Uma manhã

Nós nos conhecíamos a pouco tempo, mas ela estava tão mal que nesses poucos dias acabou me contando muito de sua vida. Ela tinha acabado de se separar de seu ex-marido e me contou em detalhes o dia em que ele lhe informou da separação. Enquanto ela contava, consegui imaginar claramente ela sem derramar uma lágrima pegar suas roupas enfiar em um saco e sair para casa da mãe. Nessa noite ela me disse que não conseguiu dormir e que nos poucos momentos que cochilou sua mãe estava ali lhe segurando a mão (Ao ouvir isso não pense que ela é uma mulher fraca, na verdade se você pensou isso é porque você nunca sofreu a perda de um amor).

Ela foi me contando sua história e eu não lhe dizia nada, sentia que ela precisava verbalizar mais uma vez tudo que aconteceu desde aquele dia. Mesmo compreendendo exatamente eu permaneci calada. Quando ela levou a mão no peito e falou dar dor que sentiu eu sabia que ela se referia a uma dor física e não metafórica. Ela continuou, me contou dos dias seguintes em que teve que voltar para casa e diferente do que havia pedido ao seu ex ainda encontrou roupas dele pela casa, misturadas com as suas. Ela silenciou e eu que tinha os olhos em meu copo lhe olhei... seus olhos brilhavam molhados pela água do choro, mas ela sorria como quem tenta disfarçar que não está doendo, segurei sua mão e ela sorriu um pouco mais e ajeitou o óculos com a outra mão. Então a soltei e ela disse:

- Você quer ir lá para casa?

Eu topei, passamos em um posto e compramos umas bebidas, uns petiscos e um sorvete. Sua casa era muito bonita e acolhedora. Ela não acendeu muitas luzes apenas as suficientes para pegar os copos e uns potinhos para os salgados, sentamos em seu tapete próximas da mesinha de centro. Ela me contou de alguns paqueras novos, me mostrou fotos e áudios, rimos e bebemos ainda mais. Ela era divertida, bonita e muito talentosa, era difícil compreender por que aquele cara a traiu, mas o amor e o mal caratismo são coisas inexplicáveis...

Já um pouco bêbadas ela pegou o violão e tocou um pouquinho de uma música espanhola que havia aprendido, era lindo... Levantei e disse que ia pegar o sorvete... sua dor me comovia e seu jeito me aproximava... meu celular tocou e estava perto dela, corri para atender, mas apenas silenciei... lhe dei uma colher ela pôs o violão de lado e começamos a comer falando de coisas um pouco mais leves. Ela levantou e pegou um vinho que ela tinha na geladeira e quando voltou com as taças perguntou:

- Quem era? – Olhando para o celular que estava na minha mão, eu apaguei a luz do celular e disse:

- Ninguém.

Ela não insistiu e voltamos ao vinho. Ela se encostou no sofá e e segurando minha mão continuou me contando alguma outra história até que dormiu. Eu por algum tempo permaneci com minha mão na dela, como sua mãe havia feito na primeira noite... mas por fim me levantei e fui até a cozinha guardar o sorvete. Do lado de fora do apartamento começou a chover, me encostei na janela e a olhei de longe tomando meu vinho. A casa estava escura e só o que a iluminava era a luz que entrava da janela. E a luz do meu celular que piscava jogado no tapete. Eu a olhei pensando se ela precisaria de mim e como seria acordar sozinha nessa casa... Eu na verdade me identificava muito com ela e sua fragilidade me cativavam. Ela parecia forte por fora, mas eu sabia o que significava estar destruída por dentro... meu celular tocou novamente e eu fui atender dessa vez com mais calma, caminhei até o balcão onde estava minha bolsa enquanto atendia:

- Oi amor! – Do outro lado da linha ela me perguntava se eu dormiria em casa essa noite.

Eu assinando o bilhete que acabara de escrever, lhe disse que sim e que já estava saindo. Ela me disse que iria me esperar para dormirmos juntas, mas eu sabia que ela estaria cochilando no sofá quando eu chegasse, mas mesmo assim disse:

- Viu amor. Te amo!

Desliguei e deixei o bilhete em cima do balcão.

Na manhã seguinte Lina acordou e leu em meu bilhete:

“Seja feliz, porque você merece! E essa dor irá passar e lhe tornará mais forte.”

Já Marcela nessa manhã acordou na nossa cama coberta pelo nosso delicioso cobertor enquanto eu lhe trazia seu café.

- Bom dia, amor. – Ela sorriu.

- Bom dia, mo. – Eu respondi...

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Enviado por IP em 26/07/2016
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