A dois.

Bianca olhou para baixo e se sentiu um pouco enjoada. Tinha o coração disparado, a respiração ofegante e o corpo pingando de suor. O prazer do momento e a embriaguez talvez tenham sido demais para ela naquela noite.

Seu parceiro a olhava fixamente, ela sabia. Apesar de a escuridão lhe negar a visão.

Muitas vezes Bianca via coisas que seus olhos não podiam ver. Era quase como um sentido extra, só que fora de seu controle.

Levantou-se, separando os seus corpos lentamente. Não havia pressa. Não naquele momento.

Naquela noite, nada que ela fazia era brusco ou apressado. Era como se estivesse num dança coreografada. O sexo, o cigarro que fumava na janela, as palavras que dizia. Tudo seguia um certo ritmo. Tudo parecia ter um propósito maior.

Seu parceiro parecia enfeitiçado e ela se deliciava com a sensação de ter sua completa atenção.

Isso era muito raro.

Desde que se tornou adulta, ela percebia que pouca gente se interessava em ouvir e observar os outros.

As pessoas só queriam falar, só queriam ser ouvidas. Só queriam ser vistas.

Com ele não.

Ele parecia satisfeito em estar em sua companhia. Em vê-la. Em tocá-la. Em amá-la.

Ele também não tinha pressa. Cada gesto, cada afago era feito como se o tempo não existisse.

e o sexo... ah... o sexo era como devia ser. Nada sobrava. Nada faltava.

Acendeu um cigarro. Seu único vício.

Sem o cigarro, talvez, seu prazer não fosse completo.

Sentou-se na beira da cama e logo ele postou-se a seu lado.

Compartilharam o cigarro, apesar dele não fumar tanto quanto ela.

Bianca achava até que ele só fumava para acompanhá-la.

Era como se ele mostrasse que estaria com ela até em sua jornada ao câncer de pulmão.

Bianca riu desse pensamento e sentiu-se abençoada.

Sentiu-se a pessoa mais sortuda do mundo.

Quantos outros tiveram a chance de viver aquilo, como ela estava vivendo?

Ele interrompeu novamente os seus pensamentos quando deitou-se em seu colo e falou.

- Amanhã vamos a praia.

Aquilo soava estranho. Ambos odiavam sol. Eram noctívagos inveterados.

- Vamos? Ela perguntou.

- Vamos pra uma praia deserta qualquer.

- Ahn?

- Quero correr nu na areia. Quero fazer amor com você dentro d’agua.

Bianca riu, sem conseguir imaginar uma resposta.

- Quero fazer alguma loucura com você. Qualquer uma. Essa só pareceu a mais factível. Ele continuou.

- Vamos, mas preciso de protetor solar.

- Quem disse que precisamos ir de dia?

Ela sorriu novamente.

Beijaram-se.

Bianca sabia que não iriam à praia.

Acordariam tarde e ficariam na cama até a fome os obrigar a se levantar.

Comeriam algo e se deitariam novamente,

fariam amor, dormiriam, fariam planos.

O script sempre se repetia, mas cada vez um pouco diferente.

sempre um pouco melhor.

Estavam a salvo das hostilidades do mundo.

Despidos de qualquer roupagem que a vida os obrigava a vestir.

Pra ela, aquilo era a maior loucura

que podiam fazer.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 03/09/2016
Reeditado em 07/09/2016
Código do texto: T5748965
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