"Fica comigo"!

“Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor, se não fossem ridículas”.

Há cinco anos,carregava em meu dedo anelar ,na mão esquerda,um anel,que só hoje entendo ,que era uma aliança. Quando conhecia novas pessoas,ou esbarrava em conhecidos ,nas ruas, quase sempre recebia felicitações ,em função daquele “anel”,e claro,agradecia.Meu ego inflamava, meus olhos brilhavam e minha vida , tinha mais cor.

Passaram-se três anos, nos tornamos dois desconhecidos, lendo o mesmo jornal,na porta da cozinha. Então, tiramos as alianças , pegamos a caneta, e assinamos o divórcio.

Casadinhos, flores na lapela,véu e arroz cru, são símbolos de uma celebração.Mas o que simboliza de fato um casamento, é o que há por trás do véu da noiva, é o que há entre o cruzar de mãos do noivo,é o que vai acontecer,quando as flores do buquê murcharem.

Essa semana reencontrei um homem, que tem o dom de tornar o meu dia mais vivo,mais verde.

Após um abraço apertado e cheio de palavras(não ditas), nos olhamos , ele com os olhos transparentes,eu com minhas lentes negras,tentando guardar o brilho que havia por traz delas. Sentamos em um banco, e entre o som da música e a brisa do rio, ele disse que havia marcado a data de seu casamento. Disse isso , sem sorrir,sem apertar as mãos e segurar meus punhos, sem olhar para aliança, sem suspirar, sem entender.

Em uma fração de segundos,lembrei de quando fui deixada , meu ex-marido tinha um olhar de decepção e ao mesmo tempo de perda. Lembro-me de ter pensado ,naquela noite,em tudo o que eu poderia ter feito diferente.Mas a sensação de abandono ,nos impede de ver o óbvio.

Quando minha alma voltou ao meu corpo, continuei a conversa.Fiquei lá, ouvindo,ouvindo…às vezes só via sua boca se mexer,em outras,via minha boca calar a dele.Queria leva-lo dali, queria ter chegado mais cedo,mais exatamente ,há oito anos atrás. Queria poder dizer : “fica comigo”.

Pior do que querer tê-lo comigo,é saber que ele também quer.

E,da mesma forma , que nos abraçamos ,também ,nos despedimos.Tentei mais uma vez,sentir seu cheiro,para guardar comigo.E enquanto ,ele segurava a ponta do meu cacho ,passando em seu rosto, minhas lentes escuras caíram,e ele viu o brilho dos meus olhos. Então, calei sua boca,antes que dissesse “não”. Entre a culpa e desejo,de estar ali,tão pertinho de mim, tão perto,ao ponto de me sufocar , ele pegou minhas mãos,e, por alguns minutos ,o tempo parou, tudo fez-se silêncio , e nada foi dito.

E assim como o rio, retomamos o nosso percurso,cada um para o seu lado.

Não sei se ela usará um véu, e ele,flor na lapela.Não sei o que acontecerá ,quando as flores do buquê murcharem. Não sei se suas mãos ficarão suadas,ao cruza-las. Não sei , se ele entenderá que aquele anel é uma aliança.Não sei o que acontecerá,quando a porta da igreja fechar, quando os convidados derem suas felicitações,quando a música acabar.

Apenas sei, que um pedacinho de mim ,está indo embora.

Acho que ,no fundo, as histórias de amor não teriam graça ,se tivessem sempre um final feliz.

Luciana Tapajós.