QUARTOS FECHADOS
- Este quarto cheio de poeira é muito pequeno para duas pessoas! Simplesmente não funciona!
Esta era frase mais usada por Dona Margot, desafiando o seu marido sempre na hora da faxina da casa. E nesta frase Dona Margot pensa quando vai dormir sozinha depois que o marido morreu. E ela também questiona: O que é um quarto disfuncional? Quando o quarto poderia deixar de funcionar na presença do marido, o homem com quem ela esteve casada por quarenta anos? Como seria esta ordem? A saída do marido para o aspirador em pó entrar através de suas depuradoras mãos de dona de casa? Como pode repetir tanto tal frase, se os dois dormiam na mesma cama, no mesmo quarto compacto?
- Este quarto cheio de poeira é muito pequeno para duas pessoas! Simplesmente não funciona!
Dona Margot repetia esta frase nos dois dias de faxina por semana, porque o marido, dentro do quarto nos seus sábados de folga, parecia provocar o ronco do aspirador acionado no mais alto volume. O volume do aspirador queria dizer por ela que a máquina esperava ser efetiva na limpeza e o marido, sobretudo o marido de pijama, apenas atrapalhava o andamento do quarto. O esposo saia rumo ao sol do quintal e o aspirador entrava no dormitório porque ele sim, o aparelho, órgão à disposição, funcionava. Então outras frases apareciam:
- Eu preciso respirar melhor... tirar toda a poeira! Este quarto é muito pequeno para duas pessoas! Simplesmente não funciona!
Hoje são raras as faxinas. Dona Margot dorme a noite quase sentada - quatro travesseiros atrás das costas – e com a tevê ligada, porque desde a morte do marido, o quarto quer parar de funcionar. Dona Margot não entende; naquele novíssimo ambiente imenso e operacional, somente a tevê funciona. Mas qual a resposta? “O que é um quarto disfuncional? Seriam as paredes desligadas?”
Dona Margot quer dizer algo para o marido ausente, mas não sabe onde apertar os botões porque a inquietação cresce todos os dias.
- Amor, desculpe a rabugice, o aspirador de pó, a máquina de lavar, a centrifugação e todos os interruptores do mundo.
DO LIVRO: TOUROS EM COPACABANA