o com força e pedindo com carinho:
- Me deixa levar o Vitor um pouquinho! Pegou os comandos do boneco na mão e falou:
- Vem comigo! Caminharam juntos saindo da praça e deixando a música do realejo cada vez mais distante, desaparecendo com o passar do tempo.
Paulo Ribeiro de Alvarenga
Criador de vaga-lumes
Iluminando pensamentos