Flor que canta
Ela era a música que tocava a todo momento em meus ouvidos. Ela era uma flor, uma flor que cantava, com aquela voz de algodão. Todas as manhãs vinha me acordar, dava-me um beijo na testa e outro na boca. Todos os dias ela falava que me amava, dizia que era para eu não esquecer, e de fato, nunca consegui esquecer aquelas tão belas palavras proferidas. Ela era suave, sincera, gentil, mas era frágil, ah, sim, muito frágil, tinha várias doenças e vivia de cama. Quando ela estava bem, me sentia em um dia de verão. Quando estava ruim, me sentia perdido em uma nevasca, sem saída. Meu maior medo sempre foi perdê-la, pois sabia que sem sua presença eu já não era nada.
O que sou hoje, então? Um nada? É, acho que sim.
Hoje não tenho mais seu sorriso, seu abraço, sua presença. Hoje já não a tenho, a vida me tirou, e ao fazer isso me jogou em um abismo. Tudo passou a ficar escuro, triste e barulhento. Minha mente nunca me deixou descansar. Ela levou toda a alegria, deixou só dor, uma dor que parece não ter fim. Mas, ela era uma flor, uma flor que cantava! Eu não deveria ter confiado que seus espinhos não me machucariam, que suas pétalas não murchariam, que seu cheiro doce jamais acabaria. Eu não devia ter acreditado!
Hoje sou um homem acabado, devastado, sem um coração e um amor. Sou um homem magoado por uma flor, que já não é nada além de pó.
Eu não devia ter confiado.
Eu não deveria ter arriscado.
Eu não deveria.
Não deveria ter me apaixonado, porque quando isso acontece estamos condenados.
Se apaixonar é um sentença de morte!
Corra.
Corra.
Olhe para quem sou hoje por causa da paixão.
Corra.
Corra, meu caro.