Na edição do Jornal Província da semana passada comecei a contar a historia de um personagem real. Narrar a história da forma com que ela me foi narrada pelo próprio.  Então aqui segue a segunda parte. Conclui-la-ei na próxima edição.
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Depois que Jorge saiu do presídio e decidiu se internar para tentar se livrar do vício antes de reencontrar sua família, as coisas voltaram a dar certo para ele. Não demorou muito para que ele se sentisse revigorado e pronto para o mundo.
A verdade é que mesmo com as energias renovadas ele não conseguiu descobrir o paradeiro da esposa e da filha. Conseguiu algumas informações de que elas estavam morando uma cidade próxima. Foi até lá, mas não as encontrou.
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Cada vez que estava próximo de perder as esperanças e cair de novo no vicio, lembrava o meigo sorriso da sua filha e isso lhe dava forças para seguir lutando. Demorou um tempo, mas com a ajuda do pastor que gerenciava o retiro onde ele tinha se tratado, conseguiu um trabalho.
O destino prega às vezes peças que nós mesmos não sabemos identificar. Coube ao novo proprietário da fabrica de móveis que um dia já fora sua, lhe dar um emprego. Ele conhecia o oficio e assim foi vivendo. Morava nos fundos da igreja e todo o dinheiro que podia guardava. Seu plano era somente de ir para Minas Gerais e procurar os parentes de sua esposa para conseguir alguma informação.
Foram quase um ano quando ele contabilizou já ter quantia suficiente para voltar.
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Voltou para sua cidade de origem.  E lá descobriu depois de algum tempo que na verdade a sua ex-mulher estava no Rio Grande do Sul, e então seguiu viagem.
Na cidade indicada (ocultada aqui) quando chegou de ônibus depois de muitas horas de viagem se hospedou em um hotel.  Descobriu facilmente onde elas moravam, mas descobriu também que sua esposa, agora não era mais sua, ela estava com outro homem.
Ele já imaginava isso, não era inocente. O que ele jamais imaginou foi que o novo marido da sua mulher era o seu ex-sócio.  Quando ele viu os dois juntos, avistando de longe, pela primeira vez teve vontade de fazer mal a alguém. Pensou que poderia matar os dois. Pensou que poderia esperar eles dormirem e colocar fogo na casa, mas ao mesmo tempo assaltou-lhe o pensamento de que sua filha poderia morar naquela casa.
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Ele voltou pro hotel vagabundo onde ele estava hospedado e ficou pensando na vida. A noite saiu sem rumo  e foi caminhar.  Até ele se impressiona em como as pessoas, mesmo sem conhecer ninguém conseguem drogas com tamanha facilidade. No final daquela noite já não voltou mais para o hotel.
Uma semana depois ele não tinha mais dinheiro. Estava imundo, jogado na rua, feito um bicho. Em uma semana. Somente isso, todo o sacrifício daqueles anos anteriores tinha virado fumaça, ele voltou a ser um ninguém jogado na rua.
Aquele desejo profundo de abraçar a filha se esvaiu do nada. Era como se seu corpo tivesse em outro lugar. Vivendo em um mundo paralelo, livre de dor e sofrimento sem a menor noção da realidade que o cercava.
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Às vezes e somente às vezes ele se lembrava da filha, e foi numa dessas lembranças que ele divagando num abismo desconhecido, acabou na frente da escola dela no horário da saída. Ele a chamou pelo nome e ela se virou. Ele riu para ela, tinha certeza que tinha rido, mas ela correu. Ele queria gritar que era seu pai, mas ela seguia correndo, ele então começou a correr também. Ela entrou em uma loja desesperada e ele tentou entrar atrás, mas foi recebido por um murro embaixo dos queixos. Caiu, sentiu que estavam lhe chutando, e então ao olhar para cima viu ele. O seu ex-sócio ali lhe batendo.
Ele perdeu razão e voou sobre ele. Não lembra bem certo o que aconteceu ou talvez lembrasse e não quisesse contar, mas o que relatou foi que acordou no hospital com uma algema no pulso.
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O polícia que fazia a sua escolta lhe contou que ele  tinha matado a facadas o seu ex-sócio. Não se lembrava de ter ao menos uma faca, quem dirá ter matado alguém com ela. Na delegacia contou a sua vida. Lembrou o que podia e por fim acabou preso.
No julgamento mais de um ano depois, ele viu sua mulher sentada junto com outros familiares do seu ex-sócio. Do seu lado; ninguém que ele conhecesse. Acho que a filha pudesse aparecer, mas ela não apareceu.
Seu advogado,  um jovem que lhe defendia gratuitamente não era ruim, mas acabou condenado por mais 22 anos. Era um homem de mais de 40, condenado por mais 22 anos pelo segundo homicídio. Era desesperador. Sua vida ali tinha terminado.
Continua na próxima edição....
Jonas Martins
Enviado por Jonas Martins em 09/07/2016
Reeditado em 09/07/2016
Código do texto: T5692576
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