Brincando no quintal da minha avó
Brincando no quintal da minha avó
Não entendo como um quintal tão grande consegue caber na minha imaginação! Fecho os olhos e vejo os animais correndo! A galinha e os pintinhos! A porca e os porquinhos! As borboletas! Os passarinhos e a minha avó jogando comida para os bichinhos. Era uma época em que eu era pobre e tinha tudo e hoje sou rica e não tenho nada.
Às vezes tento abrir a porta da minha história, mas ela está trancada! Quer ver o que aconteceu na minha história? Então olha pelo buraco da fechadura!
Cresci brincando no quintal da minha avó e lá era muito feliz com minha mãe.
Encoste bem seu olho no buraco da fechadura e você me verá correndo atrás das galinhas. Eu corria atrás delas tentando pegá-las, até que uma entrou no meio do mato. Parei e pensei: Minha mãe falou para eu não entrar no meio do mato porque tem cobra! Mas eu sou teimosa e vou entrar! Ela não vai saber! Entrei e vocês nem imaginam o que aconteceu! Cortei meu pé e voltei chorando. Minha mãe carinhosamente curou o machucado fazendo remédio com fumo.
A casa da minha avó tinha um quintal muito grande! Enorme! Ele parecia uma chácara cheia de animais, de pés de frutas e muitas flores. Como pode! Esse quintal tão grande caber nas minhas lembranças, ainda mais caber no buraco de uma fechadura! Eu sou da roça e do mato, por isso eu gostava tanto de brincar lá!
Vou entrar nessa história pelo buraco da fechadura e ver minha mãe de novo! Olha ela lá! Procurando ervas no quintal para fazer remédio. Mãe! Posso ir com você! Depois eu ajudo a senhora a cuidar da casa do Padre. Aquele quintal mágico levou a menina e a mãe para aliviar a saudade fuçando no mato à procura de ervas.
A menina encostou bem o rosto na história olhando pelo buraco da fechadura e viu a casa da vovó! Magicamente a porta da história se abriu e ela entrou correndo naquela casa linda coberta de sapé, corria descalça no chão de terra batida e agarrava o vestido da vovó que estava fazendo comida no fogão à lenha. - Vovó! Eu queria contar um segredinho para a senhora! Deixa! - Pode contar Nair!
- Eu gostava tanto de estudar na escola de madeira! Lá a gente brincava de pular corda, de esconde-esconde e ninguém me achava, porque eu me escondia em cima da árvore, mas o que a senhora não sabe é que eu tinha um namoradinho na escola e gostava muito dele. – Oh! Menina danada! Como eu não percebi isso!
A menina olhou pela janela de madeira e viu o poço que ela puxava água para encher a tina que a vovó lavava roupa e perguntou: - Vovó! Quando a senhora chegava e me via tomando banho na tina de água, a senhora corria atrás de mim com a vara de marmelo, se a senhora me alcançasse, iria me bater com a vara de marmelo mesmo? - Claro que não, era só para te assustar! - Sabe vó! Uma vez eu vi um vulto me seguindo, fiquei com medo e saí correndo, mas não sei o que era! – Era a sua própria sombra, nunca deixe a sua sombra te assustar.
A menina puxou o vestido da vó querendo atenção e falou:
Vó! Vó! Vó! Uma vez eu e mais cinco crianças entramos em um quintal para pegar laranjas. Na frente da casa tinha uma placa escrita: “Saí e volto já” Nós não sabíamos que o dono do terreno era um louco. De repente ele apareceu com um machado na mão e nos deu o maior susto, jogamos as laranjas no chão e saímos correndo. Entramos em uma caminhonete que estava passando para nos esconder e fomos até a cidade fugindo do louco. Nunca mais fomos pegar laranja de ninguém!
De dentro da história a menina olhou pelo buraco da fechadura e viu o mundo real, então percebeu que tudo aquilo era lembranças do coração que se mantinham guardadas na saudade.
Ao perceber isso, o mundo real começou a puxá-la para fora da história fechando a porta novamente. Ela correu novamente até a porta e não conseguiu entrar, o máximo que conseguiu foi encostar o rosto na porta e olhar a história pelo buraco da fechadura. Ela olhava e pensava: Como pode um quintal com uma história tão grande caber no buraco de uma fechadura? Talvez essa seja a grande magia da história.
Paulo Ribeiro de Alvarenga
Criador de vaga-lumes
Iluminando pensamentos