'O amor e o tempo'

...até que o marido certo dia após o trabalho chega em casa e pede para que Helena sua esposa, pare o que estava fazendo e que viesse a sentar-se no sofá na sala com ele, pois precisavam conversar.

Helena se empalidece, mil coisas passam em sua mente...

- Será que vai reclamar de suas roupas, nos últimos dias tenho me desleixado um pouco...

Bem capaz dele reclamar que a comida em sua marmita estava sem sal, pois me esqueci completamente!

Ou talvez das folhas secas caídas e amontoadas no jardim, havia me esquecido disto também!

Será que ele já percebera minha falta de atenção e vontade com suas coisas e os afazeres da casa?

Seja o que for, que fique bem claro que ele é que mudou assim tão repentinamente, até parece outro homem com o qual não me casei.

O marido, pegando nas mãos de sua esposa, à conduz até a sala e se sentam...

Com suas mãos segurando os da esposa ainda, passou-se um breve momento de um olhar perdido num ponto fixo distante, então se recompôs, olhou dentro dos olhos de sua esposa e finalmente disse:

- Sabe Helena, eu não tenho lhe tratado como realmente mereces. Você sempre fora uma mulher companheira, mãe zelosa e maravilhosa, uma dona de casa exemplar sempre cuidando das coisas em seus mínimos detalhes, agradeço lhe por isso e por muito mais... Mas, eu não aguento mais e preciso lhe explicar o -porquê- dessa minha atitude em lhe tratar como se fosse, uma, empregada da casa ou menos que isso ainda!

Me perdoe, mas, eu precisava fazer você sentir raiva, ódio, nojo, e que fosse perdendo o interesse por mim... Na verdade eu precisava fazer você sentir o que fosse para poder afasta-la de mim, para joga-la quem sabe, até em outros braços, mas eu não não consigo mais fazer isso, me dói ver você assim, então preciso lhe falar e contar toda verdade...

Helena parada ali só ouvindo cada palavra, estava tão compenetrada, apenas ouvindo seu marido falar e da maneira como ele falava parecia que o calor daquele amor de quando se conheceram estava tão vivo em seu coração palpitando aceleradamente que ardia em seu peito daquele amor que estava subindo cada vez mais.

Sim, havia se ascendido novamente os desejos mais profundos que agora, agora pulsava em seu peito e já quase querendo saciar aquele gosto que sente em sua boca lembrando dos tempos em que passavam noites após noites de gemidos nos ouvidos um do outro e, então, seu marido diz:

Perdoe-me meu amor, só me restam seis meses de vida, estou com câncer!!

A esposa, apertando-lhe suas mãos com toda a força que lhe podia, inerte quase sem respirar, ficou a lhe escutar....

- Quando descobri que estava doente, fiz de tudo para que você tomasse raiva por mim e que se afastasse, me entreguei ao álcool tentando amenizar este fardo que me corrói só de imaginar você sozinha sem alguém que te faça companhia.

Me desculpe meu amor, não queria lhe fazer nenhum mal...

Helena, já de lágrimas a escorrer pela face, se joga em seus braços e o abraça tão forte como pode. E assim, eles se amaram...por aqueles poucos meses que haviam se tornado para eles mais que uma vida inteira...