Proposta em Vias de Fato 26- A Viagem(continua
Como saindo de um cataclisma amoroso, olharam em reciprocidade... conscientes daquilo. Assumiram os resultados de estarem naquela cama repetindo o que por reiteradas vezes fizeram, a luta inconsequente luminosa.
Na literatura mundial encontramos tramas insolúveis que findaram somente com o elemento surpresa da morte provocada, romances como os das criações de Shakespeare:Romeu e Julieta, Hamlet, Sonho de Uma Noite de Verão, além daquelas ironias que marcaram narrativas romanceada quando casais no ápice da realização no amor, eram separados.
Pelo menos o amor entre Lídia e Oziel foi interrompido quando ela acordou naquela manhã de sexta-feira, igual todas as outras. Passou sentir impresso em seu íntimo a sensação que não a deixaria mais, de ter sido banhada por sentimento profundo de significação de ida, adquirido foi nas primeiras impressões tiradas do acordar daquele sono tão profundo, que indicava haver motivos da sua estada na vida que encontrava inserida. Não sabia como, mas passou pressentir que poderia existir algum nexo, liame com outras instâncias que desconhecia dentro de si, que de algum modo estava conectada a elas. Ficou um pouquinho mais na cama, os pais iriam passar o final de semana com ela.
Ainda no silêncio do tic-tac do relógio, ficou neste novo interior experienciado; imóvel na cama tentou relembrar o que havia sonhado...nada...Até que a cena com o sábio veio à mente, dizendo palavras sem abrir a boca, que olhava em seus olhos numa imensa sala, parecia ter livros em prateleiras, esforçou um pouco mais a memória, acabou recordando o que ele disse:
“Não direi o que sabe. Esquecido fora por Ti pela liberdade usada na eternidade. Seguir é o caminho da volta. Não esmoreça, o depurar do denso vem pela desistência de mantê-lo no patamar do real, apesar de necessitar viver como se fosse. Chegará no destino, estado de repouso, vida, realidade que vive refém da própria sombra pronta para ser revelada na câmara do seu coração, e aí apropriada. Resgatada à partir da titularidade que sempre lhe pertenceu, desde antes do tempo-espaço “não-ser”. “És”.
Lembrou ainda que chegou voar como pássaro mas não sabia como. Levantou da cama, sem pressa, afinal... De onde vinha este sentimento? De pertencimento, a leveza, como aquela da entrega incondicional, sentia realizada em algum canto da alma, tudo isto vinculado a uma causa que desconhecia.
Naquela manhã resolveu não ir trabalhar, mesmo sabendo que tinha assuntos importantes a tratar. O corpo pediu parada, sentiu no interior uma leveza que destoava com a rotina imposta, mereceria sair um pouco dos trilho que arquitetou para estar. Logo voltaria.
Joseph Campbell, dentre outras virtudes, escritor e conferencista americano, desenvolveu fantástica criatividade numa percepção consciente invejável entrando de forma profunda na análise da relação do homem com a Fonte Suprema. O autor do livro “Herói de Mil Faces”, disse um dia:
“Freud sugere responsabilizar nossos pais por todas as falhas da nossa vida, e Marx sugere responsabilizar a classe social privilegiada. Mas o único responsável é o próprio indivíduo, é o que há de proveitoso na ideia Hindu do carma. Sua vida é fruto do seu próprio fazer. Você não tem ninguém a quem se responsabilizar, exceto a você mesmo.”
“O amor não tem nada a ver com a ordem social. É uma experiência espiritual mais elevada do que aquela do matrimônio socialmente organizado.”
“Devemos estar disposto nos livrar da vida que planejamos para poder viver a vida que nos espera”
Não foi diferente dos estudiosos da mente humana a sua interação com o “lado de lá” que nunca se mostra, que leva o homem arranhar as possibilidades nas eras como se fosse objeto de uma paixão, mas que acaba quando torna rotina a certeza do insustento delas para apaziguar as perguntas sobre quem somos, para onde vamos, e o que estamos fazendo aqui.
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Final de semana, Lídia foi com o grupo de dança numa apresentação em restaurante espanhol. A casa estava fechada para comemoração de aniversário de um funcionário de uma empresa espanhola, concorrente da empresa que era sócia no mercado da construção civil no Brasil. Era um grupo de convidados formado por quarenta pessoas. Lídia chegou à caráter, com o sapatinho de boneca, preto, cabelo amarrado a laço, que combinava com o azul turquesa do vestido.A dança seria composta por ela e outra dançarina, e o músico tocando guitarra.
Naqueles dois dias posteriores ao sonho não pensou em Túlio, a não ser quando passou em frente a cantina que sempre iam aos finais de semana, soou como filme que foi real um dia. Na noite, estava disposta envolver-se como nunca na interpretação do gênero musical espanhol, quando entrou em cena no pequeno palco improvisado no centro do restaurante, não via pessoas, mas vultos que depois desapareceriam, tomando lugar, ela, a melodia e a sincronicidade com a música, formando o organismo, corpo e alma numa consciência dançante única.
Depois da apresentação da dança que ganhou vida na série de passos formando o espetáculo, o conjunto misturou-se entre os convidados e o aniversariante para terminarem a noite confraternizando o aniversário, participando do jantar e ouvindo ao fundo músicas variadas, deixando a escolha de quem interessasse, sozinho ou acompanhado, ocupar o palco para dança informal.
Lídia e os amigos foram cortejados pelos presentes que elogiaram a performance do grupo que desenvolveram em excelência a execução da dança. Em seguida, ocuparam os assentos à mesa para o jantar.