A PRINCESA E O BEIJA-FLOR

Num reino muito distante havia uma princesa chamada Natasha. A princesa era bela, porém muito solitária e triste. Seu pai, o rei Augustus, se preocupava com a solidão e tristeza da filha. Por isso decidiu presenteá-la com um lindo beija-flor azul, que se transformou em companheiro inseparável da princesa, que decidiu chamá-lo Mainumbi, nome cujo significado é, “aquele que encanta junto à flor, com sua luz e esplendor”.

Natasha cuidava do beija-flor com muito carinho e contrariando a sugestão do seu pai, deixava-o completamente livre. Assim, a pequenina ave jamais ficou presa na gaiola dourada com a qual o rei Augustus havia presenteado a filha. O beija-flor, portanto, era livre para partir na hora que bem quisesse. Mas ele resolveu ficar.

Em retribuição ao carinho que recebia da princesa, o beija-flor passava horas e horas beijando as flores do jardim do castelo, oferecendo um espetáculo de rara beleza a todos os que paravam para observá-lo. Mainumbi, assim como todos os beija-flores, alçava vôo por entre as flores. Às vezes parava em pleno ar; decolava; aterrissava verticalmente; dava marcha à ré em pleno voo.

Havia uma grande variedade de flores nos jardins do castelo e o espetáculo oferecido pelo beija-flor se repetia todas as manhãs, o que encantava os olhos da princesa, a qual jamais se cansava de apreciar o balé que a ave dançava incansavelmente.

O rei Augustus costumava dizer a princesa, que prendesse o beija-flor na gaiola dourada, mas ela jamais deu atenção àquela sugestão. “Os pássaros não nasceram para viver presos. Eles precisam ser livres para voar e enfeitar nossa vida, ” afirmava a princesa Natasha.

Certo dia, o rei Augustus foi levado às pressas para o hospital. Sofrera um princípio de enfarto e precisou ficar internado por alguns dias. A princesa sentia muito a ausência do seu pai e somente a presença do beija-flor amenizava a saudade que sentia. Logo o rei recuperou-se e voltou para a casa, enquanto a vida seguia tranquila.

A princesa acordou certo dia e viu com surpresa, que seu beija-flor não estava mais sozinho: arranjara uma companheira cuja plumagem era cor de rosa, o que chamava a atenção de todos. Agora o jardim do castelo mais parecia um salão de festa, devido a dança ensaiada pelo casal de beija-flores.

Natasha percebeu que o comportamento de Mainumbi mudara. Ele agora parecia se exibir para a companheira quando abria a cauda em leque, ou a cada vez que alçava vôo em marcha à ré, ou quando simplesmente ficava parado no ar, com as asas batendo em forma de oito. A princesa ficava embevecida apreciando o espetáculo.

O inverno chegou. As flores murcharam. O jardim ficou triste e o beija-flor desapareceu. Da janela do seu quarto, a princesa olha para o jardim outrora belo e florido. Hoje, ele se encontra vazio e cinzento. Uma lágrima corre pelo rosto de Natasha e é carinhosamente enxugada por seu pai que lhe diz com ternura: “Filha, você devia ter colocado o beija-flor na gaiola, como eu sugeri”. Ao que ela responde: “Pai, devemos dar àqueles a quem amamos asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar. Amo a liberdade e por isso deixo as coisas que amo livres. Se elas voltarem, é porque as conquistei; se não voltarem, é porque nunca as possuí”. O beija-flor azul jamais voltou ao jardim daquele palácio e a princesa jamais voltou a sorrir. (01/Out/2011)

Este conto é parte integrante do livro A HISTÓRIA DE Ó E OUTRAS HISTÓRIAS, publicado pela autora.