A true love story
Preâmbulo
Contos dramáticos, longos romances, filmes, músicas, novelas, seriados, guerras, “what more in the name of love?”, perguntaria o U2. O que for necessário, responderiam os jovens. Amor não é um sentimento, é uma justificativa para uma atitude que poderia ser tida como débil. Sócrates diria que o amor é a ausência do belo e do bem, desembocando nos antônimos feio e mau. Ainda segundo os gregos, que conversavam enchendo a cara de vinho num banquete, o amor poderia ser um desejo ardente de se ter o que não se tem. Logo, quando se conquista o desejado o amor bau bau. Segundo o dicionário Aurélio, o amor também é enquadrado como uma inclinação forte por outra pessoa, geralmente de caráter sexual, mas que apresenta grande variedade de comportamentos e reações. Bem, certamente ele existe, e determina a vida de todos nós.
Personagens
Neb | Mais ou menos 1,70m, 100kg, 25 anos e cabelo comprido. Estudante do quarto ano de jornalismo. Se veste como repórter de rádio, sempre de xadrez, mas trabalha numa assessoria de imprensa. Gosta de ouvir Rock’n Roll e toca baixo. Como quase todo gordinho, Neb é inseguro e meio engraçado. Nunca teve uma namorada.
Júlia | Cerca de 1,73m, 65kg, 21 anos, cabelo nos ombros. Cursando o 3º ano de enfermagem. Tenta não se preocupar com a moda, gosta de blusinhas com alcinhas e casaquinhos de lã. Faz estágio num hospital público. Gosta de ver o pôr do sol num mirante e de praia. Não se acha bonita e é traumatizada pelas decepções da vida.
Tempo
Se conheceram no 2º ano de faculdade dela, mas Neb já a observava com carinho, de longe, antes de os dois se tornarem amigos. Em seguida ele entrou num projeto cultural que Júlia fazia parte só para ter mais contato com ela. Por uma coincidência da vida vieram a se tornar vizinhos seis meses depois. Foi nessa época que perceberam o quanto gostavam um do outro. Em pouco tempo estavam indo nos mesmos lugares e tinham os mesmos amigos. As coisas aconteciam cronologicamente e um futuro juntos, e felizes, era tão certo quanto o fogo é quente.
Espaço
No começo se encontravam na lanchonete da faculdade, naquelas mesas enormes que se formam com os amigos no frenesi do intervalo. Sem perceber os dois sempre estavam próximo. Nas reuniões para falar sobre os eventos que iam realizar dificilmente discordam da opinião um do outro. Quando morando lado a lado Júlia ia na casa de Neb todo dia, mas ele raramente retribuía as visitas dela, mas sempre comprava queijo porque sabia que ela gostava e fazia café quando ela chegava.
O período de vida universitária é marcado pelas novas experiências, e grande parte delas está ligada ao flerte. Qualquer espaço que reúne centenas de jovens, com os hormônios a flor da pele, é um convite para aventura, um lugar onde tudo se desenvolve.
Narrador
Eu era próximo aos dois. Na verdade eles começaram a ter mais contato porque o Neb sempre vinha me chamar para fumar um baseado com ele no intervalo. A Júlia também fumava, e um dia veio junto. Quando comecei a reparar no que estava acontecendo os dois já estavam sempre grudados, e ela sempre perguntava dele, e ele dela. Pareciam ter nascido um para o outro, mas tinham uma certa dificuldade de reconhecer isso. Nunca entendi o por quê. Os dois sempre foram bastante reservados, então ninguém falava sobre isso com eles, nem eles falavam com alguém, mas todo mundo falava disso longe deles. Era impossível não reparar no jeito especial que se tratavam e em como, as vezes, não se olhavam.
Enredo
Ela admirava o quanto ele era atencioso com as outras pessoas e a quantidade de amigos que tinha. Dava para perceber isso vendo como Júlia se esforçava para fazer a mesma coisa que Neb. Ele jogava futebol com os amigos, ela entrou num grupo de corrida. Ele sempre carregava um bom livro, ela começou a levar um na mochila também. Neb achava que Júlia era diferente de todas as outras garotas porque era bonita, inteligente e não ficava se exibindo. Sua admiração por ela ficava nítida na forma como a tratava, sempre tentando arrancar um sorriso dela e facilitando a sua vida. Neb sempre pensou que jamais teria alguma chance com alguém como ela, tanto que as indiretas dela demoravam dias para serem percebidas por ele, quando o momento já tinha passado. Júlia achava que Neb pensava que ela não estava à altura dele, porque ele sempre respondia as investidas dela com um sorriso desconcertado, e não com palavras românticas ou um amoroso beijo. No ritmo do “ninguém me ama, ninguém me quer”, os dois se identificavam cada vez mais um com o outro. As chances de ficarem juntos se multiplicavam a cada encontro. Numa festa, assistindo um filme deitados na cama ou uma tarde perdida, a todo momento pressentiam que uma coisa fantástica podia acontecer. Quando se tocavam acidentalmente, ou num abraço e beijo de “oi, tudo bem”, as borboletas no estômago diziam que aquele amor não tinha nada de cortês.
Diante da falta de iniciativa de Neb, Júlia arrumou um namorado…