O recôndido

O recôndido

Natali ajeitou-se no casaco, foi com vestido de seda florido nos tons rosa e azul, perfume que usava desde antes de casada, sapatos scarpin. Participaria da última audiência que encerraria a instrução probatória . Era fim de caso. Como? Olhar no olhos daquele que tinha comido-a dentro e fora, o mimo que coloriu seus dias por anos, alocar-se-ia frente a frente com ela em audiência. Na antessala, olhando o movimentar das partes e testemunha, prejulgou estar prestes a última tentativa de um jogo criado por si para tentar o resgate dele.

A ação de dissolução da sociedade matrimonial proposta pela esperançosa mulher foi história que rendeu varadas e açoites dos dois lados; ferida que tornou cancerígena pelos anos a fio no afã de prorrogar o fim, queria o reconsiderar dele. Não teve jeito, dia crucial, fim da instrução, dali para sentença somente alguns passos. Caso a tentativa levada a cabo pelo Juiz de retomada do vínculo matrimonial fosse dado por infrutífera(temor tratado como ferro em brasa no peito por Natali), teria que tomar para si o chicote, mudaria de mão.

Entregaria a roupa suja para o Estado determinar a lavagem, o que importaria ser tudo dela a responsabilidade, ou não! Não teria mais aqueles mãos, o sorriso, o calor dos braços que esfriaram, tornando nisso. Mais um caso que será parte integrante das estantes dos Tribunal. Mera cópia salva em CD. Após o trânsito em julgado, publique-se, Intime-se, registre-se e arquive-se.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 09/09/2016
Reeditado em 09/09/2016
Código do texto: T5755450
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