Esperando Por Você
Mais uma manhã nublada e fria, típica de outono, em que Helena se colocava em pé. Olhou para o lado da cama e deixou que uma lágrima corresse por seu rosto ao ver que o pesadelo ainda não tinha acabado. Há duas semanas ela estava sem o homem que lhe havia conquistado, e a qualquer momento ela poderia perdê-lo por definitivo.
Imaginar que teria a triste noticia lhe dava um nó na garganta. O café da manhã já não era mais o mesmo, a vontade de se maquiar já caía em desuso. Penteando o cabelo a mulher se olhou no espelho e observando seus olhos vermelhos desabafou:
- Até quando? Até quando viverei com essa dor?
Rafael, seu marido, havia sofrido um grave acidente de carro, o qual causou o seu coma. Os médicos já evitavam dizer que ele sairia daquela situação, mas Helena alimentava suas esperanças.
Durante o caminho do hospital ela imaginou que seria surpreendida. Pensou que veria o motivo de sua felicidade bem, acordado, pronto para sair daquele lugar, mas logo se lembrou do que sua amiga havia lhe dito: "Dificilmente ele se salvará, nem os médicos acreditam nisso. Deixe essa história para lá e siga a sua vida. Outros amores podem estar no seu aguardo". Mas ela não queria outros amores, aquele lhe satisfazia, e ela não desistiria dele tão facilmente, mesmo que isso levasse anos.
Assim que chegou ao hospital correu ao quarto de Rafael e o encontrou nas mesmas condições: olhos fechados, sem movimentos, vivo por causa de aparelhos. Logo o médico apareceu.
- Dona Helena, não tenho boas notícias.
- Diga, doutor.
- Durante a noite seu marido teve uma súbita parada cardíaca, a qualquer momento...
- Não termine - ela não queria ouvir a verdade -, posso ficar alguns minutos a sós com ele?
- Como quiser.
As mesmas lágrimas de noites e noites rolaram pelo rosto de Helena. Ela se aproximou de Rafael e vendo-o tão indefeso foi tomada por uma tristeza profunda. No fundo ela sabia o que o médico queria dizer, mas ela não podia acreditar naquilo. Ela não imaginava a sua vida sem Rafael. Não fazia sentido viver sem um motivo; Rafael era o seu motivo.
Passando a mão pelo rosto pálido do esposo, Helena deixou que as palavras escapassem em meio as lágrimas:
- Tantas promessas, tantos sonhos, tantos planos. Pensávamos que tínhamos uma vida inteira pela frente, mas veja só o que o destino nos reservou. Já pedi tanto para que você voltasse a mim, mas minhas preces parecem não ter efeito. Ainda essa noite sonhei contigo, estava tão bonito... mas acordei - o choro lhe fez dar uma pausa -, acordei e vi que era apenas mais um sonho. Virei para o lado e não te encontrei... você não estava lá para me dar o bom dia tão especial... não estava lá para me acordar com aquele sorriso encantador. Será que não percebe a falta que me faz? - ela se deitou sobre o peito do marido -. Aos poucos minha alma se desfalece dentro de mim e só você poderá revivê-la...
As palavras lançadas ao vento não tiveram efeito, Rafael continuava inanimado.
De repente algo angustiante: os aparelhos indicavam que o homem já não respirava mais e nem seu coração dava sinais. Ele já não tinha mais vida.
Com os olhos embaçados pelas lágrimas e tomada por um desespero enorme, Helena correu pelos corredores do hospital em busca de ajuda, mesmo sabendo que seria em vão, mas ela precisava lutar até o último segundo. Ao encontrar o médico se pôs de joelhos e suplicou com toda a sinceridade:
- Salva o meu marido!
O médico já estava entendendo tudo. Com cordialidade envolveu a mulher em seus braços e juntos se encaminharam até o quarto daquele que simplesmente significava tudo para Helena. Adentrando o recinto se espantaram ao ver a figura de um homem sentado na maca com um sorriso infantil.
- Helena, eu estava esperando por você!
Para a mulher fora a melhor frase que escutara em toda a sua vida. Aquele sem dúvida foi o melhor presente que recebera em toda a sua existência: a segunda chance de amar.