Perdi o medo...

Desci de paraquedas sem medo de estatelar-me no chão... pousei como se tivesse asas, e me desfiz daqueles emaranhados de amarras sentindo que metade da minha tristeza seguia junto naquelas amarras tão perfeitas e com os nós calculados em direções tão certas , para que nada desse errado... exatamente como eu queria para a minha vida...

Agora solta na areia criaria minhas próprias regras... iria a lugares que nunca fui... me perderia e me acharia no meio das flores... subiria as montanhas ao cair da noite, onde meu coração aportaria solitário tentando curar as feridas para um novo recomeço... Contaria para cada estrela os dias de tristeza por que passei... Falaria das minhas dores para aquela lua tão radiante e dominadora no céu, pedindo a ela um pouco daquela luz...

Aquela nuvem cinzenta do céu teimava em me seguir... ela começa a se juntar com outras e mais outras e mais uma vez ela me interromperá, sem que eu fale o fim da minha história, pois ela vai apagando as estrelas aos poucos e eu então estarei falando sozinha... nem mais as estrelas me ouvirão... Chega a tempestade... e me lembro que perdi o medo da chuva, assim como o das alturas... por isso cheguei ali de paraquedas sem nem olhar para trás... estou no alto, mas o dilúvio parece não ter fim... as roupas coladas em meu corpo vão me fazendo sentir o frio da madrugada... me sinto um náufrago em meio ao nada... Agora tenho medo... não tem lua , nem estrelas, e a tempestade chacoalha os galhos das árvores fazendo com que eles dancem assustadoramente em minha volta... Nenhum arco-iris brotará desta tempestade... nenhuma cor iluminará meu caminho de volta...

Fecho os olhos e me aperto em meu próprio abraço tentando expulsar de mim todos os medos que ainda ficaram... A chuva passa... ouço os gemidos do vento que soam aos meus ouvidos tal qual uma musica fúnebre... lembro que meu coração está de luto... ele não mais viverá o ontem... e o hoje também esta terminando sem vida... e o que será do meu amanhã...

Preciso voltar... tenho que recomeçar... meus pés tropeçam nas folhas que se acumularam no caminho, e eu as vejo também sem vida, assim como eu.... tiro os sapatos, e descalça vou sentindo as folhas abandonadas em meus pés massageando meu caminho para que ele fique menos árduo... Fui atirando partes de mim pela estrada e agora volto para recolhê-las... No momento não tenho onde guardá-las, mas tento segurá-las todas em minhas mãos sem perder nenhuma... sei que vou precisar de cada pedacinho meu para montar minha vida novamente...

Regina Luiza
Enviado por Regina Luiza em 13/10/2016
Reeditado em 23/04/2019
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