Porto de Moz
O barco apontou no horizonte aumentando a movimentação na margem do rio. As pessoas se achegavam mais procurando arrumar as bagagens o mais perto possível, eram famílias inteiras, parecia ter mais crianças que adultos. A julgar pela bagunça, a hora já avançada tornara inquieta a longa espera que finalmente terminara com a aproximação da embarcação. Os carregadores mais espertos já seguravam os volumes dos passageiros mesmo sem nenhuma solicitação e no anseio do lucro amontoavam caixas sobre a cabeça ocasionando vez por outra a queda de um ou outro volume que para desespero do proprietário às vezes caia na água, de onde eram resgatados com rapidez, sem maiores prejuízos, fato que acabara de acontecer com a mala de uma senhora que ainda contrariada, tirava uma a uma as roupas umedecidas ajeitando-as ao sol para secá-las.
Aquela seria sua primeira viagem, o semblante em seu rosto, deixava escapar um mix de curiosidade e medo, enquanto subia a rampa de acesso. Sabia que seria uma longa viagem, mas na bagagem levava o necessário, além de acessórios para uso feminino, não esquecera o remédio contra o tão temido enjôo.
A calça jeans bem colada delineava seu corpo desenhando os detalhes, as pernas longas e bem torneadas, eram duas colunas a segurar com firmeza aquele bumbum avantajado guarnecido por um largo quadril, a cintura muito fina dava aquela morena alguma coisa de especial que lhe destacava entre as mulheres que comumente passavam por aquela embarcação.
Não lhe faltou quem lhe oferecesse ajuda, logo conseguiu um lugar privilegiado para atar a rede amarela com belas varandas, bem diferente das demais que se enfileiravam lado a lado.
A tripulação era bem resumida, um tinha a incumbência de agasalhar os passageiros com suas respectivas bagagens, outro que fazia a cobrança e se encarregava também de chamá-los em seu destino, o piloto responsável pela condução, e um cozinheiro com seu ajudante que fazia o trabalho de servir as pessoas com os bandecos que eram encomendados com antecedência.
Alguns preferiam não comer durante a viagem, enquanto outros se contentavam em devorar maços inteiros de cigarros indiferentes ao incômodo causado pela fumaça e o forte cheiro do tabaco.
O clima abafado mantinha o calor em níveis acima do suportável, o que era amenizado pelo limitado balançar das redes armadas muito próximas uma das outras.
Aos poucos todos iam se acomodando em seus lugares, alguns até já cochilavam, ao sabor da calmaria que favorecia ao sono, afinal, dormir era o programa mais comum entre todos, os que não conseguiam, ficavam impacientes e mais ansiosos com o passar do tempo e o balanço constante proporcionado pelo deslocamento da água ao ser cortada pela quilha do barco.
Não era o ambiente ideal para uma história de amor, mas se encontravam naquele ambiente, os elementos essenciais para um romance em potencial, o desejo, o tempo e o vento que fazia questão de levar às narinas do Magrão o cheiro delicioso daquela estranha diva que lhe despertava intensamente a vontade de estar naquela rede...
Paulino Lima