A ruiva do hospital

Minha avó estava internada no hospital e era a minha vez de passar a noite acordada naquelas cadeiras desconfortáveis de acompanhante. No outro dia, bem cedo, meu pai veio a me substituir, então fui até a lanchonete tomar um café e acabei comprando também um pedaço de torta de chocolate com recheio de côco. Saboreei cada pedacinho daquela fatia enquanto me sentada em uma das mesas, meu celular vibrou e pela primeira vez levantei o rosto, mas antes que eu checasse minhas mensagens, meu olhar foi capturado pela mulher mais linda que eu já tinha visto na minha vida.

Seus cabelos ruivos desciam pelo ombro e iam até o meio da sua blusa branca, decotada e de botão, as pernas cruzadas completamente cobertas por uma calça preta e uma sapatilha delicada nos pés. Em suas mãos estava um livro, cujo título eu não consegui ler, e às vezes levava sua mão esquerda no meio dos olhos para ajustar a armação vermelha dos óculos. Linda. Absurdamente linda. Eu deveria me levantar e andar até lá, dizer isso a ela! Seria uma boa ideia perguntar que ente querido estava hospitalizado? Acho que não...

Comi toda a minha fatia de torta lutando internamente se eu devia ou não ir falar com a ruiva, e quando finalmente me levantei enviando coragem a cada músculo do meu corpo, ela levantou o rosto jogando o cabelo para o lado. Eu me esqueci de respira, de me mover, de parar de olhar, cada fio de cabelo dela me convidava, me hipnotizava, então quando me lembrei de puxar o ar para meus pulmões, peguei o pequeno prato de porcelana e dando as costas para toda aquela beleza, o depositei no balcão. Quando reuni coragem para me virar de novo, ela havia sumido... A cadeira estava no lugar, nenhum sinal dos cabelos vermelhos pelo salão, nenhum livro sob a mesa. Esfreguei meus olhos e balancei minha cabeça, a atendente me perguntava se eu queria mais alguma coisa, mas eu só consegui balançar a cabeça negativamente enquanto pegava minhas coisas apressada, e com os olhos ainda arregalados, corrida de volta ao quarto do hospital para trocar de lugar com meu pai, uma ultima olhada sobre o ombro comprovou que a belíssima ruiva não estava mais lá, ou talvez, ela nunca tivesse estado.

Bianca Gonçalves
Enviado por Bianca Gonçalves em 15/08/2016
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