A menina da calcinha de frutinha
A menina da calcinha de frutinha
Pulando entre as pedras, eu vou com minha perna de pau pisando em folhas secas pelos dias quentes de sol, assim sigo caminhando e ouvindo meus passos de perna de pau estalando as folhas pelo caminho: Ploc!... Ploc!... Ploc!... ploc!... As folhas caem sobre mim, em minha frente e sobre tudo enfeitando o caminho que vou passar.
Minhas mãos estão amarradas e meus pés também, mesmo assim continuo andando guiado pelas mãos hábeis de um menino sonhador, que me manuseia contando uma história criada e atuada em plena praça, assim sento nos bancos, subo nos muros e caminho seguido pelos olhos de pessoas curiosas querendo me pegar no colo.
Caminhando na história do garoto, eu nunca imaginei que uma menina iria atuar também, porém o mundo improvisa a arte e a vida se encarrega de fornecer o cenário. Num improviso instantâneo a arte a colocou na história e foi desta maneira que repentinamente ela apareceu com um lindo vestido amarelinho cheio de morangos vermelhos estampados. Ela apareceu e perguntou para o garoto:
-Me deixa manusear o seu boneco de pau um pouquinho?
A partir daquele momento saí da história do garoto e caminhei na imaginação da menina de vestidinho amarelinho. Cautelosamente ela me levou em passos lentos até uma poça de água e o menino falou: - Levanta os pés dele para não molhar! A menina me levantou e pulamos a poça d’água, depois perguntou para o garoto:
- Me deixa levar o boneco para minha casa? Amanhã eu trago ele de volta para você.
- Não! Como saberei se você voltará com ele?
- Eu deixo uma coisa como garantia com você!
- Você deixaria o quê? Não vejo nada na sua mão!
- Me deixa pensar! Já sei! A menina tirou a calcinha por baixo do vestidinho amarelinho e deu na mão do menino como garantia.
Sem palavras o menino ficou olhando uma calcinha amarelinha com amoras pretinhas estampadas em sua mão, enquanto a menina levava o boneco de pau embora caminhando pela praça.
O menino enfiou a calcinha no bolso e pensou: E agora! O que eu faço?
A noite solitária foi longa e a dúvida se ela voltaria foi muito pior. Ele nem conseguiu dormir de tanto pensar.
O menino passou o dia seguinte inteiro na praça e nada da menina de calcinha de frutinha aparecer. Então ele resolveu procurá-la colocando cartazes nos postes, nas árvores e em todo lugar escrito assim:
“Preciso encontrar a menina de calcinha de frutinhas que está com meu boneco de pau. Se alguém souber onde ela está: Por favor! Avise-me.”
O menino passava o dia todo sentado naquela praça, cada dia mais triste mantendo a calcinha no bolso à espera da menina. Às vezes ele pegava a calcinha na mão, olhava as estampas de amoras maduras e meditava profundamente tentando entender o que teria acontecido.
O sol já havia se despedido do dia dando lugar à lua que trazia a noite cheia de brilho, quando ele avistou a menina entrando na praça manuseando seu boneco de pau, que caminhava sobre as folhas como se nada tivesse acontecido.
No momento em que o boneco avistou o menino, caminhou rapidamente para os seus braços. Então a menina falou:
- Eu vim lhe entregar o seu boneco de pau! Ele já estava morrendo de saudades de você, fazendo cara de triste e se negando a obedecer aos meus movimentos. Olha como ele está feliz nos seus braços!
O menino agradeceu por ela ter trazido o boneco de volta, enfiou a mão no bolso pegando a calcinha de frutinhas e entregou para ela, que vestiu a calcinha na frente dele, provando a confiança depositada nele quanto ao trato feito.
Os dois saíram manuseando o boneco que caminhava feliz enquanto o menino contava uma história de um príncipe e uma princesa procurando a caixinha mágica do amor.
O boneco caminhava disfarçando enquanto eles brincavam felizes, pois percebera que eles já tinham achado a caixinha, abri-la seria apenas uma questão de tempo.
Paulo Ribeiro de Alvarenga
Criador de vaga-lumes
Iluminando Pensamentos