NASCENTE

🎼Clareia manhã

O Sol vai esconder

A clara estrela

Nascente

Pérola do céu

Refletindo

Teus olhos

A luz do dia a contemplar

Teu corpo

Sedento

Louco de prazer

E desejos

Ardentes🎶

Os primeiros raios do Sol entravam tímidos através da grade na janela. Cantava deitado, sem emitir nenhum som, enquanto as lágrimas rolavam como um rio pelos seus olhos. Vivia de novo aquele doce amanhecer, a luz iluminando o corpo dela como se o acaricia se. De uma forma tão pura e singela que o fazia se consumir de desejo novamente, mesmo exaurido. Aquele foi o ápice de um noite incrível. Festa da sua turma da faculdade no apartamento dela. Os olhares furtivos entre as brincadeiras e conversas, os beijos e carícias roubados nos momentos de distração do pessoal. Não precisaram beber nada pois já estavam embriagados de amor. Lentamente seus amigos foram capotando um em cada canto e eles foram fingir dormir na sala, onde se entregaram um ao outro, cheios de medo e excitação.

Nunca seria assim novamente. As exigências do seu casamento e de seu filho e as da doença dela, síndrome de Crown, nunca permitiram que fossem plenamente um do outro. Era um eterno terminar que parecia apenas servir para dar pretexto para maravilhosas últimas vezes. Quando finalmente tiveram forças para sustentar a separação, a surpresa. Apesar de todas as contra indicações e contraceptivos, ela estava grávida. E, angustiantemente, contra todos os conselhos médicos e súplicas dele, foi adiante com a gestação.

Já se escutavam os primeiros sons produzidos pelos guardas. Alguns colegas de cela, assim como ele, há muito tempo estavam acordados. Mas não se podia levantar antes ou dormir depois da primeira contagem. Esta seria daqui há poucos minutos.

Como sempre tentou evitar que a memória deste dia voltasse, sem sucesso. A ligação dizendo que ela fora internada com hemorragia, a luta desesperada com a sua esposa para poder sair de casa, a tentativa dela de ameaça-lo com uma faca que terminou com aquele golpe na barriga dela e o sangue e as entranhas dela em suas mãos, a ligação para a emergência e a correria desenfreada. Foi preso no hospital, enquanto recebia a notícia da morte da amada e da filha recém -nascida por complicações no parto. A razão lhe dizia que seus problemas eram muito maiores. Tudo estava perdido, seu filho, sua carreira, tudo. Mas enquanto era conduzido para a delegacia só conseguia reviver aquele amor, sem parar, sem parar, sem parar...

-"Primeira contagem!", gritou o carcereiro. Todos se levantaram ao mesmo tempo. No fundo alguém falou com alegria: "Finalmente! Dia da visita!" É, legal. Nesta semana era pagamento e a sua esposa prometera trazer seu filho, também um pacote de Marlboro e doce de leite. Nunca faltará em nenhuma visita.

Diogenes R Cardoso
Enviado por Diogenes R Cardoso em 04/08/2016
Reeditado em 01/10/2024
Código do texto: T5718724
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