O Império das Paixões

Marcelle Jossart tentou não deixar transparecer na voz a tensão que sentia, mas acabou por trair-se quando a ligação foi completada após dois toques:

- Carla? - Perguntou ansiosa.

Do outro lado da linha, a voz de Carla Feigenspan soou relaxada, brincalhona até:

- Marcelle? Ouvi dizer que estava em Paris. Por que não veio me ver?

- Sim, eu... estou em Paris. Mas não sabia se seria conveniente que nos víssemos.

Carla Feigenspan pareceu divertir-se:

- Está falando de nós ou da sua ida para o Instituto Oceanográfico Pedersen?

Jossart suspirou. Aquilo ia ser mais difícil do que pensara.

- Um pouco de cada coisa... não sei se está com alguém e...

- Não sabia se seria conveniente - ecoou Feigenspan num tom levemente zombeteiro. - Essa é bem você, Marcelle. Mesmo se eu estivesse com alguém, isso não me impediria de encontrá-la. Temos assuntos profissionais a tratar.

Jossart mordeu os lábios para não verbalizar a pergunta que gostaria de fazer. Prosseguiu, em tom formal:

- Sim. Temos assuntos a tratar. E é exatamente por isto que estou ligando. Recebi uma proposta... de um grupo canadense... ou pelo menos assim se apresentaram. E envolve o Pedersen também. Gostaria de conversar a respeito com você.

- Podemos conversar... num jantar. Eu cozinho, ou quer ir para um daqueles seus bistrôs da Rive Gauche?

Jossart sentiu seu coração aos pulos, mas conseguiu controlar-se:

- Acho que poderíamos ir ao La Maison de Zimmermann...

- Zimmermann. Parece bom. Nos encontramos lá ou quer que te apanhe? Onde está hospedada?

Jossart sentiu as faces em fogo.

- Eu estou no "Das Frankenreich". Mas nos encontramos no Zimmermann mesmo, Carla... às 20 h?

A voz em seu ouvido soou quase reticente:

- Às 20 h? Sim... não é muito tarde.

- Muito tarde?

- Para uma caminhada às margens do Sena depois do jantar - riu-se Feigenspan.

E num tom que não admitia contestação:

- Eu deixo você no hotel depois.

Jossart sentiu as pernas bambas e respondeu, com um fio de voz:

- Sim, Carla... como quiser.

[12-07-2016]