Amor imortal...
Anda apressado, já de madrugada, insistentemente olha ao redor pressentindo uma companhia, não sabe onde está, despertara estirado numa praia, não se lembrando de nada, a não ser a imagem de uma mão estendida, enluvada num cetim branco a lhe acarinhar os cabelos.
Ainda pisando na areia fina à beira-mar, olha a lua cheia e o céu estrelado, para por instantes, passando as mãos pelo corpo, buscando algum ferimento e nada, estava limpo a não ser a umidade da brisa do mar em suas roupas, camisa azul clara de mangas compridas, com abotoaduras douradas, gravata borboleta lilás dependurada e botas ainda lustradas.
Enxerga ao longe uma luz fraca, para onde corre, olha por sobre o ombro, agora certo de ter alguém ao lado, já próximo do portão de entrada um cachorro grande e preto late e pula em sua direção, não é bravo, sabe que o bicho o conhece pelo jeito que o cheira e lambe suas mãos.
Chega à porta, resvala na maçaneta e percebe não estar trancada, adentra uma sala grande e vazia, pega dois candelabros com tocos de velas acesas e vê ao chão dois botões de rosas vermelhas, ao lado uma luva de cetim branca e na parede uma pintura.
Aproxima a luz, quer melhor enxergar essa imagem, com os dedos acompanha as linhas do rosto de uma bela jovem, de traços orientais, cabelos longos e escuros, usa em uma das mãos uma luva branca acetinada e traja um vestido branco, volumoso, um tipo de roupa que o remete a um século já passado, com mais atenção vê o ano da obra, 1811, em seguida lê a assinatura do autor, é sua.
O amor intocado é energia pura que resiste ao tempo e nunca será passado.